Em 2008, cerca de 630 mil brasileiros ingressaram na terceira idade. É como se, instantaneamente, brotasse no País um município do porte de Santo André, um dos maiores do Estado de São Paulo, integralmente povoado por pessoas idosas. Hoje, são aproximadamente 18 milhões os habitantes acima dessa faixa etária, na qual a expansão é de 3,5% ao ano. O crescimento é maior no segmento acima de 80 anos, atingindo 5%.

Entender o impacto desses números no quadro demográfico, social e da saúde é imprescindível no sentido de se estabelecerem estratégias adequadas. O Brasil vai deixando de ser um país de jovens. Delineia-se um cenário muito diferente do que se observava há pouco mais de meio século, quando os octagenários eram 0,5% dos habitantes. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstra que, em 2020, 12% da população brasileira deverão ser idosos. Isto significará 31 milhões de pessoas, o equivalente ao total de habitantes do Peru ou do Marrocos.

O envelhecimento dos brasileiros, como na maioria do mundo em desenvolvimento, ocorre mais tarde em relação aos países desenvolvidos. Nestes, os habitantes com mais de 65 anos representavam 15% do total já na virada do século. O índice deverá saltar para 27% até 2050. O Japão, que já tem a maior quantidade de velhos no mundo, deverá chegar a 35%.
Nas nações pobres, os idosos eram apenas 6% em 2000, devendo chegar a 14% em 2050.

A expectativa de vida nos países desenvolvidos, que entre 1950 e 1955 era de 67 anos, subiu para 79. Nos subdesenvolvidos, a evolução foi de 41 para 63 anos, em média. A proporção de idosos no mundo, hoje de 9%, passará a 14% (delimitador a partir do qual os países são chamados “envelhecidos”) em 2018 e, em 2050, deverá ser superior a 25%. Isto ocorre atualmente somente no Japão e na Itália, nações com o maior índice de habitantes da terceira idade. Para entender melhor toda essa transformação, é interessante notar o exemplo da França, onde transcorreram 115 anos (de 1865 a 1980) para se dobrar a proporção de idosos de 7% para 14% da população.

Essas comparações não se limitam à cronologia do processo de envelhecimento. Há uma observação crítica, feita por Alexandre Kalache, o médico brasileiro que, desde 1994, chefia o Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): “Os países desenvolvidos enriqueceram antes de envelhecer. Países como o Brasil estão envelhecendo antes de serem ricos”. Ou seja, o Brasil tem um desafio crucial pela frente: criar condições econômicas e sociais que permitam uma boa qualidade de vida aos idosos, pois, como alertam os números, nos próximos 40 anos haverá crescimento acelerado dessa faixa etária.

Quando se analisam estratégias e ações relativas à qualidade de vida dos velhos, não se pode limitar o pensamento às obrigações do Estado. É necessária a mobilização das famílias e da sociedade para o enfrentamento do desafio. Nesse sentido, deve-se ficar atento às recomendações da própria OMS. A respeitada entidade norteia sua política para o envelhecimento no conteúdo de um documento lançado em 2002, intitulado “Envelhecimento Ativo, um Marco Político”. O texto define “envelhecimento ativo” como o “processo por meio do qual se possam otimizar as oportunidades para saúde, participação e segurança, de modo a assegurar qualidade de vida à medida que se envelhece”.

Tais recomendações assumem significado ainda mais relevante se considerarmos que, em 2008, o Estatuto do Idoso, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, completará a emblemática marca de cinco anos. Sua meta - lembram-se? - era justamente ampliar os direitos e a qualidade de vida dos cidadãos com idade acima de 60 anos. No papel, é muito mais abrangente do que a Política Nacional do Idoso, de 1994. O estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade. Isto inclui o Estado, ao qual devemos cobrar ações efetivas, mas também a sociedade, que tem responsabilidades inalienáveis quanto à vida dos brasileiros que envelheceram.

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