O BRINCAR COMO PROCESSO TERAPEUTICO

Rejane da Silva Vasconcelos. 1

Resumo
O presente artigo é resultado de um trabalho de pesquisa bibliográfica sobre a importância da atividade lúdica, do jogo e da brincadeira, como um instrumento pedagógico e psicológico. Fica claro através de diversos autores pesquisados, que o brincar é terapêutico e pedagógico, facilitando a aceitação e a aproximação dos indivíduos, que brincam juntos criando um clima de harmonia, facilitando a comunicação e estabelecendo a convivência, superando desafios e dificuldades através de um espírito lúdico. Tendo como objetivo discutir as contribuições que a brincadeira pode oferecer à aprendizagem e ao desenvolvimento infantil. Para tanto, primeiramente é feita uma discussão sobre a utilização das definições dos termos brinquedo, brincadeira e jogo. A brincadeira é vista na literatura como um recurso que pode estimular o desenvolvimento infantil e proporcionar meios facilitadores para a aprendizagem. A metodologia foi uma pesquisa qualitativa como forma de aproximação e compreensão do universo de pesquisa, no intuito de conhecer os significados da importância deste tema. O que se pode concluir é que, utilizar a brincadeira como um recurso escolar, terapêutico é aproveitar uma motivação própria das crianças para tornar a aprendizagem mais atraente.


Palavras?chave: Atividade lúdica. Facilitação. Instrumento pedagógico e psicológico. Aprendizagem

Escrever este artigo me proporcionou a oportunidade de perceber e repensar o "brincar" e suas implicações culturais, psicológicas e sociais no processo de desenvolvimento do indivíduo, bem como, a levantar um questionamento pelo qual me guiarei no decorrer deste texto: e afinal, por que é tão importante brincar? O presente estudo vai tratar de temas relevantes para o desenvolvimento mental e intelectual das crianças, articulando uma inter-relação entre eles. A questão do resgate do brincar e suas implicações, bem como utilizá-lo como um instrumento pedagógico e psicológico. Tendo como objetivo discutir as contribuições que a brincadeira pode oferecer à aprendizagem e ao desenvolvimento infantil

Para a criança, o brincar é a coisa mais séria do mundo, tão necessária para o seu desenvolvimento quanto o alimento e o descanso. É o meio que a criança tem de travar conhecimento com o mundo e adaptar-se ao que a rodeia. As brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida do ser, desde os mais funcionais até os de regras, mais elaborados que são os elementos que lhes proporcionarão as experiências, possibilitando a conquista da sua identidade. As brincadeiras oferecem as crianças no contexto escolar influências e características para o desenvolvimento infantil e à aprendizagem, assim o brinquedo pode ser entendido como um suporte para a brincadeira, sendo portanto, a brincadeira a descrição de uma atividade não estruturada, que gera prazer, que possui um fim em si mesma e que pode ter regras implícitas ou explicitas.Mas o jogo, como objeto, é caracterizado como algo que possui regras explícitas e preestabelecidas, explicitas com um fim lúdico, entretanto, como atividade será sinônimo de brincadeira.

Estas mesmas atividades possibilitam que as crianças ultrapassem sentimentos e fatos, combinando-os entre si, reelaborando-os criativamente e edificando novas possibilidades de interpretação e de representação do real, de acordo com suas afeições, suas necessidades, seus desejos e suas paixões. De acordo com Piaget (1994), teórico conceituado sobre o desenvolvimento infantil "essas formas de jogo, que consistem, pois, em liquidar uma situação desagradável revivendo-a ficticiamente, mostram, com particular clareza, a função do jogo simbólico, que é a de assimilar o real ao eu". (p.187)

As situações de brincadeiras possibilitam também às crianças, o encontro com seus pares, fazendo com que interajam socialmente, quer seja no espaço escolar ou não. No grupo descobrem que não são os únicos sujeitos da ação, e que para alcançar seus objetivos precisam levar em conta o fato de que outros também tem objetivos próprios que querem satisfazer. Os jogos infantis, no dizer de Piaget (1994, p.120), constituem-se "admiráveis instituições sociais" e através deles as crianças vão desenvolvendo a noção de autonomia e de reciprocidade, de ordem e de ritmo.

Ao ponderar, extensivamente, sobre o tipo de jogo que querem utilizar, as condições do ambiente para que aconteça, bem como as regras que devem ser aplicadas, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar (isto ao verificar o que é e o que não é apropriado ao momento), de argumentar, de como chegar a um consenso, reconhecendo o quanto isto é importante para dar início à atividade em si. Permitir à criança espaço para brincar, proporcionando-lhe interações que vêm, realmente, ao encontro do que ela é, aliado às nossas tentativas no sentido de compreendê-la, efetivamente, nestas atividades, é dar-lhes mostras de "respeito". Assim, fica-nos evidente a importância do brincar no âmbito escolar. As técnicas ludopedagógicas auxiliam os pedagogos, psicólogos e professores a desenvolver melhor a potencialidade da criança, possibilitando o seu envolvimento na sociedade e no seu aprendizado, isto é, seu desenvolvimento físico, mental e social

O ser humano em suas diferentes fases de desenvolvimento está sempre construindo conhecimentos, tentando se organizar. Para cada etapa há relações com os tipos de construções realizadas e destas vivências despontam modos de atuação que se adequam melhor à vida cidadã. E passa por diferentes etapas nesta construção, desde o chupar o polegar até elaborar pensamentos com diferentes estruturas.

Construir um saber apropriar-se de um conhecimento. É no seio deste processo que a criança irá construindo com a possibilidade de transformar o objeto, de acordo com a experiência de cada um. Sem a brincadeira (lúdico) fica tedioso o processo de aprendizagem. É necessário que a construção se faça a partir do jogo, da imaginação, do conhecimento do corpo. Brincar é vital, primordial e essencial, pois, esta é a maneira que o sujeito humano, na saúde, utiliza para se estruturar como sujeito da emoção, da razão e da relação À construção de símbolos é fato marcante para o homo sapiens. A criança, ao fazer tal conquista, entra para um espaço social e cultural extremamente valorizado nas culturas letradas e tal fato não passa despercebido pelos que cuidam dela, às vezes, por ter um ritmo diferente, os adultos acabam deixando de valorizar o processo de conquista e querem logo o resultado, o produto.

Para isto, as contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon (apud UVA/2005) entre outros pensadores da Educação apresentam experiências concretas na realidade brasileira que permitem uma perspectiva em que se prioriza na Educação Infantil as bases primeiras da formação para cidadania, percebendo-se a criança como ser humano pleno.

Para atuar no processo psicológico infantil é necessário conhecer as crianças, suas características e seus direitos, conhecer a metodologia própria para atuar com mediador, bem como a legislação que possibilite a formação de um cidadão na atualidade e que respalde um verdadeiro trabalho pedagógico com ênfase na psicologia infantil.

Essas crianças adaptam-se e participam de suas culturas de formas extremamente complexas que refletem a diversidade e a riqueza da humanidade e possuem a habilidade de se recuperar de circunstâncias difíceis ou experiências estressantes, adaptando-se ao ambiente e, portanto, aos desafios da vida. Esse poder humano de recuperação, no entanto, não significa que um incidente traumático na infância possa sempre estar desprovido de conseqüências emocionais graves, e algumas vezes irreversíveis, mas, por outro lado, eventos posteriores podem progressivamente modificar alguns resultados dessas experiências.

Segundo Antunes (1998, p.16), nos diz que o ambiente e a educação são essenciais, o resto quase nada, pois,

"Toda criança é semelhante a inúmeras outras em alguns aspectos e singularíssima em outros. Irá se desenvolver ao longo da vida como resultado de uma evolução extremamente complexa que combinou, pelo menos, três percursos: a evolução biológica, desde os primatas até o ser humano, a evolução histórico-cultural, que resultou na progressiva transformação do homem primitivo ao ser contemporâneo, e do desenvolvimento individual de uma personalidade específica (ontogênese), pela qual atravessa inúmeros estágios, de bebê à vida adulta.

Para Antunes (1998, p.16) "a importância do ambiente e da educação necessita, entretanto, ser percebida em uma dimensão expressiva, mas não infinita. Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado." Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesma ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do mundo externo para criança e da própria criança para o seu mundo. Desde o nascimento, as linhas inatas do bebê interferem na maneira como pais e professores se relacionam com essas crianças. Mesmo a mãe menos informada sabe que existem bebês comunicativos e fechados, ativos e calmos, apáticos e ligados. A adequação entre os adultos e a criança produzem afetações recíprocas e todos os jogos usados para estimular suas múltiplas inteligências somente ganham validade quando centrados sobre o próprio indivíduo. Sendo assim, todo jogo pode ser usado para muitas crianças, mas seu efeito sobre a inteligência será sempre pessoal e impossível de ser generalizado. O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança (e até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja.

Quando entretido em um jogo, o indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras mas sem que se aliene a elas, posto que são as mesmas estabelecidas pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura alienante. Brincando com sua espacialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde desejaria viver, e o mundo real, onde precisa conviver.

Para Huizinga (apud ANTUNES, 1998) "o jogo não é uma tarefa imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança, estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com harmonia". (p.145). Existem expressivas diferenças entre os jogos para crianças não alfabetizadas e crianças que se alfabetizaram. Para as primeiras, os jogos devem ser vistos como leituras da realidade e como ferramenta de compreensão de relações entre elementos significantes (palavras, fotos, desenhos, cores etc.) e seus significados (objetos).

Nessas relações, Piaget (apud ANTUNES, 1998) destaca quatro etapas que, em todos os jogos, podem ser claramente delineadas: os índices, relações significantes estreitamente ligadas aos significados (é o caso de uma pegada de um animal indicando sua passagem pelo local); os sinas, relações indicadoras de etapas e marcações dos jogos (como é o caso do apito ou dos sinais de início, término ou etapas), os símbolos, relações já mais distantes entre os significante e o significado (fotos, desenhos, esquemas) e, finalmente, os signos, elementos significantes inteiramente independentes dos objetos (como as palavras e os números). Utilizando essas etapas, a seleção dos jogos que eventualmente se empregará deverá evoluir de jogos estimuladores de índices aos estimuladores de signos, e, desta forma, jogos que estimulam o tato, a audição, o paladar (índices) devem preceder aos que estimulam ou se apóiam em sinalizações e após estes tornam-se inteiramente válidos os que levam à descoberta de símbolos (pesquisar revistas, recortar, colar, desenhar, dramatizar) e após, os que exploram símbolos e que já pressupõem a compreensão de letras e desenhos de objetos correspondentes às palavras.

Pensando em crianças, desde a vida pré-natal até a adolescência, convictos de que o desenvolvimento da inteligência humana não termina nessa faixa etária, ao contrário, cresce por toda vida, principalmente para as pessoas que acreditam no poder de seu cérebro e sabem construir suas próprias motivações. De acordo com Antunes (1998, p.17)" o desenvolvimento das inteligências se processa de maneira mais acentuada quando premiadas pela oportunidade de estímulos. Essa afirmação, entretanto, precisa ser vista nos limites da coerência."

Historicamente, diferentes concepções acerca do desenvolvimento humano têm sido traçadas na psicologia. Elas buscam responder como cada um chegou a ser aquilo que é e mostrar quais os caminhos abertos para mudanças nessas maneiras de ser, quais as possibilidades de cada indivíduo para aprender.

Para Oliveira (2002, p. 125)," os fatores hereditários e o papel da maturação orgânica têm sido superestimados por correntes afins do biologismo ou do inatismo, que enfatizam a espontaneidade das transformações nas capacidades psicológicas do indivíduo, sustentando que dependeriam muito pouco da influência de fatores externos a ele". O desenvolvimento seria como o desenrolar de um novelo em que estariam previamente inscritas as características de cada pessoa. Bastaria alimentar um processo de maturação e as aptidões individuais, em estado de prontidão, guiariam o comportamento do sujeito. Essa corrente de pensamento ainda hoje é particularmente forte na educação infantil, subsidiando concepções de que a educação da infância envolveria apenas regar as pequenas sementes para que estas desabrochem suas aptidões.

Outras correntes explicativas, ao contrário, têm asseverado que o ambiente é o principal elemento de determinação do desenvolvimento humano. Segundo elas, o homem tem plastidade para adaptar-se a diferentes situações de existências, aprendendo novos comportamentos, desde que lhe sejam dadas condições favoráveis. Na educação infantil tal concepção promoveu a criação de muitos programas de intervenção sobre o cotidiano e a aprendizagem da criança, em idades cada vez mais precoces. Todavia, essa visão minimiza a iniciativa do próprio sujeito e também o fato de as reações dos diversos sujeitos submetidos às pressões de um mesmo meio social não serem semelhantes.

Para responder ao impasse criado pelas posições precedentes, surgiu na psicologia uma corrente que advoga a existência de uma relação de recíproca constituição entre indivíduo e meio, a vertente interacionista. Segundo Oliveira (2002, p. 126),

O desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento nem de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento. Decorre, antes, das trocas recíprocas que se estabelecem durante toda vida entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro.

Como todo organismo vivo, o humano inscreve-se em uma linha de desenvolvimento condicionada tanto pelo equipamento biocomportamental da espécie quanto pela operação de mecanismos gerais de interação com o meio. A criança ao constituir seu meio, atribuindo-lhe a cada momento determinado significado, a criança é por ele constituída; adota formas culturais de ação que transformam sua maneira de expressar-se, pensar, agir e sentir, isto é, seu desempenho, através do corpo, com suas representações.

No século XV, a criança era vista como um adulto em miniatura. Ela era vestida como adulto e a ela cabiam decisões como se fosse adulto. Na época atual, em algumas famílias, esta situação não é muito diferente. A criança ocupa, muitas vezes, o lugar de centro de decisões: ela é a autoridade e os pais a obedecem. É ela quem determina a hora e onde irá dormir; se vai ou não tomar vacina; se vai ou não escovar os dentes, entre outras. Existem alguns segmentos da literatura e segmentos sociais preocupados em conscientizar os adultos das necessidades, importância e responsabilidades de cada papel.

Muitos adultos quando referem-se à criança e ao que lhe é pertinente, referem-se de uma maneira pejorativa, desqualificada ou desconsiderada. Brincar é o verbo da criança. Brincar é a maneira como ela conhece, experimenta, aprende, apreende, vivencia, expõe emoções, coloca conflitos, elabora-os ou não, interage consigo e com o mundo.O corpo é um brinquedo para a criança. Através dele, ela descobre sons, descobre que pode rolar, virar cambalhota, saltar, manusear, apertar, que pode se comunicar.
O mesmo brinquedo pode servir de fonte diferente de exploração e conhecimento. Uma bola para uma criança de 02 anos pode ser fonte de interesse com relação a tamanho, cor e para uma criança de 6 anos o interesse pode ser mais relacional: jogar e receber a bola do outro. É importante que a criança possa brincar sozinha e em grupo, preferencialmente com crianças de idade próximas. Desse modo ela tem possibilidade, também, de ampliar sua consciência de si mesma, pois pode saber como ela é num grupo que é mais receptivo, num outro que é mais agressivo, num que ela é líder, num outro em que é liderada, entre outros. Lidando com as diferenças, ela amplia seu campo de vivências.

Alguns cuidados devem ser tomados com esta relação da criança com o brinquedo. São eles: brincar deve ser divertido, prazeroso e não tarefa. O brinquedo deve estar de acordo com o interesse da criança. Às vezes o adulto "dá" o brinquedo para a criança na tentativa de que ele adulto possa brincar. Aí ele passa a conduzir a brincadeira, bloquear se a criança descobriu outra forma de jogar ou de brincar que não a formalizada a princípio, não permitindo muitas vezes a espontaneidade, manipulação criativa, exploração e o prazer. Ao se fazer doações dos brinquedos, isto deve ser realizado com autorização e participação da criança. O brinquedo pode conter uma série de significados para a criança, mesmo que ela não o use, não ligue para ele, ou ele já esteja surrado e quebrado. Ele pode ser um amigo, um conforto, uma segurança e desse modo ela pode não ter condições ou vontade de se desfazer do brinquedo num determinado momento. O que nada tem a ver com ser ou não ser egoísta. Algumas questões polêmicas surgem quando falamos desta relação do brincar. São elas:

Menino pode brincar de boneca e menina de bola? Alguns pais ficam aflitos com esta questão, pois acreditam que a sexualidade será definida a partir desta escolha. Neste caso é bom informar que a criança irá definir sua sexualidade a partir do contexto que vivencia. Da forma como pai e mãe se relacionam, de como os papéis masculino e feminino lhe são apresentados no cotidiano, como estes pais se relacionam com a criança, de como esta criança vai sendo criada. Arma de brinquedo produz agressividade? Agressividade é um sentimento que todos nós temos e culturalmente lidamos mal. Normalmente a associamos com violência, ou a vemos apenas pelo seu aspecto destrutivo. Não nos damos conta de que precisamos dela para procurar um emprego, para comermos, para criarmos, para fazermos um artigo para o jornal, etc. Quando uma criança diz que está com raiva, logo é atropelada pelo adulto que diz: "Você não gosta de mim não?" Como se uma coisa fosse impeditiva da outra.
O uso de vídeo-game e computador ajuda ou atrapalha no desenvolvimento da criança? O excesso atrapalha. Uma criança que passa várias horas na frente do computador acaba não se relacionando com outras coisas e pessoas que são importantes para um desenvolvimento melhor. O bom é que ela possa ter condições de fazer várias experiências para ter uma visão de mundo mais ampla. É preciso também que o adulto esteja atento ao uso dessa criança na internet, por exemplo, onde ela tem acesso a todo tipo de informação e de pessoas. O cuidado e avaliação constantes do adulto devem caminhar no sentido de auxiliar a criança a desenvolver senso crítico. A realidade deve ser apresentada à criança aos poucos na medida de suas possibilidades, necessidades e etapa evolutiva.

A ludicidade precisa reconquistar um espaço nas salas de aula, pois sendo este um lugar de encontro de pessoas com suas singularidades, no momento em que estão descobrindo muitos conhecimentos, com relação a vida e o mundo, começando uma caminhada que marcará profundamente a sua história, as inter-relações entre os indivíduos, seus sentimentos, afetos e sonhos, precisam ser legitimados, buscando a superação da fragmentação e do isolamento.

A sociedade contemporânea, com seu comportamento de consumo capitalista e veloz, não tolera a diferença, descarta culturas, costumes e valores que efetivamente fazem parte da identidade de cada povo, rejeitando seu sentido originário, como no caso das brincadeiras de roda, perna de pau entre tantas outras que as crianças de hoje já não conhecem mais. Esse modo de vida, limita-se a reproduzir sistemas que fragmentam cada vez mais o modo de vida do cidadão jovem, do velho, do negro, das questões de gênero e principalmente, fragmenta a vida de pessoas com necessidades educacionais especiais, tornando-os seres com sérias dificuldades em se relacionar com seus pares.

A sala de aula vem perdendo a magia a cada ano que passa, tornando-se um ambiente sério e austero, permeado por um clima muitas vezes tenso e angustiado, tens-se o desafio de não se obrigar a urgência de dar respostas certas, pelo contrário, [...] "é preciso desfrutar o prazer de aprender, o brincar com as idéias e as palavras, com o sentido do humor com as perguntas dos alunos". (FERNANDES, 2001, p.36). É preciso entender que,

[...] A alegria na escola fortalece e estimula a alegria de viver. Se o tempo da escola é um tempo de enfado em que o educador e a educadora e educandos vivem os segundos, os minutos, os quartos de hora a espera de que a monotonia termine a fim de que partam risonhos para a vida lá fora, a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver .(FREITAS, 2001, p.39).


Nesse sentido, o brincar para o ser humano é algo que está na sua essência, desde o ventre materno, onde a criança ao brincar com seu corpo, fazer movimentos começa a construir a sua história.

No coração de um processo lúdico pulsa o respeito e mais do que isso, estímulos plenos para a brincadeira, o prazer, as descobertas, os desafios, as diversões e a alegria de aprender e ensinar que num processo de vivencia educativa, circula como via de mão dupla, onde a parceria é exercida. Passa a ser uma aliança de comprometimento que se entrelaça e movimenta-se em direção ao conhecimento. Nesse caso o lúdico,

[..] é a brincadeira que é universal e que é a própria saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser a forma de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros. (WINNICOTT, 1975,p.63).



Sendo assim, a maturação das necessidades de relação e de comunicação com o outro, é um tópico predominante nessa discussão, pois é impossível ignorar que a criança satisfaz certas necessidades no brinquedo. Vigostsky (1998, p. 122) "[...] se não entendemos o caráter especial dessas necessidades, não podemos entender a singularidade do brinquedo como uma forma de atividade". Como uma postura de vida ou condição básica de descobertas para as crianças, mesmo portando algum tipo de necessidade educativa especial, que poderá ser superada com a possibilidade da alegria e da inclusão nesse brincar. E para continuar o diálogo com o autor, concorda-se que.

Certos pacientes (com lesão cerebral) perdem a capacidade de agir independente do que vêem. Considerando tais pacientes, pode se avaliar que a liberdade de ação que os adultos e as crianças mais maduras possuem não é adquirida num instante, mas tem que seguir um longo processo de desenvolvimento. (VIGOTSKY, 1998, p. 127).

E nesse processo, a brincadeira impulsiona o sujeito para uma "zona de desenvolvimento proximal" onde há um esforço para projetar ações além do seu domínio real, fazendo com que a criança se esforce para alcançar um determinado objetivo que está adiante.

Nesse caso, percebe-se que o jogo, o brinquedo, a brincadeira serve como um estímulo importante para o desenvolvimento, pois no brincar a criança veste-se do personagem que quer ser, supera limitações e exercita avanços consideráveis assimilando novas descobertas.

[...] vê se logo como uma sanção repetida pode consolidar a associação, até o momento em que a assimilação tornar-se-á possível com o progresso da inteligência: É o que acontece quando se brinca constantemente com a criança, quando se a incentiva e encoraja etc. (PIAGET, 1975, p.46).


Dessa forma, o processo lúdico do jogo, se inter-relaciona com todas as forças da imaginação criativa do sujeito, que nesse momento se permite vivenciar os mais variados papéis e os mais variados conhecimentos, articulando-os entre si, serve como alívio das tensões e presta-se a dar repouso à alma, pois no processo de ludicidade penetra-se no sentimento mágico de realidade, onde o tempo perde de uma certa forma o seu valor passando a produzir com a sensação de estar além da natureza. O autor segue colocando que o jogo evolui, pelo contrário, por tensão e por relaxamento, [...] "relaxamento do esforço adaptativo e por manutenção ou exercício de atividades pelo prazer único de dominá-las e dela extrair como que um sentimento de eficácia ou de poder". (PIAGET, 1975, p.118).

É difícil alguém dizer que uma criança não precisa brincar. Entretanto, são raros os adultos que levam essa necessidade a sério. Minha experiência pessoal com psicologia infantil, mostra que a realidade infantil é constituída a partir da magia, da fantasia. Acredito que brincar é, para a criança, um momento mágico. Brincando ela alimenta sua vida interior, liberando assim, sua capacidade de criar e re-inventar o mundo.O brincar proporciona a aquisição de novos conhecimentos, desenvolve habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo.

A busca do saber torna-se importante e prazerosa quando a criança aprende brincando. É possível, através do brincar, formar indivíduos com autonomia, motivados para muitos interesses e capazes de aprender rapidamente.

Para concluir, o brincar poderá ser arrolado como instrumento de ilustração prática complementando a teoria, porém, pedagogicamente muito enriquecedor, pois ao desacomodar o sujeito desafiando-o a se movimentar e interagir com seus pares, seu espaço e seu ambiente, na medida em que determinado jogo, ou proposta lúdica é relacionada ao assunto e a proposta de aprendizagem que os professores estão apresentando naquele momento, outros conhecimentos entram em ação; como respeito as regras, a clareza de comunicação, o fortalecimento do vínculo afetivo entre o grupo, a desinibição, a confiança de
uns para com os outros, entre outras questões de valores, como solidariedade, amizade, compreensão e outros conhecimentos que se articulam entre si, ligados por uma teia ou uma grande rede incorporando-se um no outro.

De fato, uma proposta lúdica, centrada no brincar no espaço educativo que inclui e recebe a todos, que articula a convivência tolerante com as diferenças, liga-se nessa rede, onde no exercício do encontro humano, cada momento é único, subjetivo e singular. Cheio de mistérios, encantamentos, desencantos, conquistas e desafios incompreensíveis. No entanto, é importante saber que a sociedade é feita por cada um e cada uma que circula por nossas vidas durante um ano, vários anos e assim sucessivamente. É provocar uma metamorfose diária, transformando e deixando se transformar. E assim ir tocando a vida, como um barco que navega, às vezes em águas mais calmas, por outras turbulentas, mas com a certeza e confiança de que chegará ao destino.















REFERÊNCIAS

CERVO, A. L., BERVIAN, P. A. Metodologia Cientifica. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1996.

FERNANDES, Alicia. O Saber em Jogo. Porto Alegre: Artmed, 2001.

FREITAS, Ana Lucia Souza de. Pedagogia da conscientização: Um legado de Paulo Freire a formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

LÜCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar: Fundamentos teóricos metodológicos. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.

REDIN, Euclides. O espaço e o tempo da criança: Se der tempo a gente brinca. 3.ed. São Paulo: Mediação, 2001.