Crônica

                                             O BOBO DE PEDREIRAS

                                                                 Edevaldo Leal

 

                                               A fala abobalhada do homem fisicamente perfeito prendeu-me a atenção. Ao falar, o sorriso se alarga no rosto. Dos beiços finos, na boca   estreita, as palavras se movem, rápidas, no convite único e diferente:

                                               ­­—Senhor, por favor,  você vai no meu casamento? Eu vou casar. Quero você hoje na festa. A noiva está linda.

                                               Sim, o homem estranho me faz um convite estranho.

                                               Como se houvesse estudado a melhor maneira de abordagem na rua, ele começou com um gesto, fazendo parar meus passos apressados. E, como quem busca uma informação importante, foi cuidadoso com as palavras na introdução. Não exigiu, pediu. E pediu educadamente: “ senhor, por favor “. Estaria pensando em sua noite de núpcias? Quem poderia imaginar que fantasia ou realidade se passava em sua cabeça ?

                                              Já sei, pensei de mim para mim, antes de o bobo fazer o convite : “ele quer informação sobre rua ou repartição pública, mas procurou a pessoa errada: eu pouco conheço a cidade”. Aos pouco, porém ,fui entendendo: o bobo, o educado e terno bobo de Pedreiras, tem uma peculiar e interessante forma de resolver sua necessidade de comunicação pessoal.

                                             Ali na Rio Banco, enquanto um sol forte me castigava a pele, o bobo e sua fantasia me faziam refletir na importância de ser atencioso com as pessoas e de como o silêncio compreensivo acalma as tumultuadas tensões da alma em devaneio. Por um momento, mágico momento de atenção e respeito, ficamos parados, um olhando para o outro, em diálogo com o silêncio, que só não se prolongou por um tempo maior, por que um senhor me interrompeu, preconceito e desprezo emendando as palavras:

                                            — Não ligue não ele faz isso com todo mundo sempre convidando para um casamento que não acontece ele não atina bem do juízo.

                                            Lamentei a comunicação interrompida pelo médico de rua num diagnóstico improvisado e sem certeza da condição mental daquele ser. E no momento em que meu silêncio já começava a produzir resultados, o bobo mostrou-se aborrecido com o intruso: golpeou o ar com um gesto brusco e, rápido, saiu segredando palavras que eu imaginei elogiosas para o interlocutor que parou para ouvir o que ele tinha a dizer.

                                           O  bobo de Pedreiras, a quem humildemente peço desculpas por não saber-lhe o nome, me fez pensar no casamento não como instituição desgastada, mas como compromisso fundamental para a construção da família, como celebração de união de corpos e de almas, de promessas que se pretendem duradouras.

                                           Aquele bobo carrega em sua mente um significado honroso sobre o casamento, hoje uma bobagem para tanta gente mentalmente sã.

                                           No retorno, ao dobrar a Rio Branco, na direção da oficina Eletrofios, onde me encontraria com meu sobrinho Kevin e meu irmão Eduardo , já na Rua Raimundo Araújo, vejo outra vez o bobo, um bobo feliz, que novamente me faz parar, agora para agradecer:

                                           — Obrigado por ter ido ao casamento.

                                                             Pedreiras/MA, 18 de julho de 2013.