NUANCES DA PERCEPÇÃO HOMOSSEXUAL NA ANTIGA BOA VISTA DO PADRE JOÃO[1]: o olhar popular a cerca da sexualidade

William Carlos de Sousa[2]

 

A temática Homossexualidade, mesmo tão presente na contemporaneidade, ainda é um assunto de grande repercussão, muitas vezes considerado “tabu”, ainda mais quando abordado no seio da família tradicional, bem como, a partir de programas de TV, seja humorístico ou telenovelas, como é o caso da recente novela global “Viver a Vida”, em que o pai César (Antônio Fagundes) de família tradicional “descobre” a homossexualidade de seu filho Félix (Mateus Solano) e assim passa a rejeitá-lo e não suportá-lo com suas “esquisitices” “fragilidade de bixinha”, etc, contribuindo com que a temática demonstre uma ‘ridicularização’ do que é ser homossexual na sociedade contemporânea. Com isso, percebe-se que o mesmo não tem acontecido com o casal lesbiano na novela ‘em família’ Clara (Giovana Antonelli) e Marina (Tainá Muller), porventura de a nossa sociedade ser sexista e preconceituosa, percebe-se, que a relação lésbica é “bem” mais aceita que a relação homossexual. O conceito formado antecipadamente as relações eróticas e de poder, povoou no imaginário da sociedade que ver duas melhores “se amassando” é mais normal que ver dois homens de mãos dadas.

Entre os séculos XX e LXX, diversos homossexuais no país viveram de forma clandestina e a margem da tortura. Nas linhas de José Gatti (2000) revelam que “nos anos 30, o abafamento da vida gay era constante e corria por conta da repressão e psiquiátrica”. Por muitos anos, a homossexualidade foi considerada como doença, mas só no ano de 1985 o Conselho Federal de Medicina retirou a nomenclatura de Homossexualidade da rotulação de desvios e transtornos. Isso só foi possível, devido a constante luta do movimento Gay em busca de uma maior visibilidade e pelo direito que lhes são assegurados na Constituição Federal. 

Para uma melhor compreensão da abordagem tratada nesta reflexão, de inicio será discutido alguns conceitos históricos relacionados à história da homossexualidade, das múltiplas visões da terminologia homossexual e sobre as diversas abordagens referentes à sexualidade. Todavia, a pesquisa e coleta de dados se concretizaram a partir de 60 sujeitos de ambos os sexo, utilizou-se a metodologia quantitativa e como instrumento um questionário, tabulação de dados e estatística descritiva. Tem como objetivo descrever e analisar como anda a percepção dos homossexuais no imaginário da sociedade em Tocantinópolis-TO[3], visto que estamos em pleno século XXI, dito por muitos/as como a era da modernidade, da tecnologia e da comunicação, (se mudou ou se continua as mesmas de décadas passadas) para assim delinearmos o que as pessoas pensam sobre a homossexualidade.

Iniciando a Conversa...

Breve Conceito Histórico

Ao propormos discutir tal questão, faz-se necessário, antes de nos aprofundarmos na temática em estudo, tornar compreensível o que de fato significa a homossexualidade. Apoiando-se no dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, encontramos a palavra homossexual referindo-se à afinidade, atração e/ou comportamentos sexuais entre indivíduos do mesmo sexo. Sua terminologia é originária da Grécia, tendo os significados homo (igual) e do latim (sexus) concluindo assim as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Analisando a História da Homossexualidade na Grécia Antiga, constatamos que desde o principio da humanidade, sujeitos já praticavam relações sexuais homo. “Os registros arqueológicos mais antigos onde interpreta-se uma conotação homoerótica apontam para 12000 A.C. Civilizações antigas da ÍndiaEgitoGréciaAmérica têm registros históricos de períodos onde a homossexualidade era retratada em cerâmica, escultura e pinturas[4]”. Na Grécia, a pederastia era considerada normal, e resume-se na relação amorosa entre um homem mais velho para com um adolescente. Além da função de sentir prazer, a pederastia consistia em formar o futuro jovem como sublime inteligente e culto. No entanto, a relação entre dois homens adultos não era aceito devido ao ato de penetração, pois, na pederastia, o passivo ficava a caráter do adolescente. Assim, a pederastia não era reprovada, pois o foco não estava centrado no sexo pelo sexo, e sim na busca ao belo e culto, como já dito anteriormente.

Nesta relação, o que estava em jogo, era algo muito mais além da busca pelo prazer. Assim como aponta Luis Augusto de Freitas Guimarães, no seu artigo Sobre a Homossexualidade na Grécia Antiga:

Além da componente etária, a relação de pederastia incluía a questão do status social, nesse sentido o homem deveria ter ascendência intelectual, cultural e econômica sobre o adolescente. Afinal, ele complementaria a formação do jovem, iniciando-o nas artes do amor, no estudo da filosofia e da moral. Havia toda uma ritualização envolvendo a aproximação do homem que estivesse interessado por um adolescente. A corte era necessária para que a relação tivesse o carácter de bela e moralmente aceite. Os papéis nesse caso eram bem definidos,o homem (erastes) fazia a corte e o adolescente (erômeno) era o cortejado, podendo deixar-se conquistar ou não. O homem, ao cortejar, presenteava, prestava favores, ia ao ginásio ver o adolescente exercitar-se (e geralmente exercitava-se nu) e praticava com ele os exercícios físicos até a exaustão, uma vez que não possuía o mesmo vigor físico da juventude. O adolescente, por sua vez, deveria ser gentil e ao mesmo tempo por à prova o amor do pretendente. A conquista era incerta, pois caberia ao jovem a palavra
final (p. 01)

Embora a relação sexual na Grécia Antiga fosse aceita entre um homem mais velho para com um adolescente, a pederastia tinha seu fim logo quando o adolescente apresentasse seus primeiros sinais de virilidade, quando já estivesse para se tornar homem, por volta dos seus 17/18 anos. Esse adolescente que adentrava a vida adulta, posteriormente, exerceria a função de pederasta com outro adolescente, e, assim, sucessivamente.

A questão da pederastia nos tempos de Grécia Antiga, como estava ligada a uma questão cultural, era aceita pela sociedade, e, quando falamos em cultura nos remetemos ao conjunto de experiências humanas como os costumes, conhecimentos, modos e hábitos de determinados povos, cada sociedade possui sua determinada cultura, distintas uma das outras. No Brasil, a pederastia pode trazer graves consequências ao adulto que pratica tal relação com o adolescente “[...], sobretudo se se trata de parceiros do mesmo sexo [...]” (MOOT, 2003, p. 78). Essa consequência se dá devido a maioridade no Brasil se efetivar a partir dos 18 anos de idade. Ou seja, qualquer relação com um adolescente menor de 18 anos é processo de justiça. De acordo com MOOT (2003), na Europa a maioridade sexual varia de país para país, por exemplo, na Espanha é de 12 anos, na Áustria, Alemanha, Itália, Portugal é de 14 anos; na França 15 anos; e na Bélgica, Holanda, Austrália e em Israel 16 anos. A nosso ver, o Brasil necessita de medidas urgentes, no que tange a reformulação de suas leis, pois, esse mesmo adolescente que não pode ter relações sexuais com um adulto é o/a mesmo/a que rouba que mata e que de nada lhes acontece, devido à lei que ora protege os adolescentes, ou de certa forma dá posses para que os mesmos pratiquem tais atrocidades. Neste sentido, acreditamos numa redução de maioridade a fim de coibir tais ações que facilitam a inserção desse adolescente em determinada ação. Contraditoriamente com o exposto, aos 16 anos ele pode decidir o destino do país, pois tem direito de votar e eleger representantes.

Como nosso foco está centrado na homossexualidade masculina e não na homossexualidade feminina, apesar de que compõe o mesmo grupo excluído, considerado por muitos/as minoritário, mas que de minoria não tem nada, são milhões e milhões no mundo, e como MOOT (2003) nos diz isso, que 10% da população brasileira são homossexuais, deixaremos para outro momento aprofundarmos nas análises da homossexualidade feminina, onde é utilizado o termo lésbica, para designar uma mulher homossexual, que também teve seu principio na Grécia Antiga.

Diversidades e Significações da terminologia Homossexual

De acordo com Peter Fry e Edward MacRae (1991), a Homossexualidade tem infinita variação sobre a temática: o das relações sexuais e afetivas entre pessoas do mesmo sexo. Neste sentido, não podemos entender a homossexualidade como uma coisa estática, pois a mesma pode ter varias significações. Nesta mesma linha de raciocínio, os autores continuam diferenciando a definição de homossexualidade onde pode ser para um camponês do Mato Grosso uma determinada interpretação e outro significado para um candidato a Governador do Estado de São Paulo. Ou seja, a homossexualidade é entendida de acordo as particularidade e diversidade de cada povo, cada sujeito, cada sociedade. (grifo nosso).

Em 1979 já se viam o embate do movimento homossexual em busca dos seus direitos e visibilidade da sua sexualidade. Neste ano, diversos membros do grupo “SOMOS – Grupo de Afirmação Homossexual” já se reuniam em manifestação e em universidades como a USP para debater a importância do movimento homossexual na conjuntura política, econômica e social, prestigiando e dando apoio ao grupo feminismo, obtendo assim autonomia para lutarem contra o machismo (FRY e MACRAE, 1991).

Ainda de acordo com FRY e MACRAE (1991), na década de 1960, surge um novo termo para nomear uma figura social cada vez mais comum e aceita, o “entendido” e a “entendida”, uma espécie de equivalente tupiniquin do gay, que se alastra nos Estados Unidos na mesma época. O “entendido” e o gay vieram a denominar fundamentalmente pessoas que “transam” pessoas do mesmo sexo sem que adotassem  necessariamente o “trejeitos” associados às figuras da “bicha” ou do “sapatão”.

Os movimentos homossexuais permaneceram por anos, e as lutas foram crescendo. A sociedade encarava esse público com certa barreira em aceitar o diferente, e com isso os homossexuais foram sendo alvo de “piadinha” e ‘chacotas’. Raramente vemos algum sujeito homossexual que transitaram pela vida sem ter sido alvo de chingamentos, bullyng e homofobia.

MOOT (2003) no seu livro Crônicas de Um Gay Assumido destaca 05 (cinco) mitos e verdade em que a sociedade “tem” em relação aos homossexuais. O primeiro segundo o autor é de que todo gay tem dentro de si uma mulher acorrentanda. O autor desconstrói essa ideia equivocada fazendo uma ressalva de que não é só porque o sujeito é homossexual que ele vai querer se figurar como mulher. Segundo ele, 99% dos homossexuais estão satisfeitos em serem homens, gostam do seu pênis, não sentem vontade em tornar-se travesti nem mulher, mesmo que muitos possuem trejeitos afeminados, a maioria dos gays está feliz com o seu corpo e modo de ser masculino; O segundo mito, refere-se ao que a sociedade ‘pensa’ que Todo Homossexual é um viciado em sexo. Segundo Moot, ex-presidente do Grupo Gay da Bahia – GGB, há décadas a instituição vem realizando pesquisas com diferentes categorias de homossexuais e chegou à conclusão de que muitos gays passam meses seguidos sem ter sequer uma só relação sexual; O terceiro mito é que A Homossexualidade seria sinônimo de cópula anal. Percebemos que essa ideia é bastante povoada no imaginário da sociedade, pois, se o homossexual não possui vagina, a realização sexual se efetivará via anal. Misero de quem pensa que sexo só se faz com penetração. Há enes possibilidades de se chegar ao prazer e ao orgasmo, sem necessariamente haver a penetração, como beijos calientes, sexo oral, amassos pegantes e firmes, etc. E não necessariamente um homossexual só pratica a passividade, os papéis podem se inverter a depender da ocasião, assim como o autor aponta “tem muito gay do mais machudo ao mais efeminado, que simplesmente não gosta nem de ser comido nem de comer ânus de ninguém [...]” (MOOT, 2003, p. 35). O quarto mito é o de que Todos os Homossexuais são molestadores de crianças. Nessa representação, o autor coloca que pesquisas comprovam o contrario e que são os heterossexuais que mais abusam sexualmente de crianças chegando aos dados de 90% e que os casos de pedofilia e pederastia são propensão tanto de heterossexuais quanto homossexuais, mesmo que embora a sociedade aceita mais normalmente a relação de um adulto para com uma adolescente, do que um adulto homossexual para com um adolescente. E por fim temos o quinto e último mito em que o autor aborda, e é novo, mas que muitas sociedades já adotaram, e se refere a que Homossexuais são transmissores da peste Gay. Pura ilusão de quem concebe e introjeta essa representação, pois, a homossexualidade não é um vírus HIV que se contagia através do sangue e do contato (MOOT, 2003, p. 33-35) (Grifo nosso).

De acordo com o Departamento de DST e AIDS[5] no país, em relação à forma de transmissão do vírus HIV, nas mulheres, somando 86,8% dos casos registrados em 2012, decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Já entre os homens, os dados mostram que 43,5% dos casos se deram por relações heterossexuais, 24,5% por relações homossexuais e 7,7% por relações bissexuais. Portanto, verifica-se o grande índice de infecção de AIDS no Brasil, estão entre os que se dizem heterossexuais. Os homossexuais há anos procuraram se informar, conhecer a realidade do vírus e assim sempre procurar melhores maneiras de se prevenir, através do uso adequado do preservativo e também de contaminação sanguínea.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

Fazendo esse paralelo entre a visão da homossexualidade na Grécia, a contextualização da significação homossexual com a sexualidade na contemporaneidade, muita coisa mudou. Os sujeitos homossexuais, as relações sexuais, a partir de seu principio, tomaram novos rumos e foram se desenvolvendo em diversas formas de se viver a sexualidade. Atualmente, não necessariamente, um sujeito que pratica relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo, é definido como homossexual, pois, a homossexualidade não é definida pela prática do sexo, mas pela identidade e orientação sexual. Alguns homens procuram sexo com gays, não com a intenção amorosa, mas por satisfação sexual. A relação sexual pode variar de pessoa para pessoa. A intenção aqui, não é apontar que é ou não gay, mas refletir sobre as variantes que determinam nossa sexualidade.

Sexualidades: algumas abordagens teóricas

No tocante a reflexão sobre as variantes formas de se viver ‘as sexualidades’, faz-se necessário, explicitarmos o que de fato se resume as orientações sexuais. Mello (2009) deixa claro em suas linhas que a orientação refere-se ao sexo em relação ao qual se tem sentimentos eróticos. Em consonância com o exposto, Carvalho (2012) [6], aponta que as orientações sexuais são divergentes, e na prática, estão dividas em heterossexualidade, bissexualidade e homossexualidade. Ou seja, as orientações sexuais são as relações pelos quais os/as sujeitos se relacionam sexualmente, entendida a heterossexualidade como sujeito/a que sente atração pelo/a sujeito/a do sexo oposto, bissexualidade, o/a sujeito que sente atração afetiva por pessoas de ambos os gêneros e o homossexual é aquele que sente desejos, atração sexual por pessoas do mesmo sexo.

O respeito e a valorização do ser humano são fundamentais para o processo de construção das personalidades do ser, como para o convívio social da humanidade. De acordo com Araújo e Camargo (2012) [7].

O tratamento ao cidadão com os direitos cíveis não se limita à orientação sexual. Trata-se, assim, de uma liberdade individual que se estende a todas/os que compõem nossa sociedade. O que está em questão é a necessidade de preservação da dignidade humana, incluindo-se aí alguns direitos inalienáveis do ser humano, pois vivemos em um país democrático, que tem como principio norteador, ou pelo menos deveria, o respeito à dignidade humana. Não podemos conceber um país quer laico, regido por tais princípios da Constituição Federal, continue a sonegar juridicidade aos cidadãos que têm direito individual à liberdade, direito social à proteção positiva do Estado e, sobretudo, direito humano à felicidade (p. 39).

Além da nossa Constituição Federal de 1988 que institui em seu Artigo 3º, inciso IV, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, bem como no seu Artigo 5º afirma que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” e concomitante com isso temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos que em seu Artigo 1º diz que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”, percebe-se que temos enes possibilidades de chegarmos a um patamar de socialização e respeito mútuo de um para com o outro. O que de fato necessita, é a sociedade saber interpretar e reproduzir o que as Leis e Declarações nos dizem.

Ao falarmos de temas que diz respeito à sexualidade, estamos abordando algo que todo ser humano tem e que é uma energia que direciona essa pessoa, desde seu nascimento até a morte, para assim se relacionar com as outras, não só relação social ou familiar, mas de relacionar efetivamente e eroticamente (COELHO, 2012) [8].

As relações sociais entre os sujeitos, o falar do sexo, assim como em A História da Sexualidade, Foucalt (1988), centra-se nos mecanismos de repressão, que decorre no século XVII, onde surge o nascimento das grandes proibições, valorização excluisva da sexualidade adulta e matrimonial, imperativos de decência, esquiva obrigatória do corpo, contenção e pudores imperatios da linguagem; e a outra se dá no século XX, onde é o momento em que os mecanismos da repressão teriam começado a aforuxar-se, ou seja, a partir daí, houve um avanço em relação à tolerancia e a condenação da lei por tais atos eliminada em parte (FOUCALT, 1988, p.126). No fim do século XVIII, brotava uma tecnologia do sexo bastante nova, através da pedagogia que tinha como objetivo a sexualidade específica da criança; da medicina  que tratava da fisiologia sexual própria das mulheres; e da economia, onde não faziam do sexo uma questão leiga, mas sim um negócio de Estado (p. 127). A ideia principal do autor em seu manuscrito é analisar a sexualidade numa visão muito pouca discutida percebida como um dispositivo de poder que de certa forma, respalda numa dominação. É perceptível em sua análise, uma distância relacionada à visão tradicional de um poder que estivesse centrado nas mãos do Estado e na lei, oprimindo assim, o sexo do homem.

O discurso que permeava em torno do sexo, era embasado num discurso de poder entrelaçados pelas relações de poder e pela causa política. Falar de sexo, além de prazeroso e gostoso, é um assunto que deve ser pautado num discurso principalmente na adolescência, onde muitos pensam que sabem sobre o assunto, mas que, no entanto, quando se vai ao mais profundo do discurso, percebe-se o pouco conhecimento que eles têm relacionado ao sexo. A base dos discursos entre os jovens e adolescentes passa apenas pelo ato sexual. Não perpassa as relações de afetividade, de cuidado e de preservação.

Contudo, Foucalt (1998), pontua que:

[...] Há dezenas de anos que nós só falamos de sexo
fazendo pose: consciência de desafiar a ordem estabelecida, tom de voz que demonstra saber que se é subversivo, ardor em conjurar o presente e aclamar um futuro para cujo apressamento se pensa contribuir [...] (p. 13).

O autor defende que devemos falar de sexo livre e abertamente. “empregar um discurso onde flui um ardor do saber, a vontade de mudar a lei e o esperado jardim das delícias” (p. 13).

  Desse modo, CECCARELLI (1999), no seu artigo “Diferenças Sexuais... Quantas Diferenças Existem?” aponta que a questão da distinção dos gêneros e da diferença dos sexos nos remete a duas modalidades identificatórias cuja distinção faz emergir duas problemáticas que freqüentemente se superpõem mais que devem ser tratadas separadamente: de um lado, o sentimento imutável que se estabelece bem cedo e que constitui o núcleo mesmo da identidade de gênero. Tal sentimento se traduz por: "Eu sou menino" ou "eu sou menina". Do outro lado, o sentimento que se traduz por "eu sou masculino" ou "eu sou feminina", que se refere à masculinidade e a feminilidade, resultado de investimentos e identificações, num corpo suporte de fantasmas marcando assim suas funções e seus desejos. A construção deste sentimento, bastante complexo e sutil, é dependente da situação edipiana cuja dinâmica só se completará na época da puberdade quando a polaridade "órgão genital masculino/castrado, será substituída por masculino/feminino, e a diferença dos sexos terá por base a realidade material pênis/vagina”.

Vale ressaltar que no país, temos três grandes nomes que sempre estiveram à frente da luta e da causa homossexual. A elas damos destaque ao mais antigo, “Somos: Grupo de Afirmação Homossexual”[9], o “Grupo Gay da Bahia – GGB”[10] e a A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT[11]. Além de diversas instâncias de grupos e militância em todo o país e em diversas cidades. No Tocantins temos a Associação Grupo Ipê Amarelo Pela Livre Orientação Sexual – GIAMA, situada na capital, Palmas. O que estas instâncias representativas têm em comum? Simples: Lutar por direitos e cidadania LBGT tão estigmatizada e contribuir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, sem preconceito independente de sua orientação sexual e identidade de gênero.

Metodologia

Participantes

Participaram da pesquisa 60 sujeitos com idade entre 16 e 40 anos. A referida pesquisa foi desenvolvida no município de Tocantinópolis – TO.

Instrumentos

Para coleta de dados, foi elaborado um questionário com perguntas estruturadas sobre escolaridade, raça, religião, e as questões específicas de que nos interessa, com o intuito de analisar a representação dos homossexuais no imaginário da sociedade.

Procedimentos

Foi feito a aplicação dos questionários em dias distintos. No dia 05 do mês de setembro de 2013 foram aplicados trinta questionários, seguido do dia 06 mais trinta questionário envolvendo pessoas da universidade e da sociedade. Em seguida, deu-se uma leitura da coleta de dados a fim de um possível cruzamento dos dados, bem como identificar os sujeitos que responderam os questionários. Os dados foram analisados através de análise de estatística descritiva em alguns gráficos a fim de propiciar banco de dados. Na pesquisa, o sigilo com relação ao entrevistado é total, não havendo necessidade de identificar quem foi o sujeito (nome da pessoa), apenas identificar sua resposta/representação.

 

Resultados e Discussão

Com os dados coletados dos 60 (sessenta) sujeitos em mãos, procedemos o inicio da nossa análise sobre a percepção do que as pessoas pensam sobre os sujeitos homossexuais. Sujeitos esses que sofrem preconceitos, estereótipos, são vítimas de homofobia, de violência física, psicológica e simbólica e que há anos vem lutando por seus direitos. Direitos estes garantidos na Constituição Federal, direitos básicos a todos nós seres humanos: o direito de viver livre independente da sua sexualidade.

Em relação ao sexo dos sujeitos entrevistados, predominou os sujeitos do sexo masculino, somando (75% ) e o sexo feminino (25%).

No que se refere à raça/cor dos sujeitos entrevistados, a cor branca ficou com (21,6%), os/as sujeitos negros/as (30%), as pessoas pardas com (40%), a cor indígena com (3,3%) e a cor amarela somou (5%).

Este dado nos revela a grande barreira em que a população brasileira tem em não afirmar à sua raça verdadeira, onde, muitos/as tentam ‘forjar’ sua cor negra, rotulando-se de pardo, fazendo que os pardos tenham um numero superior aos negros. Mas também é visível a conscientização da população em afirmar-se negro/a que foi um numero bastante significativo: 30% afirmaram-se negros/as.

Com relação à idade dos sujeitos entrevistados/as, com idade entre 16 e 18 somou (1,6%), com um dado maior de 19 a 25 anos totalizando (43,3%). As pessoas com 26 a 30 anos somaram (40%), os sujeitos com idade entre 31 e 40 anos foram (13,3%), e pessoas com mais de 40 anos somou (0%). Analisando a idade dos/as sujeitos entrevistados, temos um numero bastante significativo em relação aos jovens, pois, unindo os dados das pessoas com 19 a 25 anos (43,9), com os 26 a 30 anos (40%) e com os sujeitos de 31 a 40 anos (13,3%) temos um total de (96,3%) de pessoas jovens. Ou seja, a idade que prevalece entre os sujeitos entrevistados gira em torno dos 19 a 40 anos, e assim como ressalta RISCAROLI (2012), baseado nos dados do IBGE quando evoca a População Economicamente Ativa (PEA), em síntese, as pessoas que estão em processo de construção, produção, desenvolvimento e geração.

Em relação à religião dos sujeitos entrevistados, temos os seguintes dados: totalizando um numero bastante significativo de entrevistandos com religião católica (75%), seguida dos sujeitos evangélicos (11,6%), os espíritas, ateus e protestantes somando (1,6%) e por fim (10%) dos/as entrevistados responderam ter um outro tipo de religião, assim como mostra a tabela.

Tabela 1.

Católicos

Evangélicos

Espíritas

Ateus

Protestantes

Outra religião

75%

11,6%

1,6%

1,6%

1,6%

10%

 

A escolaridade dos sujeitos entrevistados ficou subdividida da seguinte maneira:

Tabela 2.

Grau/nível de escolaridade

Percentual

Ensino fundamental

1,6%

Ensino Médio

41,6%

Graduando

50%

Graduado

1,6%

Mestre

1,6%

Doutor

1,6%

 

A predominância neste dado, se sobressaindo foram metade dos entrevistados está cursando o ensino superior, e um numero bastante significativo de pessoas que possuem o segundo grau completo.

Adentrando nas questões em que mais nos interessa, mais precisamente nas questões especificas na qual este artigo propõe discutir, questões (distintas das já citadas a cima) a respeito da representação homossexual para os/as entrevistados/as.

Em relação ao comportamento dos sujeitos homo, indagamos aos/as entrevistados/as:

Gráfico 1.

 

 

Analisando a representação dos homossexuais no imaginário da sociedade/entrevistados/as[12], vemos que os homossexuais para os sujeitos ‘normais’ são bastante alegres (66,6%). Aos entrevistados/as, ser Gay é ser também ser um sujeito inteligente onde (38,3%) afirmam que os homossexuais são dotados de inteligência. Outro aspecto bastante significativo em relação aos homossexuais é que (60%) dos entrevistados/as responderam que eles são criativos, (30%) disseram que os homossexuais são educados, os (18,3%) disseram que os sujeitos ‘homo’ são receptivos, e um numero bastante expressivo (48,3%) mostram que os homossexuais são amigos, (23,3%) dos/as entrevistados responderam que os homossexuais são frágeis, e um numero bem pequeno (10%) responderam que alguns dos homossexuais são escandalosos e os demais adjetivos: falso, ignorante, insociável, arrogante e cafona ficaram com 0%, ou seja, esses adjetivos não representam os homossexuais no imaginário dos entrevistados.

Quando indagamos sobre “A Homossexualidade é definida como” as/os pessoas entrevistadas/os responderam: (18,3%) o sujeito homossexual é uma pessoa afeminada que possuem ‘trejeitos’ afeminados, as pessoas que disseram que homossexuais são pessoas que tem relações sexuais com pessoas do mesmo sexo (13,3%), já para (26,6%) homossexual é a pessoa que sente desejo por pessoas do mesmo sexo. A maior parte dos entrevistados (40%), quase que a metade, disseram que a homossexualidade é definida como uma identidade de gênero/identidade homossexual, (23,3%) responderam que a definição de homossexualidade é uma das formas de viver a sexualidade. Os sujeitos que responderam que Homossexuais são as pessoas que tem relações sexuais e que sentem desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo somam 39,9%. Isso afirma o que (BUSIN Apud PENECHY, 2005, 2012) discutem que a homossexualidade, refere-se a uma tendência a se estabelecer relações afetivos-sexuais preponderamente com pessoas do mesmo sexo (p. 61). No que se refere à identidade homossexual, BUSIN (2012) aborda que “quando pensamos em identidade de alguém, pensamos como uma pessoa “é”. Isso quer dizer que imaginamos que exista algo como uma substância pré-existente que define aquela pessoa” (p. 61). Ou seja, a identidade homossexual vai se construindo a partir das significações e do que a autora chama de “atributos”. Atribuição da significação em ser homem ou ser mulher e assim constituem suas vidas e seus modos de viver sua sexualidade.

Em relação à questão do ser homossexual, como caracteriza a manifestação homossexual: “Um sujeito Homossexual ele?”

Tabela 3.

Nasce homossexual

Vira homossexual

Se constrói homossexual a partir das relações sexuais e com o meio

55%

11,6%

36,6%

 

Das pessoas entrevistadas, (55%) disseram que o sujeito nasce homossexual, (11,6%) responderam que ele “vira” homossexual e (36,6%) concluíram que os homossexuais se constroem homo a partir das relações sociais e com o meio. Esse dado é suma relevância, pois, através dessa pesquisa, estamos mostrando aqueles sujeitos preconceituosos, que discriminam homossexuais, que somente a educação é capaz de desconstruir barreiras, e nos elevar a um patamar de uma educação menos preconceituosa e mais humanizada. Somando os dados maiores em que os/as entrevistados/as responderam (55%) disseram que o sujeito nasce homossexual e (36%) disseram que os homossexuais se constroem a partir das especificidades de cada sujeito. Isso nos remete ao dado do grau de escolaridade dos sujeitos entrevistados (citado logo a cima), onde 50% dos entrevistados estão cursando o Ensino Superior e 41,6% possuem o Ensino Médio Completo, (1,6%) com mestrado e o mesmo resultado com doutorado. Acreditamos que uma educação que respeite o outro pode começar de muito cedo. Desde que a família esteja envolvida no processo de educação dos seus filhos, orientando, e, não apenas deixando como responsabilidade da escola, pois a escola que deveria ter o papel de ensinar, hoje ela é “obrigada” a fazer o duplo papel ensinar/educar.

Fazendo a junção dos dados em que os homossexuais nascem gays e que se constroem homossexuais a partir das relações sociais e com o meio assim como BUSIN (2012) aponta que:

A homossexualidade [...], vai se manifestar depois da puberdade, quando a maioria das pessoas começa a ter atração sexual por outras, o que vai ocorrer pelo menos onze ou doze anos de idade. Isso significa que, mesmo antes de sentir atração afetiva e/ou sexual por alguém do mesmo sexo, temos contato com todo esse repertório, que circula em nossa sociedade nos mais diversos âmbitos, por processos primários e secundários de socialização que incluem a família, os círculos de amizades, a escola, os locais de cultos religiosos, a mídia (TV, rádio, revistas, jornais, Internet), etc, (p. 69).

Isso nos revela que ao sujeito homossexual ‘apreendem’ que não só o instinto e o desejo sexual por pessoas do mesmo sexo não determinada a categorização de ser gay ou ser homem, mas sim, as significações que foram construídas socialmente vão-lhes direcionando sua orientação sexual e sua sexualidade.

No que se refere à convivência com pessoas gays, indagamos:

Gráfico 2.

 

 

Neste gráfico[13], temos dados de que (85%) das pessoas tem algum amigo homossexual, (40%) deixariam seus/suas filhos/as estudar com um sujeito homossexual, o mesmo respaldo de (40%) das/os entrevistados iriam a uma festa com um homossexual e apenas (5%) respeita, mas não gostaria de ter amigos e nem que seus/suas filhos/as fossem amigos/as de homossexuais. Pelo exposto, percebemos o quanto os homossexuais são amigos das pessoas heterossexuais, principalmente, as mulheres do sexo feminino. É bastante raro ver um homossexual ter amizades com um hetero, mas quando se fala em amizade com mulher, pode ter certeza, que onde tem uma mulher, tem um homossexual! Ao contrario da pesquisa realizada no ano de 2000 e publicada em 2004 pela “Juventude e Sexualidades”, assim como aponta REIS (2012), em que na pesquisa 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual. Nossa pesquisa vem dizer ao contrário, que 40% das pessoas entrevistadas no município de Tocantinópolis-TO, deixariam seus/suas filhos/as estudar com um/a homossexual.  Esse dado significativo demonstra que a informação a cerca da sexualidade é de suma relevância para desconstruir conceitos arraigados de estereótipos e ódios contra os homossexuais. Outro numero bastante significativo, 40% iriam ou já foram e não tem nenhum problema em ir a uma balada com um homossexual e apenas 5% respeitosamente aceitam, mas, é aquela coisa: cada um no seu quadrado.

Sobre a “Presença de um Homossexual te incomoda?”, das pessoas que se dispuseram a compartilhar com a pesquisa, (96,6%) responderam que a presença de homossexual não incomoda de forma alguma, e (3,3%) responderam que sim, que a presença de um homossexual vos incomoda. É válido ressaltar que durante a pesquisa, algumas pessoas entrevistadas emitiam seu ponto de vista, assim como um dos entrevistados nos disse: “a presença de um gay não me incomoda, desde que ele respeite o ambiente e não faça gracinhas”, ou como BUSIN (2012) aponta, e que ouvimos pessoas dizerem “Não tenho preconceito contra homossexuais, não me importa que se relacionem com pessoas do mesmo, desde que eles fiquem entre quatro paredes” (p. 71). De fato alguns homossexuais, mais precisamente as chamadas “bichas loucas” utilizam de trejeitos considerados por muito “escandaloso” e que incomoda algumas pessoas. Mas o que não podemos, enquanto cidadãos é querer intervir na personalidade do outro, o que devemos propor é ‘exigir’ de ambas as partes respeito mútuo.  Querer entender as formas de ser seja extrovertida, escandalosa, triste, alegre, etc, é uma questão que possivelmente nem a ciência consiga explicar. Vemos diversas mulheres escandalosas, ou homens escandalosos, então porque dizermos que somente os homossexuais são escandalosos? É sabido que o temperamento do sujeito é totalmente diverso um do outro. Neste sentido, acreditamos que as relações que o sujeito esta inserido, desde o seu principio, é que vai definir/influenciar a personalidade humana de cada um. Entendendo assim, a personalidade como um conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de cada sujeito.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Segundo MOOT (2003), “estima-se que uma em cada quatro famílias abriga em seu seio um filho ou parente homossexual” (p. 38). Em conformidade com isso, questionamos: Você possui alguém Homossexual?[14]

Gráfico 3.

 

 

Os dados nos revelam, que apesar da junção da vergonha/medo em declarar se o/a entrevistado possui alguém na família Gay, cerca de (23,3%) responderam que possuem algum parente na sua família homossexual, já (20%) responderam que possuem homossexuais no ambiente escolar, (6,6%) mostram que possuem alguém homossexual no trabalho e (66,6%) possuem homossexual fora destes ambientes citados.

Ao questionarmos sobre “Você tem algum amigo Homossexual?”,[15] considerando que os/as entrevistados/as responderam mais de uma questão, temos os seguintes dados: (83,3%) possuem algum amigo Homossexual do sexo masculino, cerca de (16,6%) responderam que tem algum/a amigo/a homossexual feminina, ou seja, lésbica, (13,3%) responderam que não possuem amigos Homossexuais, apenas (1,6%) possui um amigo travesti e (0%), ninguém tem um amigo/a transgênero. Neste tópico, percebe-se que das pessoas entrevistadas, um numero bastante expressivo de pessoas que tem amizades com um sujeito homossexual do sexo masculino (83,3%). Até o presente momento, não temos dados concretos de pessoas transgênero e travesti na cidade de Tocantinópolis. Talvez, por conseguinte, as pessoas desta categoria, preferir cidades de grande porte, por fazer uso do seu corpo como forma de trabalho, pois cidades pequenas, raramente oferecem de forma clara esse tipo de serviço, o uso do sexo como forma de obtenção subsistência, não negando aqueles casos “abafados”, as escondidas, “debaixo de sete capas”.

E por fim, a última questão se efetivou a partir da seguinte indagação: “Você já praticou algum tipo de violência contra Homossexuais?” [16]. Dos/as sujeitos/as entrevistados, (81,6%) responderam que não, nunca praticaram algum tipo de violência contra homossexuais, sendo que (18,3%) responderam que já praticaram a violência simbólica contra os homossexuais, que são piadas, brincadeiras, bullyng, chacotas, etc,. As categorias de violência física e psicológica atingiram (0%), ou seja, ninguém praticou violência física e psicológica contra os homossexuais.

Mesmo com a resistência de alguns/mas entrevistados/as em declarar ter praticado algum tipo de violência contra LGBT, os que tiveram a bravura de afirmar (18,3%) que já praticaram violência simbólica contra essa categoria, dados de REIS (2012) na pesquisa realizada nas Paradas LGBT no Rio de Janeiro no ano de 2004, em São Paulo em 2005 e Pernambuco no ano de 2006 revelam que 56% dos LGBT sofreram agressão verbal. A todo o momento os homossexuais são vítimas de piadas e brincadeiras que vão sendo introduzidos no interior da personalidade do sujeito homossexual fazendo com que o mesmo sinta vergonha de si mesmo, sinta-se rejeitado, nojo e que “não goze da plenitude de direitos humanos assegurados pela Constituição Federal, chegando raras vezes a tê-los violados, por atos ou por omissão” (REIS, 2012, p. 36).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...

 

A créditos de considerações finais é válido ressaltar que a pesquisa trouxe um melhor entendimento sobre a representação dos Homossexuais no imaginário da sociedade tocantinopolina. Pela pesquisa, é visível que com o advento da modernidade as pessoas vão se ‘ajeitando’, se reinventando e assim construindo novos conceitos.

Há anos atrás, ser gay era sinônimo de vergonha, de nojo e de exclusão. Antes, os sujeitos homossexuais eram vistos como “cafona”, “arrogante”, “escandaloso” e outros adjetivos em que nossa pesquisa veio desconstruir essa visão, demonstrando que uma nova categoria de visão homossexual aflora a cada dia, pois os dados são verídicos e revelam que (30%) os homossexuais representam sinônimo de educados, para 60% criativos e para 48,3% o homossexual é um ótimo amigo. Só isso não é o suficiente, pois essa categoria que luta por direitos e cidadania almejam mais e mais. Almeja uma sociedade igualitária, uma sociedade justa que respeite as diversidades, que seja uma sociedade multiplicadora dos valores éticos e das relações de respeito mútuo entre o outro.

Mesmo que a pesquisa nos traga dados de uma melhor aceitação do publico homossexual e uma maior visibilidade de sua personalidade, não devemos negar e fingir que esta tudo bem. O preconceito contra os homossexuais continuam, os casos de homofobia a todo o momento assola esse grupo, e dados atuais apontam que segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB)[17], os assassinatos de homossexuais, travestis e lésbicas em todo o País somaram 260 no ano passado, registrando um crescimento de 31% sobre o total registrado em 2009. Responsável pelo trabalho, o antropólogo Luiz Mott, acredita, no entanto, que o número possa ser maior.

Por outro lado, alguns avanços são possíveis ser perceptível através da luta desse movimento, assim como aborda REIS (2012):

  • A publicação do I Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) no ano de 1996, que teve como propósito apoiar programas de prevenção contra grupos em situação de vulneráveis como crianças, homossexuais, indígenas, sem terras, etc.;
  • Bem como as abrangências de ações propostas para a população LGBT enfatizando as áreas de “Garantia de Direito à Liberdade: Orientação Sexual”; “Garantia do Direito à Igualdade: Crianças e Adolescentes”; “Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais – GLTTB”; “Garantia do Direito à Saúde, à Previdência e à Assistência Social”; e “Garantia de Direito ao Trabalho” (REIS, 2012 Apud BRASIL, 2002);
  • O Plano Nacional Brasil Sem Homofobia, construído no ano de 2003 e lançado em 25 de maio de 2004;
  • A I Conferência Nacional LGBT realizada em 2008, e no mesmo ano a criação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a Coordenação-Geral de Promoção dos Direitos LGBT;
  • No ano de 2010 a Conferência Nacional de Educação aprovou vinte e cinco deliberações em relação a gênero e diversidade sexual;
  • A Resolução nº 001 / 1999 do Conselho Federal de Psicologia, onde a resolução amplia a CID 10 configurando uma nova versão em no sentido de a homossexualidade não ser mais considerada doença;
  • E a mais recente no ano de 2011, onde no dia 05 de maio o Supremo Tribunal Federal votou a favor da união estável homoafetiva, bem como, da união estável de mulheres lésbicas (REIS, 2012, p. 36-37-38-39-40).

Nesse sentido, acreditamos na proposta de uma educação que esteja voltada para a contemplação máxima dos conhecimentos históricos, sociais e culturais, bem como a valorização e respeito à diversidade e as singularidades do outro. No entanto, percebe-se o despreparo dos docentes, principalmente na educação infantil, para tratar do assunto. Ainda há tabus em relação a se discutir o tema sexualidade na escola, apesar de que existem vários projetos do Ministério da Educação voltado para a diversidade, no caso, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI que dispõe de formação continuada para professores a fim de instruí-los a cerca da importância de se discutir a diversidade em sala de aula. O que de fato precisa, é o professor, enquanto transmissor do conhecimento, ir à busca de novas formações, novos aprimoramentos profissionais, não esperar “cair do céu”, para assim ter um melhor desenvolvimento de suas práticas

 

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>. Acesso em: 10/10/2013.

CECCARELLI, P. R. DIFERENÇAS SEXUAIS...? QUANTAS EXISTEM? in Ceccarelli, P.R., (Org) Diferenças sexuais, São Paulo, Escuta, 1999.151-160. Artigo disponível: < ceccarelli.psc.br/paulorobertoceccarelli/?page_id=235‎>. Acesso em 30 de Set. de 2013.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em

10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em 05 de out. 2013.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio do Século XXI: o dicionário da língua portuguesa.. – 3º. Ed. totalmente revista e ampliada.- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FOUCALT, Michel. História da Sexualidade I A vontade de saber, tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1988.

GUIMARÃES, Augusto, F. Sobre a Homossexualidade na Grécia Antiga. Artigo disponível em : <http://www.nethistoria.com.br/secao/ensaios/309/sobre_a_homossexualidade_na_grecia_antiga/.> Acesso em 07 de set. de 2013.

GATTI, J. & GREEN. J. MAIS AMOR E MAIS TESÃO: história da homossexualidade no Brasil. José Gatti entre vista James Green.São Paulo: Unesp, 2000. Artigo disponível em:

MELLO, M. A. S. A Formação de uma Identidade Sexual,  2009. Artigo, disponível em <http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/sexualidade/a-formacao-de-uma-identidade-sexual> Acesso em 12 de Out. de 2013.

MOOT, Luiz R. B. Crônicas de Um Gay Assumido / Luíz Mott. – Rio de Janeiro: Record, 2003.

RISCAROLLI, Eliseu. Direitos Humanos e Diversidade de Gênero. Palmas, TO: Editora Gráfica Aliança Ltd. UFT – Campus de Tocantinópolis, 2012.

____________ Pluralidades de Gênero, Sexualidade e Educação / Eliseu Riscaroli (Org.). – Palmas, TO: Editora Gráfica Aliança Ltda. UFT – Campus de Tocantinópolis, 2012.

FRY. P. & MACRAE, E. O que é Homossexualidade. Fry Peter entrevista Edward MacRae, São Paulo, SP, editora Brasilense, 1991. Livro disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/57029226/O-que-e-Homossexualidade-Peter-Fry-e-Edward-MacRae>. Acesso em 05 de Out. de 2013.



[1] Cidade que ficou  popularmente conhecida como 'Boa Vista do Padre João', devido à grande influência histórica do padre. Em 1852 foi criado o Distrito de Boa Vista do Tocantins, em 28 de julho de 1858 foi elevada à categoria de cidade, e Pedro José Cipriano foi reconhecido como seu fundador. Em 1943, a cidade passou a ser chamada de Tocantinópolis-TO.

[2] Acadêmico do Curso de Pedagogia na Universidade Federal do Tocantins, Campus de Tocantinópolis-TO. Estuda e pesquisa temática referente à diversidade, gênero, homossexualidade e estereótipos em relação ao mesmo. Email: [email protected]

[3] Tocantinópolis está localizado ao norte do estado do Tocantins, região conhecida como Bico do Papagaio, situado às margens esquerda do rio que leva o mesmo nome do estado.

[4] Ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_LGBT

[5] Ver: http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil

[6] Direitos Humanos, Homossexualidade e Identidade de Gênero: uma história de militância no Tocantins, IN: Direitos Humanos e Diversidade de Gênero- Org. Eliseu Riscaroli. 2012.

[7] Gênero, Sexualidade e Homofobia na Escola: análise do discurso de jovens Homossexuais no espaço escolar. IN: Pluralidades de Gênero, Sexualidade e Educação. Org. Eliseu Riscaroli. 2012.

[8] Direitos Humanos e a Secretaria de Justiça dos Direitos Humanos no Estado do Tocantins. IN: Direitos Humanos e Diversidade de Gênero. Org. Eliseu Riscarolli. 2012.

[12] Considerando que os/as entrevistados/as tiveram a opção de escolher entre três ou quatro adjetivos.

[13] As pessoas entrevistadas responderam entre duas ou mais opções.

[14] Os sujeitos/as entrevistados/as tiveram a livre escolha de responder mais de uma questão.

[15] Os/as sujeitos/as entrevistados/as tiveram a livre escolha de escolher mais de uma opção de resposta.

[16] Idem.