O AMOR DE MÃE NÃO É O AMOR DE DEUS

 

Diante de católicos devotos de Maria e de um mundo piegas e inculto, como explicar a diferença fundamental entre o Ágape e o amor materno?

 

 

O Amor de Deus, teologicamente conhecido por Ágape, é perfeito. Isto é, em linguagem técnica, um sentimento onipresente, onisciente e onipotente, tão vivo quanto Deus, podendo até ser confundido com Deus, como muitas vezes o foi (ora, se os cristãos ouviram alguém falar ‘Deus é amor’, e imediatamente o diabo os fez ouvir “o amor é Deus”, era óbvio que o mundo inteiro faria a mesma confusão ou pior). Todavia o Ágape tem todos os seus atributos ‘assessorados’ pela Justiça Divina, peça lógica imprescindível em qualquer sentimento, sem a qual ele quase chegaria a parecer com o amor materno encontrado na Terra.

Em nossa Era das Comunicações e dos incomunicáveis pelo analfabetismo e pela alienação, seria até milagroso encontrar quem falasse algo que diminuísse um pouco o amor de mãe, sem querer se comprometer com a idolatria do amor (sobretudo Eros) com a qual ele próprio se visse envolvido e feliz. "Isto explica porque o sexo é assunto popular" (já dizia o Zé Ramalho) e porque o amor foi literalmente endeusado no mundo pós-moderno. O erro é imenso e catastrófico, e pouquíssima gente o viu ou vê. Este articulista conheceu um só autor que o viu com maestria e o explicou de modo mais perfeito ainda, e a explicação dele é o tema do presente artigo.

CS Lewis é nosso mestre de cabeceira, e nessas horas só ele nos socorre com inerrância. Foi ele quem apontou para o perigo de se confundir “Deus é amor” com “o amor é Deus”, e o leitor pode confirmar isso lendo "Os 4 amores". Foi ele quem mostrou o quanto é capaz de amar uma mulher em "Shadowlands" e o quanto ele próprio praticava o Ágape em "Cartas a uma sra americana". Foi ele também o único capaz de encontrar, neste mundo de mulheres endeusadas pelo sexo e de homens hipnotizados por elas, uma razão teológica, profunda e decisiva para explicitar uma falha no amor da Mulher, que desemboca num defeito encontrado até em Maria de Nazaré. Assim sendo e por tudo isso, o leitor lerá agora o trecho de Lewis em que se encontra a obrigatória distinção que deve haver entre o Ágape e o amor materno. Foi no livro "Cristianismo Autêntico". Veja:

<<As relações da família com o mundo de fora (o que se poderia chamar de política externa) deve depender do homem, porque ele sempre deve ser, e normalmente é, muito mais JUSTO com os de fora. [Porque] A mulher luta principalmente pelos seus filhos – e pelo marido – contra o resto do mundo. Naturalmente, quase com justiça, num certo sentido, os interesses dos seus sobrepujam, para ela, todos os outros interesses. Ela é a depositária especial desses interesses. A função do marido é cuidar para que essa preferência natural da mulher não prevaleça [sobre tudo. Então...]. Ele tem a última palavra a fim de proteger as outras pessoas do intenso patriotismo familiar da mulher. Se alguém duvida disso, deixe-me fazer uma pergunta apenas. Se o seu cachorro mordesse o filho do vizinho ou se o seu filho ferisse o cachorro do vizinho, com quem gostaria de tratar o assunto: com o dono ou com a dona daquela casa? Ou, se o leitor é uma mulher casada, deixe-me fazer outra pergunta. Por mais que a senhora admire seu marido, não acha que o seu principal defeito é a tendência dele de não defender os seus direitos e os dele tão energicamente quanto a senhora gostaria? Não acha que ele é meio apaziguador?...>> [Grifos e colchetes nossos].

Finalmente, vínhamos dizendo que o amor de mãe NÃO É o Amor de Deus, e olhe que o amor de mãe é considerado o sentimento mais nobre da espécie humana! Todavia está longe, bilhões de anos-luz, de poder sequer desatar as correias das sandálias do Amor de Deus! Porquanto o Ágape é essencialmente Razão e Justiça, e dá a cada um conforme as suas obras. Se o meu filho maltratou o cachorro do vizinho, é ele mesmo o culpado e pagará por isso. Deus jamais usará de protecionismo (ou de dois-pesos-duas-medidas) para com um de Seus filhos, só porque É seu filho. Eis porque dizer que o amor de mãe é igual ao de Deus, ou pior, endeusar o amor, é um erro colossal, tecnicamente chamado de sacrilégio.

 

 

Prof. João Valente de Miranda

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