NOVO ANO LETIVO:

O GRANDE ESPETÁCULO DA ESCOLA

 

Idanir Ecco[1]

Existe um milagre em cada recomeço.

 (Herman Hisse)

“Ano Novo, Vida Nova!”. Expressão corriqueira que, por se acreditar em sua obviedade é assumida por muitos com naturalidade, sem a pretensão em problematizar sua veracidade. Estamos diante de um novo ano letivo e, por essa razão, diante de novas expectativas, novos objetivos, novos rumos, novas estratégias. Portanto, período marcado por tensões diversas, porém, revestidas pela boniteza da esperança.

Reiniciar, palavra que acentua um novo começo. Um momento de pensar e de prover. É o exercício de planejar, de ousar e criar. Especificamente, em relação à educação formal, é no inicio do ano letivo que a escola renasce com toda a sua exuberância, repleta de vida, de sonhos, de alegrias.

O reinicio letivo é cuidadosamente pensado por diferentes sujeitos escolares. E não poderia ser de outra forma! “Pensa-se em tudo”, afirmara uma professora ao ser indagada sobre seu trabalho nesse período. Porém, ao ser interpelada o que está se pensando em relação ao Ser Professor(a), o silêncio constrangedor roubou a cena, instalando-se fortuitamente. E nesse momento, o “tudo” deixou de ser “tudo”...

Ouso, mesmo que brevemente, contribuir, neste início de ano letivo, com algumas ideias para poder iniciar ou desencadear um possível pensar sobre o ser professor(a) e/ou suas implicações.

Não importa a função desempenhada na instituição escola, quer seja na sala de aula, quer seja na coordenação ou direção, o professor(a) tem a oportunidade de desencadear múltiplas ações na perspectiva de uma sociedade melhor, mais democrática, humana, sustentável... Para isso, inúmeros são os desafios, que assumidos com responsabilidade e competência, convertem-se em possibilidades.

A sociedade contemporânea demanda profissionais que dominem saberes muito além do saber fazer, comprometidos com a inovação e a criação de novos conhecimentos, pois o tempo atual é o tempo do conhecimento em evidência.

Na atualidade, compete ao professor(a) assumir o embate de refazer/reinventar a educação considerando o contexto em que sua prática está inserida, bem como os sujeitos participantes. Deve, por sua vez, tomar conta do desafio de transformar a escola, o que na prática significa assumir o compromisso com a própria formação, com a formação e a aprendizagem do aluno, com a eficiência do ensino e com a transformação social (contexto em que está inserido).

Sempre é oportuno e necessário frisar que o profissional do ensino deve fundamentar sua prática numa opção de valores, que não os do mercado, e em ideias, em conhecimentos que lhe possam orientar e legitimar sua ação pedagógica.

Indubitavelmente, é da incumbência do professor(a), além de cuidar para que o aluno aprenda, o cuidado antropológico, para que o humano, no homem e na mulher, possa manifestar-se. Uma mensagem deixada por um prisioneiro de campo de concentração nazista, também, registrada por Moacir Gadotti, em Boniteza de um Sonho, suplica aos professores que “ajudem seus alunos a tornarem-se humanos”. E conclui: “ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas”.

Educar, além de ser um exercício ético, pois agimos sobre a consciência do outro, é um exercício de imortalidade. Ruben Alves, na obra A Alegria de Ensinar, convictamente afirma que: “De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O educador não morre jamais”.

Sabedores somos que “a fé move montanhas”. Por isso, mesmo que hajam vicissitudes, limites e contradições nos espaços de atuação enquanto docente, é mister nunca perder a esperança e a capacidade de indignação, pois a maior força está no poder de sonhar sonhos possíveis.

             “Apesar dos pesares”, urge viver a felicidade, neste particular, no exercício da docência. Não vivê-la, é o mesmo que desperdiçar preciosidades, é desconhecer e negar a própria essência humana.

Mesmo diante de controvérsias, magnífico mestre formador, tenha sempre presente a sublimidade e a grandeza que envolve seu trabalho, pois efetiva-se com seres humanos, razão da sua existência. Ademais, afirmo com Bertold Brecht: “[...] aquele que ensina semeia nas almas e escreve no espírito”. E por semear nas almas e escrever no espírito, o professor(a), verdadeiramente, é o protagonista de uma vida nova em cada novo ano letivo, o espetáculo primaveril da “natureza escolar”.


[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim/RS. [email protected]