Após mais de um ano e meio sem escrever artigos sobre Cabala, resolvi pesquisar sobre os acontecimentos relacionados ao Big Bang e à nossa infelicidade para responder algumas indagações de alguns amigos, considerando ainda o intervalo de tempo entre esse fenômeno (da Criação) e os dias atuais. O texto Bíblico (Torá) permite quatro níveis de interpretação e são eles: Pshat, que é o sentido literal; Remez, que é o sentido alegórico; Drash, que é o ensinamento através do procedimento e, finalmente, Sod, que significa Segredo (que seria a alma da Torá). A Torá é um grande código secreto, pesquisado inclusive por cientistas e escritores e interessante seria assinalar que as iniciais dos quatro níveis de interpretação formam a palavra PaRDes, que significa Pomar ou Paraíso. A Cabala, portanto, se ocupa muito da parte secreta e oculta das Escrituras, e consegue estabelecer perfeita harmonia entre Ciência e Religião, além de explicar até mesmo conceitos atuais da Física Quântica, modernas teorias científicas e estabelecer interpretações sobre o destino da humanidade. Segundo o cabalista Nechunya ben Hakanah, existe um Nome com 42 letras (não confundir com os 72 Nomes de Deus, codificados no livro de Êxodo) no Gênesis e esta idéia também foi objeto de pesquisas por parte dos rabinos Bachya ben Asher e Yitzhak Acco. Grandes sábios como estes deixaram comentários sobre suas pesquisas sobre a Torá e nos mostram o que poderia ter acontecido antes mesmo da criação do universo através de decodificações e formas ocultas do Cálculo, sem revelarem totalmente a metodologia usada nas interpretações. A idade do universo, que começou a se expandir a partir de um minúsculo ponto material no Big Bang, estaria intimamente ligada à “aparição” da primeira Lua Nova desse “Ano Inicial” e poderia ser calculada considerando-se que o Nome com 42 letras nos dá um intervalo temporal entre o próprio Big Bang e a Criação de Adão (que significa, entre outros, Humanidade ou Raça Adâmica). O intervalo de tempo em questão seria de 42.000 Anos Divinos e cada Ano Divino (ou Ano Celestial) equivaleria a 365.250 dos nossos anos de 365 dias e fração. Se fizermos uma simples conta considerando os 42.000 Anos Celestiais e o valor 365.250, concluiremos que a idade do universo é de aproximadamente 15,3 bilhões de anos do nosso incerto calendário gregoriano. Alguns estudiosos acreditam que os rabinos aqui citados e tantos outros eruditos rabinos haviam encontrado formas secretas de decodificação e dentre estas usavam também uma técnica conhecida como Atbash, na qual ocorre a permuta de letras do alfabeto hebraico, substituindo-se a primeira letra (alef) pela última letra (tav). A segunda letra (bet) seria substituída pela penúltima letra (shin), até que tivéssemos um “novo alfabeto” no qual “os últimos (grifos hebraicos) serão os primeiros”. O Poderoso Eterno dos Exércitos, Louvado e Bendito Seja o Seu Santo Nome, Nos legou, através de codificações, todo o conhecimento. Até hoje tentamos decifrá-lo e percebemos que tudo ocorre na hora exata dentro desta perfeição da Criação. Na Torá tudo o que ocorreu, ocorre e ocorrerá com tudo e com todos já está codificado,assim como todas as possibilidades de algo ocorrer ou não em função das nossas escolhas. Como um evento (Big-Bang) ocorrido há bilhões de anos pode nos afetar nos dias de hoje? A vontade de sempre doar da Luz Infinita e as consequencias deste evento tiveram origem na Criação, e depois num Desejo. Vou tentar explicar o que aprendi de maneira bem simples. O objetivo maior de todos os seres é o desejo de receber a Luz. Todos os entes dos reinos animal, vegetal e mineral estão impregnados por esse desejo. O que mais almejamos é sempre a presença de Luz em nós. Todos os entes são movidos pelo desejo de evolução através do recebimento de mais e mais Luz. A Luz é a Fonte e tudo aquilo que almejamos é oriundo dessa Fonte. Não somos a fonte do conhecimento, da sabedoria, do poder ou qualquer outra coisa. A Luz Infinita, a Luz do Criador, é a Fonte de tudo e de todos. Nos ensinamentos da Cabala, o nosso desejo de receber Luz em forma de saúde, prosperidade, paz, plenitude, etc., pode ser exemplificado ao conseguirmos entrar naquela faculdade, acertar na loteria, encontrar a nossa alma-gêmea, ter sucesso nos empreendimentos e assim por diante. A quantidade de Luz que recebemos durante a nossa vida oscila e isto nos faz sofrer. Às vezes nem nos damos conta de que essa Luz existe. Mas se a Luz existe, está disponível a todos e a tudo, e temos o desejo de recebê-la sempre, qual é então a causa da nossa infelicidade? O que “atrapalha” a chegada dessa Luz até nós? Às vezes estamos bem, estamos felizes e com saúde, os negócios prosperam e, repentinamente, o caos aparece nas nossas vidas sob forma de fracassos, doenças e outras situações “inexplicáveis”. Uma coisa é certa: quando o caos se instala é devido ao fato de que não estamos recebendo Luz naquele momento, apesar de ela estar sempre disponível. A grande questão é saber qual a razão da interrupção dessa Energia em nossas vidas. Sempre fomos induzidos a acreditar em algo superior, independentemente da nossa religião ou corrente de pensamento. Aprendemos que existe um “mundo espiritual”, onde existem os anjos, seres iluminados, santos e que nesse domínio não existe o caos. Tudo é “mágico”, perfeito, o Paraíso. Realmente, este mundo espiritual está repleto de Luz, Amor, Bondade, Perfeição. Sabemos ainda que existe um “mundo material”, que vivemos nele e que neste mundo físico predomina o caos, a baderna, as doenças, o sofrimento. Sabemos que em muitos momentos de nossa vida estamos conectados com a Luz, recebemos esta Energia e a nossa existência torna-se maravilhosa. Por exemplo, o aparecimento de um amor, o sucesso em nossos negócios, o bem-estar geral a cada dia, o reconhecimento de nosso trabalho, a saúde inabalável e a ausência de obstáculos. Esses momentos são raros na maior parte da vida das pessoas. Repentinamente, o caos chega até nós e joga por terra aqueles momentos de felicidade. A prosperidade se esvai, a doença aparece, a paz de espírito já não mais existe. A mudança repentina da situação que parecia ter as “bênçãos” do mundo espiritual para uma nova realidade caótica tem uma explicação: perdemos naquele instante a conexão com a Luz. Mas como nós podemos perder a conexão com algo que queremos e que está à nossa disposição? As Escrituras dizem: “E Adão conheceu Eva”. Isso quer dizer que Adão teve contato com Eva. Portanto, o nosso conhecimento só é real ao conseguirmos contato com algo, inclusive a Luz. Somente com o conhecimento (contato) das reais causas da perda desta conexão é que podemos começar a erradicar a infelicidade em nossas vidas. Você já percebeu que os nossos maiores desejos não têm origem física? Almejamos plenitude, sabedoria, saúde, felicidade, amor, liberdade, para que, então, harmonizados, possamos “converter” esse estado de plenitude em realizações materiais, pois só essas modificam a nossa evolução na Terra. Agora vamos tentar demonstrar como esta situação se instalou em nossa existência, isto é, por que sofremos? Por que a minha plenitude não é duradoura? Por que fico ansioso com o futuro? O que eu estou fazendo neste planeta? Os cabalistas respondem a esta questão informando sobre a Primeira Causa. A causa de tudo que ocorreu depois, ou seja, a Causa de Todas as Causas. Um artista no palco de um teatro sem platéia tem qual finalidade? O artista para fazer fluir o evento necessita de platéia. O artista precisa doar o seu talento e a platéia precisa receber esse talento, em forma de representação teatral, para que o evento se complete. A importância da dualidade, neste exemplo, fica bem clara. É uma lei universal. Ação e reação, positivo e negativo, dar e receber, luz e trevas. Cada componente da dualidade só existe em função da existência do outro. Vamos agora tentar imaginar, ou não imaginar, o vazio. Antes de o universo ser formado. Neste cenário não existe tempo, não existe espaço como conhecemos, só existe o Nada, o Tudo, o Criador e a Sua Luz. A Luz, Energia emanada do Criador e com Seus atributos de amor infinito, é dotada do Desejo de Compartilhar . O Criador não tem necessidade de nada, não precisa de nada, a Sua natureza é Compartilhar (Incondicionalmente). Por ser amor infinito, a Luz resolveu compartilhar toda a Sua benignidade. “Haja Luz”. E a Luz, energia pura que era do Criador, com a Sua Essência, com as Características do Onipotente, para compartilhar toda aquela perfeição precisava de algo que pudesse e quizesse receber toda a sua Plenitude. A Luz então criou uma entidade imaterial chamada pelos cabalistas de Receptor. Este receptor, portanto, seria o ente que teria a finalidade de receber. Ele, o receptor, foi “construído” a partir da energia de compartilhar a Luz , emanação do Criador. A Luz iria doar e o receptor iria receber. Podemos exemplificar como se a Luz fosse a água (líquida e quente) e o receptor um copo de gelo (água sólida), portanto formados da mesma essência (água) mas com características distintas. A Luz doava e o receptor aceitava toda a plenitude e perfeição vinda da Luz. Todos os desejos do receptor, todos eles, eram imediatamente satisfeitos através da Luz e ele cada vez mais queria somente receber toda aquela felicidade sem fim. O receptor incorporava a idéia de que a base de sua felicidade era o fato de receber, se quisesse (e queria), face ao livre arbítrio dado pela Luz, toda a plenitude e satisfação possíveis. Agora imaginem essa situação que ocorreu antes mesmo que o tempo ou o espaço existissem: O receptor estava locupletado de Luz, satisfazendo todos os seus desejos. Cada vez mais sua essência de Receber se aproximava da essência de Doar da Luz. Claro, eram da mesma essência, e com finalidades recíprocas. É como se a água quente, ao chegar ao copo, esquentasse-o cada vez, mais fazendo com que a “estrutura sólida” (gelo) do receptor fosse modificando (derretendo) e tendendo a se igualar a “estrutura líquida” da Luz. Queremos dizer com isso que o receptor “resolveu” ser como a Luz, isto é, não depender de algo para ser pleno. O receptor queria gerar a sua própria plenitude, assim como a Luz, não mais queria depender dela para ser feliz. Ele queria ser a causa de sua própria felicidade e receber para si infinitamente, através de seu próprio esforço. O receptor almejava locupletar todos os seus desejos por méritos e esforço próprios e não somente receber toda a plenitude por causa da "bondade" que a Luz lhe enviava. Queria gerar sua própria felicidade, somente para si, sem depender de mais nada. Não queria ser feliz como conseqüência da doação da energia infinita da Luz. O receptor tinha a característica de Receber e se “esqueceu” disso. Ele queria gerar a sua própria felicidade, pois achava que recebia tudo o que queria sem ter feito nada para merecer tão grandiosa dádiva. O receptor tinha a finalidade de Receber e não de Doar, e queria agora ser como a Luz, ou seja, ser capaz de produzir (e não de receber apenas) sua propria felicidade, que é a caracteristica de daquele que doa, atributo da Luz. Em outras palavras, o receptor começou a questionar e recusar a Luz, pois gostaria de gerar a sua própria plenitude, não queria receber somente, queria muito mais, queria ser a fonte produtora da resolução de todos os seus desejos. A Luz, respeitando o livre-arbítrio do receptor, que almejava produzir sua própria plenitude, retirou-se. Claro está que quando a Luz se retirou o receptor transformar-se-ia em um “ponto” de escuridão absoluta. Ao ver-se em apuros, nas escuras, sem a plenitude já experimentada e sabedor de que não poderia produzir tais benesses e satisfazer a si próprio, o receptor desejou que a Luz retornasse. A Luz, mais uma vez, atendendo ao livre-arbítrio, à liberdade de escolha do receptor, retornou com força total. Apesar deste evento, continuou existindo no âmago do receptor a dualidade, isto é, o paradoxo de ser um ente que recebe e ter começado a ter o desejo de doar (no caso, para si mesmo), que é característica da Luz. O receptor havia conhecido o que os cabalistas denominam de Pão da Vergonha. O Pão da Vergonha é uma manifestação do ego (Cohélet ben David em Eclesiastes define este sentimento de maneira conclusiva) que faz com que o receptor se ache não merecedor de coisas “boas” ou “ruins” que aconteçam a ele. O receptor achava que não havia feito nada para que merecesse “de graça” as benesses da Luz. No mundo físico isto acontece, por exemplo, quando um jogador que faz um gol no time adversário fica sabendo que o goleiro do outro time foi comprado, subornado, para que ele fizesse o gol. A sensação para o jogador é terrível. O mesmo ocorre quando um mendigo tem fome e pede um pão a alguém. Recebe o pão, mas no íntimo sabe que nada fez por merecê-lo. O mendigo, salvo exceções, gostaria de poder produzir o seu próprio sustento e não depender de ninguém, por não aceitar o sentimento de "não ter feito nada por merecer o pão" e até mesmo por não ter o conhecimento de que a sua constrangedora situação de pedinte teve origem em suas atitudes no passado. O ego induz à vergonha. O Pão da Vergonha foi experimentado pelo receptor e, assim, ele se fragilizou e não tinha mais estrutura capaz de receber a Luz. Quando a Luz enfim retornou, a fragilidade do receptor (que estava fragmentado por ter experimentado o Pão da Vergonha) o fez explodir em bilhões e bilhões de pedaços. Este foi o fenômeno do Big Bang. As partículas resultantes desta formidável explosão, poeira cósmica, átomos, elétrons, radiação, etc. formaram o universo e tudo aquilo que nele existe, as estrelas, os sistemas solares, os mundos, inclusive o espaço e o tempo. Um evento espiritual criou o “mundo material”. A realidade imaterial do mundo infinito produziu a realidade material, finita. Os entes materiais de todos os reinos são constituídos dessa matéria dual liberada no Big-Bang. A dualidade (Doar e Receber) pode ser alegóricamente comparada a Adão e Eva, Próton e Elétron,etc. O Pão da Vergonha, originado em nossas reações egoístas, nos fragiliza e nos fragmenta, tornando cada um de nós suscetíveis à ação do caos. Tudo aquilo que existe, inclusive a humanidade, carrega esta dualidade e todos nós experimentamos sempre o Pão da Vergonha, afinal somos todos formados de partículas e energia que originalmente compunham o receptor original. O termo receptor agora pode ser entendido como cada um de nós. Observe que o receptor, ao desejar tornar-se como a Luz, “resolver seus próprios assuntos sem ajuda de ninguém e gerar sua própria felicidade”, precisaria de um ambiente onde não houvesse Luz. É claro. Como o receptor “iluminaria” um ambiente totalmente “iluminado” pela Luz? O que o receptor queria de fato era ficar envolvido pela escuridão. E assim poderia iluminar aquele ambiente sem luz e ficar parecido com a própria Luz, ou seja, o receptor queria produzir sua própria plenitude, através de sua própria luz. Por esta razão, mais uma vez atendendo ao nosso livre arbítrio, a Luz nos propiciou, conforme o nosso desejo, a colocação de cortinas escuras no mundo em que vivemos (afinal somos todos parte de um único receptor e estamos todos interligados), para que nós possamos “gerar” nossa própria luz. As cortinas escuras são confeccionadas a partir do nosso ego, a partir do Pão da Vergonha que ingerimos a cada dia. O Pão da Vergonha cria cortinas de várias espessuras. As maiores espessuras (bloqueiam mais a Luz) são criadas, por exemplo, quando não entendemos que tudo aquilo de bom ou ruim que ocorre em nossas vidas tem apenas nós mesmos como responsáveis. Quando julgamos o nosso semelhante, falamos mal de outrem, quando vivemos prejudicando o nosso próximo para nosso próprio bem, as cortinas se tornam mais espessas. Apesar de a Luz estar do outro lado das cortinas espirituais, nós temos a sensação de que a Luz se foi. Assim, perdemos a conexão por não acreditar e por não fazer por onde para que estas cortinas sejam removidas. Toda a população do planeta convive com esse problema. Mas será que existe uma maneira de eliminar as cortinas e nos reconectarmos com a Luz? Claro que existe. “Antes mesmo de a doença se manifestar, o Altíssimo já havia providenciado a cura.” Observamos que a Luz, que criou o receptor, era dotada de tudo que pudesse satisfazer qualquer desejo ou solucionar qualquer situação que nem mesmo havia sido cogitada. Se existe uma “fórmula mágica” para eliminarmos as cortinas, erradicar o caos da nossa vida e alcançarmos a plenitude, por que não me disseram isso? Por que eu procuro “andar na linha” e continuo sofrendo e aqueles que “levam vantagem em tudo" sempre estão numa situação bem melhor? A Cabala, mãe de todas as ciências, pode responder a estas perguntas. Vamos agora enfocar a tal “fórmula mágica” e procurar entender a questão de todo o nosso sofrimento. E aprender como erradicá-lo de nossas vidas. Todos já conhecem a frase: “...somente a Verdade vos libertará”. Afinal, que Verdade é esta? Cada partícula, cada célula dos seres vivos, carrega a dualidade do receptor. A grande Verdade é uma só: quanto mais doamos, mais recebemos, pois ao doar, ao compartilhar, nos aproximamos da essência da Luz do Criador, e aderindo e "imitando" a estas caracteristicas da Luz vamos expulsando a escuridão de nossas vidas eliminando as cortinas e então a Luz passa a nos atingir intensamente, mantendo conosco uma forte conexão. Podemos interpretar essa verdade aceitando o fato de que temos a dualidade do receptor, ou seja, receber sempre para nós mesmos e compartilhar (como a Luz) aquilo que temos. A dúvida no receptor, o Pão da Vergonha, foi instalada mediante o fenômeno de receber para si mesmo e querer transformar esta circunstância em doar, através de produção própria, à si mesmo. Compartilhar, doar, oferecer sem querer algo em troca tudo de melhor que possuímos, tal e qual a essência da Luz, é a única maneira de erradicar o Pão da Vergonha de nossas vidas. O que quero deixar bem claro é que quando a nossa característica egoísta de somente receber predomina, a conseqüência é a ausência de Luz em nossas vidas; quando a nossa característica de receber para compartilhar sobrepõe-se, então a conexão com a Luz é mantida. Mas, afinal, o que é esse negócio de compartilhar? Somos todos partes infinitesimais do receptor original. E a Cabala ensina que toda transformação espiritual está baseada no ato de transformar o desejo de Receber (essência de matéria) em Desejo de Receber (a Luz) para Compartilhar (essência de energia), para doar. O compartilhar não é tão simples de entender. Muita confusão existe sobre o assunto. O corpo físico (matéria) com todas as suas necessidades é um bom exemplo de receber para si mesmo. O “corpo” espiritual (energia) é um exemplo de receber para compartilhar, pois recebe e doa a energia vital ao envólucro físico. Aquilo que recebemos da Luz pode ser retido por nós (não compartilhando) e em dado momento o nosso receptor se locupleta, não permitindo mais a entrada de Luz, então o caos aparece. Quando recebemos e compartilhamos, o nosso receptor nunca fica totalmente cheio, portanto, sempre existe um “espaço” para a Luz continuar a nos preencher. Quanto mais compartilhamos mais Luz recebemos de forma ininterrupta. A transformação espiritual, através das ações materiais do compartilhar, é a grande chave que abre a porta da verdade. Compartilhar não é tentar ser santo, doar todos os seus bens ou viver isolado contemplando a natureza. É muito mais do que isso. O compartilhar começa com a nossa transformação. Esta transformação interfere em tudo e em todos. Podemos compartilhar materialmente (devemos até fazer isso) com sabedoria e justiça sempre. Mas a nossa transformação deve ser interna a princípio. Devemos procurar subjugar os nossos desejos egoístas, a nossa reatividade, para assim podermos, estando em harmonia com a Luz, observar que a conseqüência disso nos levará a ajudar e amar o nosso próximo e modificar o mundo para melhor. O compartilhar está essencialmente ligado com a maneira pela qual interagimos como os nossos semelhantes. Compartilhar é um conceito abrangente. Devemos entender que a nossa evolução espiritual afeta de maneira consistente a melhora na vida de todos os que interagem conosco. Renegar a nossa natureza reativa e egoísta nos faz entender que os desafios da vida são oportunidades de despertar os nossos dons e também são caminhos para o nosso progresso, o que nos leva a uma grande transformação e nos propicia uma vida isenta dos fantasmas do passado e sem medo de seguir a nossa jornada. Muitos falam que “andam na linha”, meditam com os 72 nomes de Deus, amam a seus próximos, e a vida continua da mesma maneira. E que a vida dos outros é sempre melhor. Dizem ainda: “orei todos os dias... e nada!”. O desejo de compartilhar deve dar lugar a ação de compartilhar e a atitude de reagir violentamente aos nossos impulsos egoistas, ou seja, ter o Desejo de Receber Somente para Si o mais rápido possível. Caros amigos, ainda sobre o compartilhar, acredito firmemente que os 72 nomes de Deus devam ser usados sempre e somente em prol de outra pessoa. Quando oramos ou meditamos por alguém, como se fosse por nós mesmos, estamos compartilhando e recebendo fluxo, como fios condutores, da Luz que emana do mundo espiritual até aquela pessoa pela qual estamos pedindo, então essa Energia, antes mesmo de chegar à pessoa pela qual pedimos, passa através nós primeiramente nos inundando de Luz. As pessoas se perguntam qual é a razão de sofrerem apesar de viverem de maneira íntegra e "dentro das regras". Muitos pensam que não acontece nada aos reativos e que aqueles que “levam vantagem em tudo” ficam, aparentemente, sempre impunes. Devemos considerar um elucidativo texto escrito pelo cabalista Michael Berg: “As leis da ação e reação são universais e as mesmas em nosso planeta e nos planos superiores”. Então por que aqueles que burlam as leis e o direito dos outros quase nunca sofrem as conseqüências imediatas por terem cometido tais ações? A resposta para tal paradoxo é que o Senhor dos Exércitos, em Sua infinita bondade, diferenciou o fator tempo nas leis de causa e efeito no mundo físico e no mundo espiritual, para que todos nós tivéssemos oportunidades de evolução através da nossa correção (tikun). “Se vivêssemos num mundo onde os efeitos da ação negativa se manifestassem imediatamente, o elemento escolha desapareceria de nossas vidas. Com respeito às leis espirituais, a correlação entre causa e efeito está oculta para preservar nosso poder de escolha”, diz Michael Berg. Quero dizer que se você salta do alto de um prédio, irá se esborrachar em alguns segundos. A reação à sua ação foi imediata. Já no contexto espiritual, se nós fazemos mal a alguém através de ações ou pensamentos, a reação (punição produzida por nós mesmos) poderá ocorrer hoje, amanhã, daqui um ano, dez anos, em qualquer época. O mesmo acontece se fizermos uma boa ação. A “recompensa” virá em época não sabida. Isto acontece para que o livre-arbítrio possa ocorrer, ou seja, se a ação e reação fossem imediatas como nas leis da física, todas as pessoas só fariam boas ações com o objetivo de receberem a “recompensa” imediatamente e todas essas mesmas pessoas jamais fariam o mal a alguém, pois receberiam imediatamente o “castigo”. Portanto, os homens não teriam o direito de escolha, não teriam o livre-arbítrio, pois todos só iriam se comportar de uma única maneira, sem direito algum às suas próprias escolhas, e o mundo caminharia sempre em um único sentido possível e previsível, destruindo a possibilidade de evolução da raça humana. Este acontecimento inibiria a dualidade e as múltiplas facetas do nosso universo. Para finalizar, gostaria de dizer que o homem tem a seu dispor vários futuros possíveis, dependendo, apenas, de que a massa crítica oriunda das ações e pensamentos da humanidade tenda para um dos lados do livre-arbítrio: proatividade ou reatividade. Praticar a proatividade significa agir sem culpar a ninguém por nossos problemas, buscando a evolução espiritual sem reagir a fatores externos. Já na reatividade, agimos obedecendo aos instintos dos nossos limitados cinco sentidos, e da armadilha imposta pelo fator tempo, trazendo sentimentos de insatisfação e vazio às nossas vidas. Devemos refletir sobre o fato de que o Criador nos dá sempre o direito de escolha e que as profecias apocalípticas são visões de um futuro arquitetado e construído por nossas ações de desamor, falta de fé, desinteresse pelo conhecimento e ganância. O erro faz parte de nossas vidas e torna-se imperativo para a nossa evolução, porém, se tivermos a intenção de reconhecer e corrigir tais erros, tendo a consciência de que cada problema é uma lição e uma oportunidade de aprendizado, teremos, então, um grande antídoto para todos os males que nos afligem. Afinal, o nosso maior inimigo é a nossa própria reatividade diante dos problemas, não o problema em si. Podemos melhorar a nossa conduta e a nossa evolução sempre procurando trazer Luz para as nossas vidas e compartilhando (recebendo e doando) com os nossos semelhantes. É impossível amar a Deus sem amar ao nosso próximo. A Verdade chega até nós sempre num momento oportuno e de forma muito sutil. Nem antes e nem depois. Se não soubemos disso até agora é porque a hora não era chegada. A própria Cabala somente ganhou repercussão merecida na época certa, época essa inscrita no Zohar mil anos antes. Fiquem na paz e que o Onipotente Vos abençoe e Vos guarde sempre.