*Humberto Rollemberg Fontes

                                                                                                                                 *Múcio Wanderley


 

        A área de plantio com a cultura do coqueiro no mundo ocupa aproximadamente dez milhões de hectares, onde predominam pequenos produtores. Cerca de 80% da área plantada com coqueiros situa-se na Ásia, (Índia, Filipinas, Indonésia, Sri Lanka e Tailândia), e o restante fica distribuído entre África, América Latina, Oceania e Caribe.
         A maior parte da produção é destinada à obtenção de óleo a partir da copra (albúmen desidratado a 6% de umidade), que é um produto com altos teores em ácido láurico (39% a 54 %), rico em ácidos graxos de cadeias curtas fortemente saturadas, largamente empregado na indústria alimentícia em mistura com outros óleos vegetais, utilizado também na produção de margarinas.
        Estima-se uma produtividade em torno de duas toneladas por hectare de óleo de coco para uma produção anual de 3 milhões de toneladas/ano, das quais 1,3 toneladas de óleo são exportadas para a União Européia e Estados Unidos, enquanto o restante é consumido nos países produtores.
        Observa-se  nos últimos anos, uma estabilização da produção de óleo de coco no mercado internacional, ao tempo em que cresce a produção de óleo de dendê, que além de alcançar maior produtividade (5 mil kg/ha), apresenta também altos índices de ácido láurico, compensando desta forma o aumento da demanda mundial deste produto.
         No Brasil, a produção do coco seco é originária principalmente de coqueiros da variedade Gigante, cultivados sem emprego da irrigação, cuja área plantada se concentra na faixa litorânea do Nordeste, ocupando as ecorregiões dos tabuleiros costeiros e baixada litorânea.
        Nesses ecossistemas, predominam solos de baixa fertilidade com reduzida capacidade de retenção de água. Os sistemas de produção utilizados são predominantemente pouco intensivos em tecnologia, cujas colheitas são realizadas a cada três meses, quando os frutos apresentam em torno de 12 meses de idade. Esses frutos são utilizados como matéria-prima para a indústria de alimentos, na produção de coco ralado e seus derivados, ou mesmo consumido in natura uma vez que se constituem em ingrediente bastante utilizado na culinária regional.
        Considerando-se o ciclo da cultura do coqueiro, que apresenta produção contínua durante todo o ano, as colheitas são realizadas trimestralmente, muitas vezes constituindo-se em única fonte de receita do produtor.
        É comum observar-se entre pequenos produtores a utilização das entrelinhas dos coqueiros  para plantio de culturas consorciadas de subsistência, como milho feijão e mandioca, ou mesmo para a criação de animais, atividades estas consideradas complementares à atividade principal.
        De maneira geral, os frutos são comercializados na propriedade, com forte ação de intermediários, responsáveis em grande parte pela baixa remuneração obtida.
        Recentemente, foi constatado  o surgimento e o avanço assustador de uma doença conhecida como resinose do coqueiro, causada pelo fungo  Ceratocystis paradoxa, responsável pelo aumento significativo do número de morte de plantas,  em grande parte associada ao aumento de insetos-pragas, os quais atuam também como transmissores da doença anel vermelho do coqueiro, causada pelo nematóide Bursaphellenchus cocophilus.
        Deve-se considerar ainda, as questões vinculadas à especulação imobiliária nas áreas de baixada litorânea, de que resulta a elevação dos custos da terra, como também  o avanço significativo das áreas plantadas com cana-de-açúcar na ecorregião dos  tabuleiros costeiros.
        Estima-se também que a  médio e longo prazo, haverá uma tendência de aumento das importações do coco ralado com a conseqüente queda do produto nacional, a partir da suspensão das medidas de salvaguardas atualmente em curso e  que limitam atualmente as importações deste produto.
Essa situação decorre dos menores custos de produção do coco importado de países asiáticos, em função dos baixos custos com mão-de-obra e dos elevados subsídios governamentais oferecidos em quase todos os países produtores.
        De acordo com levantamento realizado, o preço médio do coco ralado no mercado atacadista  nacional é R$ 14,00/kg enquanto que o  preço FOB médio nos países exportadores em novembro de 2009 esteve cotado em  US$ 1,04/kg, que corresponde a R$ 1,79/kg, ao dólar de R$ 1,7244. 
Enquanto isso, crescem no Brasil o preço da mão-de-obra e outros custos, embora neste ano de 2009 os preços recebidos pelos produtores tenham se mantido em patamares satisfatórios, sempre próximos a R$ 1,00/kg ou mais de R$ 0,40 por unidade de coco seco em grande parte dos estados do Nordeste.
        Não obstante os preços se apresentarem com essas características, o produtor de coco vive a expectativa permanente de encerramento da medida de salvaguarda aplicada às importações de coco ralado. Quando a referida medida se expirar, estas as importações estarão sem nenhum contingenciamento.
        Esse novo cenário trará implicitamente a queda dos preços do coco seco, uma vez que para as empresas processadoras é mais vantajoso importar o coco ralado e com ele elaborar os seus diversos produtos – coco ralado com menor teor de gordura, leite de coco integral e com menor teor de  gordura, flocos de coco, doce de coco, entre outros produtos – do que adquirir o coco seco no mercado local.
        Não obstante essa perspectiva desfavorável à cultura do coqueiro no médio prazo (entre um e dois anos), não se pode esquecer que ela apresenta potencialidades que a diferencia de outras culturas, onde se destacam a  maior capacidade de adaptação a solos de baixa fertilidade predominantes nas áreas de produção do Nordeste, e grande potencial para produção de óleo para utilização na indústria de alimentos, ou mesmo para consumo do óleo extra virgem.
        Por  outro lado,  o coqueiro apresenta boa capacidade  de adaptação a sistemas consorciados de cultivo, além de ser de grande importância socioeconômica, pois congrega predominantemente pequenos produtores, além do que apresenta sistema de produção já estabelecido, diferindo, portanto, da maioria das palmeiras nativas com potencial para exploração de óleo.
        Em função da complexidade de problemas que afligem esta cultura, e considerando-se a sua grande importância sócio econômica para a região produtora do Nordeste, torna-se necessário aumentar os investimento em pesquisa, e implementar medidas de estímulo ao pequeno produtor para investir em seus plantios.
        Esse estímulo poderia ocorrer por meio da adoção de programas de governo voltados para a revitalização da cultura do coqueiro, com linhas de crédito específicas e assistência técnica adequada ao produtor.
        Torna-se necessário também, fortalecer os diferentes elos da cadeia produtiva do coco, com ênfase na melhor utilização de co-produtos derivados do coco seco, a exemplo das fibras naturais, de forma que seja possível agregar valor à produção, ao tempo em que se faz necessário despender esforços no sentido de que os produtores se organizem de modo a evitar ou reduzir a ação de intermediários, que muitas vezes adquirem o coco in natura por preços bem abaixo do que o produtor poderia obter se levasse a sua colheita diretamente ao mercado.
        Para dar suporte a um programa de revitalização da cultura do coqueiro no Brasil, a Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizada em Aracaju- Se, deu início a partir do corrente ano, a um projeto para subsidiar as ações de recuperação dos atuais plantios, através de um programa de transferência de tecnologias, que prevê o treinamento de técnicos e produtores, como também da avaliação e introdução de melhorais dos atuais sistemas de produção utilizados na cultura do coqueiro.

 

*Humberto Rollemberg Fontes é especialista em fitotecnia e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros
*Múcio Wanderley é pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA