O aproveitamento do espaço escolar para as brincadeiras

[1]Débora Pintanel Ossanes

[2]Cristiane Duarte da Silva

[3]Rosilaine Acosta 

Resumo: A proposta do presente trabalho é de investigação e visa através de entrevistas observações e pesquisas, problematizar sobre as propostas de organização das atividades recreativas no contexto escolar. Os dados coletados para subsidiar a pesquisa foram concretizados em uma escola de ensino fundamental do município da cidade de Rio Grande, com educandos de idades entre sete e dez anos.

Palavras-Chaves: Espaço, brincadeiras, luticidade.

Durante séculos as crianças foram vistas como seres incapazes de construir sua própria cultura. Na leitura de Ariès (1981) em seu livro, História social da criança e da família, percebemos uma infância desconhecida onde não se distinguem a criança do adulto, tendo essa à obrigação de respeitar as normas, os códigos de civilidade e aguardar o momento de se transformar em um adulto, deixando de explorar o lúdico da infância.

Ao decorrer dos anos as concepções sobre infância acarretou na conscientização da autonomia e da identidade das crianças sobre a importância de se viver a infância como uma criança, de brincar, se divertir e desfrutar do prazer. Apesar desta consciência, é negada a criança a possibilidade de vivenciar seu direito à cultura, devido à delimitação do espaço físico e aos hábitos da sociedade atual. É como se houvesse um retrocesso, porém, atualmente existe consciência da importância de se viver uma infância.

Conforme diz Nelson Carvalho Marcellino (1990):

Análise da criança inserida na sociedade demonstra que, de uma perspectiva mais geral, o que vem se verificando, de modo crescente, é o furto da possibilidade de vivência do lúdico na infância, ou pela negação temporal e espacial do jogo, brinquedo, da festa ou mesmo do consumo “obrigatório” de determinados bens e serviços oferecidos como um grande supermercado. (Pág. 54,55).

 

É nítido, que na atualidade, a sociedade não valoriza a exploração do lúdico na infância, seja por falta de tempo ou espaço para suas vivências. Visto que a sociedade vive em um sistema capitalista, onde a educação serve como ferramenta para domesticação dos corpos, a escola de certa forma em sua prática torna-se cúmplice desse sistema. Pois ainda tem como objetivo a acumulação do conhecimento, deixando de proporcionar o lúdico de maneira adequada na recreação das crianças. Entende-se, que a disponibilização destas atividades poderia ser ofertada nos espaços escolares, no momento do recreio, ficando a critério das crianças utilizá-lo ou não, conforme a necessidade individual de cada criança.

Os motivos que nos levaram a investigação deram-se após a observação do grupo em uma escola, no qual as crianças corriam desordenadamente no horário do recreio. Sabemos da necessidade que a criança tem de correr e brincar livremente no horário do recreio, no entanto percebeu-se que ao termino do recreio as crianças estavam fisicamente agitadas necessitando de alguns minutos para retomar a concentração e assim dar continuidade à atividade de aula.

Compreendemos que é importante tornar as atividades lúdicas um hábito cultural presente durante a infância, por isso a importância de estarem sempre disponíveis às crianças. Segundo Callai 2005, a cultura de cada povo é compreendida através da realidade social na qual se está inserida, com sentido de pertencimento ao lugar e construção de sua identidade cultural.

Segundo consta no dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, a definição para palavra cultura, no contexto da sociologia, é definida como: “sistemas de idéias, conhecimentos, técnicas e artefatos, padrões de comportamento e atitudes que caracterizam uma determinada sociedade”. No contexto da Antropologia encontramos a seguinte denominação: ”estado ou estágio de desenvolvimento cultural de um povo ou período, caracterizado pelo conjunto das obras, instalações e objetos criados desse povo ou período, conteúdo social”.

      No centenário de 1700, Friedrich Froebel, na Alemanha, constituía sua formação educacional sob o conceito da tríade, natureza, homem e Deus de como essas relações influenciavam sobre a educação. De como os espaços livres, sempre junto à natureza, davam à criança o esclarecer do autoconhecimento, através dos processos de interiorização e de exteriorização.

(...) Nunca esqueça que o objetivo da escola não é tanto ensinar e comunicar uma variedade e multiplicidade de coisas, mas sim dar destaque à sempre vivo unidade que está em todas as coisas. (Froebel, 1877: 134-135).

Conforme a citação acima, Froebel de certo modo, assemelha-se com a concepção de Antoni Zabala (1998), no que se refere à importância de desenvolver no educando não somente os conteúdos conceituais, como também os de caráter atitudinal e procedimental, possibilitando a formação integral do ser.

   Compreendemos que as atividades educativas propostas por Froebel, eram oportunizadas em espaços amplos e naturais. Como por exemplo, espaços naturais constituído por animais, flores, pedras, cores, água, terra e luz, para assim abstrair destes as idéias de criação e aprimorar o conhecimento.

Segundo consta no PCN de geografia, o conceito de espaço geográfico é denominado como sendo algo que foi um dia constituído de apenas aspectos naturais, mas dadas as relações de apoderamento e apropriação da ação humana, as paisagens antes naturais, vão sendo invadidas pelas coisas ligadas à sociedade como um todo: fábricas, casas.

         Maria Montessori nos relata em seus estudos, a criação de outro conceito de ambiente ou espaço para as crianças desenvolverem suas atividades educativas. O espaço físico é adaptado a proporção do corpo infantil, janelas baixas, salas claras e iluminadas, móveis pequenos, de todos os tipos, exatamente como nos lares das mesmas.

(...) Nossas crianças aprenderam a movimentar-se entre coisas sem esbarrar nelas, a correr sem produzir ruído, tornando-se espertas e ágeis. E sentiam prazer na própria perfeição. O que lhes interessava era descobrirem a si mesmas, as suas possibilidades, e se exercitarem numa espécie de mundo oculto como é o da vida que se desenvolve. (Maria Montessori – a educação da criança – pag.139).

Parafraseando Sarmento, podemos dizer então, que as crianças são sujeitos que se socializam que não somente se adaptam e internalizam os processos de socialização como também negociam, compartilham e criam culturas com os adultos e entre elas. Sendo assim não devemos considerá-las como somente sujeitos ativos, que constroem culturas e que são capazes de compreender e agir sobre a realidade.

        A mediação do educador nas atividades lúdicas proporcionaria melhor aproveitamento do espaço e do tempo disponíveis para as brincadeiras. Nos espaços observados pelo grupo está de certa forma, inadequado ao ser criança. Uma das observações que foi feita em nossa pesquisa, demonstra um lugar onde não existe, nenhuma ornamentação de árvores, para que as crianças descansem em uma sombra, e também não há bancos que sejam adequados ao tamanho do corpo físico das crianças, para proporcionar um relaxamento que seja mais prazeroso. É importante que se reveja esses espaços e quais as possibilidades de se ofertar os dons, conforme a fase do desenvolvimento de cada criança, e que desperte a curiosidade e o interesse pelas brincadeiras. 

Referencias Bibliográficas 

ARCE, Alessandra, Friedrich Froebel: O pedagogo dos jardins de infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

ÁRIES, P. História social da criança e da família. RJ: LCT, segunda edição, 1981.

 BARBANTI, Valdir. Dicionário de Educação Física e Esporte – 2ª Edição. Editora Manole.  

CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Caderno CEDES, Campinas, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005.

Entrevistas e observações realidades em uma Escola Municipal da Cidade do Rio Grande, RS, no ano de 2010.

FONTE: Dicionário Michaelis.uol.com.br, acesso em: quarta- feira, 13 de outubro de 2010.

MARCELLINO, Nelson Carvalho, Pedagogia da Animação. Campinas, SP: Papirus, 1990. (Coleção Corpo e Motricidade).

MONTESSORI, Maria, Association Montessori, Internationale Amsterdam, Edição Integral, Tradução: Luiz Honório da Mata.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: geografia / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998.

SARMENTO, Manuel / GOUVÊA, Maria Cristina, Estudos da Infância: Educação e práticas sociais, RJ: Vozes, 2008. Ciências Sociais da Educação.

ZABALA, Antoni, A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, RS: Artmed, 1998.


[1] Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal do Rio Grande, FURG.

[2] Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal do Rio Grande, FURG.

[3] Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal do Rio Grande, FURG.