No palco da vida todos nós representamos os nossos papéis, ato por ato , enquanto vivemos, pois que o espetáculo só termina com o nosso último suspiro e antes dele nunca é tarde demais para recomeçar.

O palco é o mundo e os artistas somos nós, que entramos e saímos dele para encenar mais um capítulo a cada dia, como o fez Rita Drummond aos 87 anos de idade, como nos conta César Souza em "O momento da sua virada" ( Editora Gente; S.P.; 2004 ).

Ela era uma bibliotecária santista radicada no Rio de Janeiro e que trabalhou num curso de Inglês, no consulado americano e na Fundação Getúlio Vargas.

Ao se aposentar, passou a dar assistência à biblioteca de uma comunidade carente e a fazer pães e biscoitos para consumo próprio e para atender às encomendas de um restaurante. Sempre que ia ao banco, ela observava a dificuldade dos idosos para operar os caixas eletrônicos, o que ela tirava de letra. A habilidade seria fruto de um curso para aprimorar a memória que ela freqüentou na Universidade da Terceira Idade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro ( UERJ ).

Certo dia, ela tomou uma iniciativa inusitada:- em 15 de dezembro de 2003 virou estagiária de uma agência do Banco do Brasil no Posto 6, em Copacabana. Trabalhava sete horas por dia ao lado de outros atendentes bem mais jovens do que ela e além dos idosos, auxiliava também os turistas que procuravam o banco para sacar dinheiro, porque falava inglês e francês correntemente. Ganhava um pequeno salário que complementava os rendimentos de sua aposentadoria, mais vale-refeição. O gerente da agência tinha muita satisfação em tê-la como voluntária e descobriu que 95% dos clientes eram idosos, pelo que fez algumas adaptações no prédio, como a instalação de elevador, rampas e bancos, para melhorar o atendimento.

Rita também demonstrava grande entusiasmo com o emprego, que era perto de sua casa e oferecia segurança: "Dizem que as pessoas vão envelhecendo, envelhecendo, até virarem crianças de novo. E deve acontecer isso mesmo.Agora eu sou estagiária", dizia com invejável bom humor.

Os sonhos não envelhecem nunca e essa jovem senhora de 87 anos resolveu dar nova chance a si mesma e viver pelo menos mais um ato na vida.

Nunca é tarde para começar alguma coisa quando se tem dedicação e vontade. A vida se compõe de uma sucessão de estágios e cada um de nós pode ter mais de uma chance a qualquer tempo.

A vida é dinâmica e aponta para o futuro, pelo que devemos sempre olhar para a frente, pois quem vive do passado é museu ! ...