Vem que estou te esperando. Assim que Luna desligou o telefone correu para tomar um banho, perfumou-se de sensualidade, vestiu um vestido azul marinho sem alça e sem-vergonha e despiu-se da mulher politicamente correta. Aquele encontro de bocas profanas dias atrás tinha mexido com as estruturas de sua personalidade.
Não demorou muito e Ícaro estava lá, na esquina do perigo com o ilícito, a espera daquela que exercia sobre ele um poder de fascinação inefável. Com os olhos pregados no retrovisor do carro não via a hora de ver Luna surgir esplêndida com seus meneios lânguidos e convidativos a uma viagem ao lugar mais recôndito dos prazeres.
Após longos cinco minutos ela dobra a esquina e surge no espelho do retrovisor interno exalando de longe seu perfume de sensualidade. Ícaro se delicia ao vê-la e rapidamente se desespera, ela saiu do seu ângulo de visão, ele mais do que depressa a procura no retrovisor externo do lado direito do carro, e seus olhos voltam a sorrir com a boca. Lá vem ela voluptuosa ajeitando o vestido azul marinho.
Vamos, mas não vai acontecer nada. Afirma Luna ao entrar no carro com um olhar que a desmentia. Ícaro ri cinicamente e a recebe com um beijo no canto direito dos lábios caprichosamente maquiados.
Aquela tarde, brindada com um céu desprovido de nuvens, testemunha aquele encontro clandestino calorosamente como que bronzeando as peripécias de uma amizade colorida. A conversa rola solta ao som de Nirvana. Entre uma marcha e outra, Ícaro deixa a mão escapulir e flutuar pelas coxas de Luna.
Ícaro tem pouco mais de uma hora e meia para comer a maçã e engolir o sétimo dos mandamentos. Ele ainda dirige a esmo quando Luna enfim sugere o Tahiti, o paraíso do amor. Lá estaremos mais seguros.
- Como assim mais seguros no Tahiti? Questiona Ícaro em tom jocoso.
- Vamos fazer tremer aquele lugar. Responde Luna com todo seu humor negro.
Eles chegam ao paraíso do amor e encontram uma fila de três carros, era uma quinta-feira com cara de dia dos namorados. Um Fiat uno rebaixado entra logo depois deles. Ícaro, já com o peito nu e só de bermuda, vai espalhando calidamente suas digitais pelas curvas sinuosas daquele Amazonas de pecado.
Com uma maçã na boca e outra na mão esquerda, Ícaro com a respiração ofegante é castigado pelo medo e flagranteado pelo arrependimento de Luna que - umedecida - sai do carro desesperada e mais desesperada fica quando perceber que no carro de trás está seu marido Barrabás acompanhado de uma mulher.
Ícaro corre para evitar o barraco e fica catatônico quando vê dentro do Fiat uno rebaixado sua mulher acompanhada de um homem casado e mais jovem que ela. O tahiti tremeu...