As pesquisas estão concluídas e os resultados do Censo Aquícola Nacional devem ser divulgados ainda em 2010 O Brasil será o único país capaz de produzir o alimento de origem aquática de que o mundo precisará nos próximos 30 anos. A declaração foi feita pela Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, em 2006. O potencial nacional para a aquicultura é extraordinário. Tem 12% da água doce disponível no Planeta, 8,3 mil km de litoral, 6 milhões de km2 de área intertropical e fartura de mão-de-obra.
Mas quanto já existe de aquicultura no País? Como funciona? Quais são os principais problemas e necessidades? Está crescendo ou encolhendo? E em que velocidade? As respostas a essas perguntas exigiram a realização do Censo Aquícola.
A população mundial cresce em ritmo acelerado, sobretudo nos países mais pobres. Em consequência, aumenta o impacto das atividades humanas sobre os recursos naturais. Algumas espécies de pescado já correm risco de extinção em razão da captura exagerada. Os desequilíbrios na economia, no ambiente e na sociedade saltam à vista.
Os parâmetros físicos, químicos e biológicos mostram a qualidade da água para fins de cultivo. O levantamento do relevo é essencial para a implantação de tanques. O controle da produção permite obter bons índices zootécnicos e econômicos. E a aquicultura, para ser enxergada de forma holística, necessita de um diagnóstico que revele como é esse segmento no Brasil.
Para isso o Censo Aquícola é o melhor instrumento.
Saber quem atua na aquicultura, quanto produz e de que forma o faz é essencial para as ações de governo.
Só assim se poderá planejar cada segmento, e delinear estratégias para promover o desenvolvimento da atividade no País. O levantamento permitirá elaborar políticas públicas mais objetivas e adequadas, e com visão de médio e longo prazos. A produção de alimentos, a geração de renda e a conservação ambiental costumam ser tratadas isoladamente, mas têm um denominador comum na aquicultura.
Interesse mundial A FAO está muito interessada em conhecer a aquicultura brasileira, a ponto de participar do censo, ao lado do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA. Talvez o marco inicial do censo tenha surgido exatamente no
âmbito da FAO. Em 2006, na cidade de Nova Déli, na Índia, a entidade apresentou um estudo denominado "O estado da aquicultura mundial em 2006". Na platéia havia delegados de 50 países participantes do encontro bianual da Subcomissão de Aquicultura da FAO. O estudo retratou a oportunidade e a perspectiva de crescimento da aquicultura no Brasil e no mundo. Foi nessa ocasião que se fez a declaração que abre este artigo.
Alguns dos números divulgados no evento chamam atenção. Em 1980 a participação da aquicultura no total de peixes consumidos era de 9%. A estimativa para 2010 é de 35%. Esse volume equivale a 50 milhões de toneladas de peixes produzidos em cativeiros por ano, com valor em torno de US$ 65 bilhões. Rohana Subasinghe, secretária da Subcomissão de Aquicultura da FAO diz que o número de peixes capturados no mar ou em água doce ainda é grande, mas parou de crescer.
Estabilizou-se entre 90 e 93 milhões de t e tem pouca possibilidade de aumentar nos próximos anos.
O volume da pesca mundial se mantém estável desde a década de 1980. Se a produção em cativeiro atingir metade da oferta total de pescado em 2030, como se prevê (Gráfico 1), e as águas do mundo continuarem oferecendo 90 milhões de t/ano, a aquicultura terá de produzir 40 milhões de t/ano acima do que produz hoje.
O relatório da FAO afirma que a produção em cativeiros será a única forma de acompanhar o crescimento da demanda mundial, sobretudo a dos países desenvolvidos.
A FAO também declarou que se o Brasil não produzir 21 milhões de t/ano na aquicultura, haverá déficit na oferta mundial. Em 2009, segundo o MAP, a produção aquícola brasileira foi estimada em pouco mais de 300 mil t. A diferença entre quanto se produz aqui e quanto será preciso produzir fez com que a FAO se mobilizasse para organizar e desenvolver a aquicultura no Brasil.
A entidade ofereceu ajuda ao MAP para a realização do censo, orientando e auxiliando no seu desenvolvimento.
A FAO mantém uma comissão trabalhando ao lado do governo federal para estabelecer uma orientação sustentável, responsável e equitativa para o setor. Entre as atividades desenvolvidas pela parceria estão a identificação de projetos com potencial de crescimento e o apoio a investimentos da iniciativa privada, em conjunto com os governos locais ou de forma isolada.
Também incentivam a difusão de trabalhos de pesquisa.
Viveiro do mundo Depois de ficar conhecido como o "celeiro do mundo", o Brasil começa a ser tratado como "viveiro do mundo", pois deverá se tornar o maior produtor e exportador de pescados de cativeiro. Experiências já realizadas mostram que o produto da aquicultura brasileira tem muito boa aceitação no mercado europeu.
O potencial do País garante a competitividade e há expectativa de que a produção, ambientalmente sustentável, se torne a maior do mundo.
Em 1999, a aquicultura ganhou mais atenção do mundo depois da declaração de Peter Drucker, um dos nomes mais influentes do mundo dos negócios. Drucker declarou à revista New York Times que o futuro não estava no comércio eletrônico, mas sim na produção de peixes em cativeiro. No ano seguinte, Drucker repetiu a afirmação à revista Exame, dizendo que a aquicultura é uma das indústrias que deverá surgir e se estabelecer nos próximos 50 anos, transformando caçadores e coletores de águas marinhas e continentais em pecuaristas aquáticos.
O Censo Aquícola se configurou como o mais importante canal de comunicação entre os produtores e o governo. Seus resultados ajudarão a encurtar, organizar e fomentar a caminhada da atividade rumo ao futuro previsto. As autoridades conhecerão em números as dificuldades, os desafios e as necessidades dos produtores, e verão as falhas existentes na cadeia de produção.
Com políticas públicas adequadas, a aquicultura é excelente opção para a geração de renda de pequenos produtores rurais e comunidades tradicionais das regiões litorâneas e ribeirinhas, entre outras. E pode fazê-lo de modo sustentável, conservando a qualidade da água.
O trabalho no campo A estrutura do censo partiu de uma coordenação nacional, que planejou o trabalho com cinco coordenações regionais. A parte executiva ficou sob responsabilidade das 27 coordenações estaduais e seus coletores de campo. Um projeto piloto levado a efeito no Ceará serviu como experiência para a realização do recenseamento nacional. Em todos os estados, os parceiros locais ajudaram a localizar os produtores, fazer os contatos e, em alguns casos, a chegar no local.
Os estados foram divididos em áreas constituídas de vários municípios e cada área ficou sob a responsabilidade de um recenseador (coletor de campo).
Mais de 300 coletores de campo trabalharam em todo o Brasil. Estes iniciaram o trabalho pelo contato com os parceiros e apoiadores, que forneceram as informações básicas para o planejamento do trabalho.
Em São Paulo, os parceiros locais eram, em sua maioria, braços da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e órgãos municipais envolvidos com o setor rural e produtivo. Houve envolvimento das Casas de Agricultura, de órgãos de extensão rural, de institutos de pesquisa e da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio. O censo também contou com o apoio de cooperativas e associações de produtores.
O estado foi dividido em 17 áreas, com diferentes dimensões e número de municípios. Os 645 municípios paulistas foram visitados, e o plano consistia em aplicar o questionário para a totalidade dos produtores. Quem pôde ser localizado foi entrevistado. As respostas ao questionário padrão eram inseridas no PDA, um computador de mão (palm top) igual aos utilizados pelos recenseadores do censo populacional do IBGE. O equipamento também coletava as coordenadas geográficas do local para o sistema de posicionamento global (GPS). O número de propriedades visitadas ainda não foi divulgado.
Muitos coletores de campo não conseguiram fazer todas as entrevistas programadas. As chuvas intensas derrubaram pontes, causaram o deslizamento de barrancos e produziram lamaçais intransponíveis. Outra dificuldade foi a desconfiança de alguns produtores, que Dalton Skajko Sales, www.agroinova.com.br zootecnista, Verena Almeida, ecóloga, André Luiz S. Camargo, zootecnista, Ricardo Firetti, zootecnista