O pensar, assim nós colocamos em um mundo de coisas, achamos que temos pensamentos que nos leva a lugares distantes, lugares esses, que irão transformar as ocorrências, modificar o universo, satisfazer as ansiedades, mas são só pensamentos.

Cada um com suas particularidades, com seus meios de entendimentos, necessidades, buscas, retornos, desamores, existência como ser vivo. O pensamento transcendente que foi questionado e sacramentado com a morte, como no caso de Sócrates; a sua busca de um livre pensar sobre imposições construídas, essas, que construímos diante de um saber, que questionamos se é verdadeiro ou absoluto.

Para muitos a filosofia nasceu com a morte de do filosofo – Sócrates – mas para ele, o que julgaram foi a sua filosofia de vida, essa que incomoda as outras pessoas, quando surgem questionamentos, desacomoda, inibi verdades absolutas. Tudo que se pensa, está ligado a algo, esse algo é ou pode ser antagonismos refletidos em um pesar singelo, carente, obscuro; mas essa obscuridade é também a luz que realça na fronte em forma de nascimento, esse que nos entregamos como um mar de sabedorias, um aprendizado que construímos do pensar.

Esse aprendizado que leva ao pensar como se constituí, isto é, a realidade de como viver em questionamentos, esses, se fundar de representações culturais, sociais, políticas ou simplesmente como ser. Aquele ser pensante que descobre que a vida está em constante modificação, e para isso novamente exige outros pensar de si mesmo.

A ignorância é uma forma de saber, saber é uma forma de pensar que sabe. O mais verdadeiro sábio é quem busca o saber. E quem busca o saber, dá significado e aprende que não sabe nada; então, por estar em busca do saber, o sábio torna-se pensante; reflete sobre tudo que é para refletir, questiona tudo que esta em desconforto, e desacomoda quem está acomodado.

Assim a filosofia se constitui e mostra como problematizadora de questões pertinentes, sendo essas de puro interesse do pensamento, mas não o pensamento medíocre, mau acabado, senso comum, mas também de pensamentos complexos e de muita importância na vida do homem, do seu meio, de sua existência.

Às vezes me pego pensando como as coisas se constrói e se destrói em uma rapidez. Não dá tempo de apreciar, olhar, estar perto, perceber, mas isso é as incertezas que se carregam em lugar a certezas. O tempo passa e cada minuto perdido, pode ser um momento de prazer que passou, cada momento pode ser a construção ou desconstrução, cada palavra dita remete a algo inacessível no pensamento; não temos tempo de assimilar o que realmente acontece.

O tempo age muito rápido, as verdades se transformam em nada, se reconstituí deformadas em busca de suas próprias verdades, sendo essa, fruto do pensamento; esse que eleva e destrói, estraga e arruma, movimenta e se perde. O tempo como agente de longo prazo, esvazia a mente ou armazena o que é importante, se refuta em busca de preencher por si só o seu tempo. O pensamento, esse viaja de forma ofegante, busca e se organiza em encontrar as causas da desordem, que o tempo constrói. As palavras, essas carregadas de antagonismo, vão ao longo do caminho construindo felicidades ou possibilidades, isso leva a procurar motivos ou atrativos que desencadeia opiniões adversas ao discurso empregado.

Pensar, esse ato de esperança, que motiva as pessoas em seu íntimo, que revela só dizeres da razão, que machuca e produz a angustia, é o que temos de imediato, em estar parado só tempo. O amor, essa doença que destrói que move e remove tudo do ser, que se instala e, derrepente machuca, aperta, mas traz a felicidade, àvontade de viver, avontade de gritar bem alto, mas sufoca o grito. Esse sentimento que o ser tem, mesmo que seja simples ou complexo, não se pode classificar com adjetivos.

Ele, o dizer, é o mecanismo que a língua falada se apresenta, se constrói, e se acredita, mas o dizer, também se maquia se espreme, se esvazia. A paixão, sentimento relacionado com o amor, esse esta mais alto que o próprio amor, por ser tão intenso, incessante, quente como o sol de verão... Viver é estar apaixonado, é sentir que faz falta a paixão.

Esses pensamentos é o ensinamento que Sócrates deixou como lição, dever de casa. Um dos princípios do filosofo, é fazer com os outros, o que ele faz consigo mesmo, ou seja, ele busca produzir nos outros as incertezas que não sabe, e que há possibilidade de nunca sabermos nada. Sócrates é um desconstrutor de verdades.

Quando escrevemos um livro de verdades, esse é para provar as verdades, mas assim como escrevemos um livro de experiências, essas sim, é para questionar as verdades postuladas, fazer pensar sobre tudo que se dizem verdades, buscar como dar um passo atrás para se constituir e possibilitar uma construção de entendimento do questionamento.

A verdade como relação de saber, perceber que através do saber está constituída uma verdade. Na lógica da experiência e na lógica da verdade. A experiência e diferente nas relações, pois questiona, indaga, retroage em um discurso de busca de solução da tensão do pensamento.

Nesse incessante caminho do aforismo, as palavras se distinguem em formas diversas, buscam se conectar em ações do pensar, mas às vezes não conseguem descrever o que realmente significam para si próprio. As palavras tem o significado de acordo com a língua, e cada símbolo tem sua perseverança de entendimento ou questionamento.

Um oráculo, por exemplo, seu poder é constituído por instituições que legitimam seu discurso de poder e sabedoria. Sendo essas instituições a política, sociedade, religião, mitos, cultura. Na Grécia, como um único saber, se elevava o oráculo o mais alto nível de conhecimento, e também não se falava diretamente com o mesmo, pois as suas sabedorias eram apenas dicas de como constituir o caminho, o entendimento e o próprio destino.

Tudo isso é um pensar, uma busca de entendimento, um exercício, um olhar para dentro de si, uma forma de distinguir a verdade ou não ver verdades; pensamentos são soltos e muitos esquecidos, são livres como a brisa do mar, sempre em constante como ondas que vão e que vem lavando a alma de forma a constituir um presente, um futuro ou até mesmo um nada, que significa começar a esquadrinhar nas entranhas da mente o que realmente interessa somente o pensar.

Escrever e Dizer de Um Não-lugar 

                                                  por:  Maria Cristina Niederauer

Quando eu era gente de um lugar na infância, do qual recordo pelo vento que à cortina da memória esvoaça, olhava a professora como quem olha a primeira vez o mar.

Ela usava aqueles trajes negros das freiras, e os pequenos contornos brancos, que sobressaiam do véu em moldura para as faces, pareciam me dizer que ela era só um anjo disfarçado.

Não sei dizer ao certo, se foram as primeiras frases ditas ou foram os gestos da cálida mão que segurava a minha, ou foram as linhas do caderno de caligrafia, não sei, de fato, o que foi que me deixou com este gosto pela escrita. Mas não era só das letras que ela compunha os meus dias. Tinha ela, a minha mestra, um jeito próprio de filosofar sobre as coisas e a vida dos livros.

Amava o conhecimento que cada criança tinha. Reunia-nos em pequeno círculo, no final do dia e dava a chance de cada aluna contar uma história que quisesse para que todas pudessem ouvir. Não era uma história lida, pois que ainda naquela idade estávamos a ler pedacinhos de letras das cartilhas. Podia ser história inventada ou podia ser aquela vivida. Mas impunha uma única condição: a história não podia ser contada num só dia.

Tinha de ser contada pela metade, para que sobrasse um bocadinho para o outro dia. E, nós, menininhas compenetradas, impacientes, alegres, sérias, inquietas, atrevidas e calminhas – nessa iluminada mistura que dá sentido aos dias do começo dos caminhos de aprender- lá ficávamos em prontidão de escuta e de fala do que poderia ser o amanhã, do que poderia ser o futuro e os desfechos que viriam no dia seguinte.

Não sabia que estava me ensinando a sonhar, a acreditar no inacabamento das coisas. Aquela freira de pele jambo do norte me ensinava com o sorriso mais brilhante e reconfortante que, no dia seguinte, a vida continuaria. Estaria minha mestra no meu futuro? Não era uma pergunta que me fazia, então. Até porque naquele lugar da infância tudo dura para sempre.

Assim, eu não questionava a duração das coisas, mas, sim, o que as coisas e os livros continham de segredos para eu descobrir. A minha mestra nunca me deixou sem resposta, mesmo que eu não tivesse ainda as perguntas prontas.

É por isso que entendo Platão. Entendo que ele olhava para Sócrates, como o mestre que o tornara mestre. Alguém que o tornara uma pessoa melhor. Ao fazer um tributo por escrito ao velho homem, assinalou não apenas que o espírito de quem se encontra no estado de aprendiz é sempre jovem. Mas há que ter um espírito jovem também aquele que ensina, aquele que alimenta. Platão nos diz que os jovens seguiam Sócrates por toda parte e tenho a impressão de que tal mestre era daqueles que geravam o mais-que-perfeito suspense para incentivar os ouvintes ao desejo do descobrimento, a encontrar o sentido oculto e o desfecho daquelas memoráveis histórias dialogadas. E não é essa a busca da filosofia? A busca pela totalidade, a busca por compreender o segredo desse enredo a que chamamos de Vida?
Hoje, escrevo de um não-lugar. Escrevo para dizer que quando ensino, aprendo e tudo que aprendo está nesse não-lugar secreto para onde vai o imenso amor ao saber, para onde vai o desejo de cuidar.

Sem mestre amoroso e inquieto, sem mestre que entenda a si mesmo e que se coloque sem medo nas histórias de cada discípulo não há processo de Educar.

E se cada um tem um segredo de abrir a gaveta do aprender, deixo entrever por estas linhas escritas, o que preciso dizer dos mestres que tive e tenho. Preciso dizer que para que um mestre me ensine deverá me dar uns minutos do seu dia, um tempo de desfecho para que eu possa lhe acrescentar algo e que ele ou ela tome como alimento para si próprio. Tem de me perguntar ao final do dia, como eu vi seu método de ensino, sua atitude para comigo e para com os colegas e se não for pedir muito tem de ouvir nas minhas histórias um pedacinho da sua própria história de ensinar.