A presença de governos e dirigentes que assegurem a democracia, em cada uma das nações existentes em nosso planeta, é um "sonho meta", almejado e acalentado por toda a humanidade. Refiro-me a democracia mesmo, na sua mais absoluta plenitude. Democracia, que garanta de fato liberdade aos cidadãos, especialmente quando relacionada às suas escolhas e crenças, pois, homens e mulheres só se realizam, fazem, e são, verdadeiramente, naquilo que acreditam.

Precisamos todos, acreditar, afinal, nem mesmo os deuses existirão, se não acreditarmos neles.

Acreditamos, com isso realizamos a democracia, com ela, parte de nosso sonho de liberdade. Essa conquista, mesmo que apenas parcela da realização do "sonho meta" da humanidade, para a humanidade, possibilitou o surgimento e a existência de um novo deus, o "deus mercado".

Um deus que necessita para existir, como todos os demais, que acreditemos nele, e acreditamos, mas, diferente do verdadeiro Deus, esse, inda assim, é de muito frágil existência na ausência da liberdade, que só a democracia pode assegurar. Então, não será exagero dizer que a existência desse "deus" é uma espécie de armadilha ou uma peça pregada pela "liberdade" assegurada nos ambientes democráticos, talvez para nos mostrar, que necessitamos agir com equilíbrio, afinal, o culto voraz a "deusa mercadoria", filha dileta do todo poderoso "deus mercado", lança-nos em direção ao pior de todos os fins.

Consumir, consumir e cada vez mais consumir é o que nos dita o poderoso onipresente "deus mercado". Incita-nos ao consumo e com isso, nos mantêm reféns, somos caça e caçador, cachorro a correr atrás do próprio rabo. Sem nos dar conta, apenas fazemos a engrenagem girar, e a utopia da liberdade que buscamos encontrar, no final de tudo, é só mais uma maneira de nos manter acreditando.

"Em cada esquina, vemos o sagrado (a vida) se ajoelhar diante da mercadoria, implorando afeto e compaixão. Como a mercadoria não tem esses sentimentos, no seu jogo sedutor, ela lança humanos contra humanos que destroem a vida uns dos outros, como se estivessem incinerando lixo. Nesse jogo de aparência neoliberal, a vida nada vale, a miséria, a pobreza, a violência, o sofrimento humano, as tragédias são transformadas em ganhos mercadológicos. As questões sociais e institucionais são re-apropriadas e ganham outras funcionalidades." (Prado, 2007, p.13)

O culto à "deusa mercadoria", instigado ardilosamente pelas profetisas: "mídia impressa", "mídia eletrônica", "mídia isso", "mídia aquilo" e outras tantas que nem ao menos somos capazes de identificar, e, indiferente do nome que adotam, se nos apresentam sempre, na forma de belas e sedutoras ninfas, que não nos permitem oferecer o menor esboço de resistência, pois nos atraem com seus cantos de sereia para a adoração e aos propósitos do "deus" que seguem.

O "deus mercado", cada vez mais onipresente e poderoso, até mesmo em lugares onde a democracia ainda é incipiente, possui seus seguidores, profetas e profetisas. É um deus que exige ser honrado, e para isso, impõe a adoração e o consumo da "deusa mercadoria", sua dileta filha.

Ao adorá-la e consumi-la, lhe multiplicamos a vida uma vez que se reproduz no ato de nosso consumo, multiplica-se de forma geométrica, e assim, fortalece o todo poderoso "deus mercado", um déspota, que se nutre de nossa mais absoluta falta de consciência e da nossa ignorância, sustentada na crença de que o "grande mercado", uma vez fortalecido, também nos fortalecerá e nos levará ao paraíso.

Ledo engano!