O amor sublime em Romeu e Julieta

 

Gisely Marques

 

1Introdução

            A peça teatral escrita por William Shakespeare nos conta a história de um casal de adolescentes de famílias rivais, que vivem um amor proibido, sendo indiscutivelmente considerado o primeiro amor apaixonado juvenil para a época renascentista. Cada peça de Shakespeare possui temas diferentes, mas com algumas inspirações de algum tipo de experiências humanas.

            Em Romeu e Julieta o amor torna - se o centro de tudo, rompendo sua ligação com a sociedade e padrões da igreja, constituindo seus próprios valores, indo de acordo com o mundo em que está sendo transformado, dando ênfase ao primeiro momento em que eles(Romeu e Julieta) trocam olhares.

            A partir desta concepção o desenvolvimento temático desse estudo é discutir o elevado amor de Romeu e Julieta, pois os personagens colocam seus sentimentos acima de todos, ou seja, um amor que vale tudo, satisfazendo os que nele estão envolvidos.

            O artigo propõe analisar o amor que Romeu e Julieta sentem um pelo o outro, considerando os sentimentos que os envolvem de forma avassaladora e o que eles são capazes de fazer para viver esse romance.  Segundo Carpeaur (pág. 71): Na “tragédia do amor”, os convencionalismos da linguagem servem para exprimir a falta de individualidade; a ação é apenas consequência duma paixão cega, dum capricho irresponsável dos instintos.

            Diante da citação percebe-se que o ato de se apaixonar é involuntário e instantâneo, pois os mesmos levam toda a situação para si mesmo, se dispondo a enfrentar tudo e todos. O amor de Romeu por Julieta faz com que eles descubram e se proponham a lutar contra os obstáculos que surgissem, como defende FRYE:

Os dois amantes trazem dentro de si um dilema, em que uma voz lhes    diz que eles devem embarcar nessa ilusão, não importa quais sejam os perigos , porque fazendo isso serão mártires ou testemunhas de uma ordem  de coisas que é mais importante do que a realidade diurna (FRYE, pág. 44).

            De acordo com as diferentes situações que envolvem o casal, Julieta na época ainda era muito ingênua, pois possuía apenas quatorze anos e não tinha maturidade para enfrentar um relacionamento que levasse a viver uma vida toda, apenas tinha consentimento de obedecer às ordens que sua mãe determinava, não sabendo que se passava de geração pra geração os conceitos de que uma mulher casaria cedo, passando distante dela essa realidade. “LADY CAPULET: Marry, that marry is the very theme I came it talk of tell me daughter Juliet, how stands your disposition to be married? JULIETA: It is an honour that I dream not of.” (Romeo e Julieta Ato I, cena III. Pág 45)

            Diante da conversa em que Lady Capuleto tem com sua filha nota-se que Julieta não tem conhecimento do que é o amor e por não entender, promete a mãe que irá tentar amá-lo, obedecendo às ordens que seus pais lhe propõe. Julieta confirma que tudo será do seu jeito, mas por trás de sua resposta existe uma determinação que leva a prosseguir.

                                   LADY CAPULET: What say you, can you love the gentleman?

                                    This night you shall behold him at our feast,

                                    Read o’er the volume of young Paris’ face

                                    And find delight, writ there with beauty’s pen,

                                    Examine every married lineament,

                                    And see how one another lends content:

                                    And what obscur’d in this fair volume lies,

                                    Find written in the margent of his eyes.

                                    This precious  book of love, this unbound lover,

                                    To beautify him, only lacks a cover:

                                    The fish lives in the sea, and’ tis much pride

                                    For fair, without the fair, within to hide:

                                    That book in many’s eyes doth share the glory

                                    That in gold clasps locks in the golden story:

                                    So shall you share all that he doth possess,

                                    By having him making yourself no less.

                                    NURSE: No less, nay bigger women grow by men.

                                    LADY CAPULET: Speak briefly, can you like of Paris’ love?

                                   JULIET: I’ll look to like, if looking liking move.

                                   But no more deep will I endart mine eye,

                                   Than your consent gives strength to make it fly.

                                   (Romeo e Julieta Ato I-cena III, pág 46)

           

                                  

            Como podemos notar, Julieta em nenhum momento da peça aparece com algum amigo, parecia ser uma menina solitária, onde seu contato maior era sempre com ama, pois conhecia a jovem muito mais que sua própria mãe “- ou talvez ela perceba que a Ama é mais próxima de Julieta do que ela própria –“ (FRYE 1992,p.32), que a ela dedicava todo seu tempo, não tinha liberdade nenhuma para se comunicar com pessoas de sua mesma idade e a toda essa situação torna a personagem uma pessoa carente.Com base nesta reflexão, o autor nos mostra que Julieta não tem atenção dos pais, conforme cita o mesmo autor.

                                              

De repente temos a visão de como a infância de Julieta deve ter sido, passeando por uma imensa casa onde o pai é “Senhor” e a mãe “Senhora”, onde ela precisa pedir permissão especial para sair (permissão esta que geralmente não lhe é concedida, a não ser para se confessar com o padre), onde está esperando pelo dia em que o senhor Capuleto, com efeito, dirá à sua mulher: “Estou certo de que temos uma filha em algum canto deste lugar. Não é hora de nos livramos dela?” Então ela se casaria e se enquadraria no mesmo modelo da mãe, que se casou na mesma idade, por volta dos catorze. Enquanto isso, não há quase ninguém com quem a criança possa falar, exceto ama e ao marido dela com sua incansável piada. (FRYE, 1999, p.33)

           

            Constatamos assim, que a realidade em que se encontra Julieta, e diante da ausência de sua família e até mesmo dos amigos nas quais ela não tinha, faz com que o amor despertado nos personagens é que irá “suprir” as necessidades de um vazio que se encontra em suas vidas, e exclua outros valores que estão presente, mas que ao descobrir esse sentimento avassalador nenhum outro fará mais sentido.  E assim, diante da pureza que mantinha em sua vida, Julieta coloca sua razão de lado e passa a viver intensamente esse amor, e diante da realidade que a vida deles se encontram tudo se transforma..

            O primeiro encontro com Romeu, que aconteceu por um mero acaso, fez com que Julieta agisse como uma pessoa adulta, apesar de sua pouca idade retratada na peça, a partir do momento em que Romeu beija Julieta ele se redime dos pecados já que ela é considerada santa, mas pra redimir-se de seus pecados a única solução que ela encontra é beija-lo  também já que o amor caracteriza-se como algo errado, o autor proporciona a personagem viver um amor violento, avassalador e cheios de emoções, fazendo com que suas imagens fiquem em seus pensamentos e façam de suas lembranças a vontade e o desejo de estarem juntos. “For here lies Juliet, and her beauty makes, this vault a feasting presence full of light” ( FRYE, V.iii.85-86, pág 43), “And in this state she gallops night by night, through lover’s brains, and then they dream of love”. ( FRYE, I.iv. 70-7, pág 43)

Dessa forma, Julieta e Romeu se descobrem que estão a sentir os mesmo sentimentos e assim passam por cima das regras, quebram condutas e se propõe a viver o amor que se sacrifica um pelo o outro. A partir desse posicionamento percebemos que a personagem começa a expor sua opinião, de determinação ao o que ela irá fazer para poder impedir que o desejo de seus pais se realizem. Pois se impõe e recusa a aceitar o amor de Páris, mudando de atitude, sendo independente e autônoma.  No entanto, a reação de seus pais provoca uma anulação como castigo, e a ela nada mais lhe pertencia e dele não tinha consentimento de filha, as duras palavras do pai, dava a Julieta uma outra imagem da personagem, imagem essa que seus pais não a conhecia.

O que quer dizer que a capacidade de amar de Romeu e Julieta é intensa e profunda, e que juntos compartilham um amor verdadeiro e autêntico. Sem medir consequências, Romeu arriscar-se indo ao jardim do inimigo para vê sua amada, mostrando que não teme apesar do ocorrido, isso não impede de querer está ao lado da pessoa que mais ama. Durante a peça Romeu vai amadurecendo aos poucos e a esse amadurecimento deve-se ao desejo de viver essa paixão.

Em virtude da consequência morte de Tebaldo, Julieta consegue vê e manter o mesmo sentimento de amor por Romeu, ao contrário dele que no momento de fúria não teve seu pensamento na amada. E a ele veio uma demonstração de seu caráter, apesar de notarmos que a intenção dele não era fazer de fato atingir o inimigo ao ponto de mata-lo. Conforme ressalta Carpeaur: Quem reconhece é o próprio Romeu; após ter matado o inimigo Tybalt, grita: O, I am fortune’s fool, “Sou joguete da fortuna” (Carpeaur, pág 75).

Depois de todo ocorrido Julieta se via confusa, não pelo o sentimento e paixão que sentia, mas por causa do ocorrido, fato que ela não esperava essa atitude de Romeu, mesmo assim a força do amor que sentia a única solução que no momento encontrava era conversar com frei e a ele pedir um conselho. E assim fez, ele colocou como solução para ela uma tomada de chá de ervas que fazia com que ela dormisse por muitas horas e que aos pais daria como morta e depois que passasse o efeito, Romeu iria ao túmulo para resgatar sua amada. Sem saber do desencontro que o destino lhe proporciona, e o que ele apenas sabe é que Julieta morreu. Sendo que ela está apenas sobre o efeito do chá que tomou, Romeu vai ao tumulo, se despede de sua amada e toma veneno, e o que acontece é que poucos minutos depois Julieta acorda, vê o que aconteceu pega o punhal de seu amado e crava contra seu peito, para assim viver para sempre ao seu lado. A eles sobrepõe-se um sentimento muito intenso e de grande significação, onde as transformações se desenvolvem e a elas tem sentido. O amor idealizado de Romeu por Julieta faz de sua pessoa uma homem moderno e sujeito de si, onde eles acabam sendo excluído da sociedade, devido suas atitudes, pois para viverem esse amor, eles entram em conflito com a mesma ao ponto de destruírem suas próprias vidas.

Considerações finais

            Conclui-se que o amor existente entre Romeu e Julieta, era um amor que desafiava os costumes sociais da época, enfrentando seus medos e pais. Julieta sempre a frente de qualquer situação, toma atitudes bem resolvidas e Romeu corresponde ao amor da amada. Mesmo passando por pressões por parte de sua família, Julieta busca encontrar sempre uma solução para que eles possam viver esse verdadeiro amor.

Referências Bibliográficas

FREY, Northop, 1999. Sobre Shakespeare. ( Northrop Frey on Shakespeare). Org.: Robert Sandler. Trad: Simone Lopes de Mello. São Paulo; EdUSP. (Criação & Crítica)