Em 2008, comecei a leccionar na 10ª classe defrontei-me com um problema criado por um aluno; o aluno persistia em dizer que desde que o mundo é mundo o africano ainda não havia produzido nem ciência, nem tecnologia e nem outra forma de conhecimento. Tentei, com provas palpáveis, mostrar-lhe o contrário mas tão rápido percebi que a posição por ele defendida não constituía para ele uma simples opinião ou constatação, mas na verdade aquilo já se tinha consagrado num dogma de vida: portanto, por mais que quisesse fazê-lo perceber o contrário eu não teria sucesso porque não só não estava aberto ao debate mas como também estava preso às suas convicções.
Um ano depois, numa situação idêntica, para o espanto e o arrepio da classe um dos meus colegas na faculdade chegou mesmo a afirmar que o africano não pensa ou melhor dito "não raciocina", que o africano é mais emotivo e que nem se quer foi feito para estudar porque o acto de estudar é para o africano como que uma "violação contra a sua natureza". Contra esta posição me contentei com a resposta dada pelo meu professor a este colega: "está tão preso ao discurso que mesmo depois de lhe ser dada a oportunidade de se livrar dele ainda assim continua a defendê-lo". Ou melhor, o discurso que o colono colocou na cabeça do colonizado é que ele não estava apto para a reflexão e por isso era incapaz de produzir conhecimento, portanto não tinha necessidade de estudar; agora que foi libertado da colonização lhe foi também dada a oportunidade de livrar-se de discursos ideológicos que colocam em questão a sua própria dignidade, mas ainda assim não consegue pensar de outra forma que não seja aquela que lhe foi imposta.
Contudo, esta questão "se o africano pensa ou não" já se soluciona na mesma medida em que se impõe, uma vez que é feita por um africano. Pois que se as questões são feitas senão por aqueles seres que raciocinam então necessariamente este ser terá que estar a pensar para formular esta questão. Portanto mais do que tentar responder esta questão o mais coerente seria considerá-lo de absurda, porque o africano é tão humano e racional como o asiático, o europeu, o americano e qualquer outro ser que seja considerado como pessoa humana, pensante e racional.
Ao fim ao cabo só tenho que acrescer: a racionalidade não depende da cor da pele tão pouco do ponto geográfico em que o ser se encontra mas senão que da própria condição humana contida ou não neste ser.