O que me levou a discutir alguns aspectos, pelo menos os que acho importantes, sobre a preparação da monografia, é o sentimento de “ terror ”, que acompanha os acadêmicos nos dois últimos períodos da graduação. Tenho  vivenciado  estes momentos, e percebido que para a maioria o prazer em criar um trabalho científico não existe. A monografia tornou-se um processo amargo, pesado, uma obrigação da qual todos querem se livrar o mais rapidamente possível. Um período  de regras, normatizações, que os deixam verdadeiramente infelizes.

         Doses homeopáticas de medo do desconhecido, da prova da verdade, vão sendo auto injetadas, dia após dia, fazendo com que a monografia tenha um peso muito maior enquanto obrigação indesejada, do que propriamente o aprofundamento daquilo que se experimentou durante os anos da graduação.

          Não deveria ser assim. Todos  que ingressam no ensino universitário sabem que existe o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso. Então, não existe nenhuma novidade.

         Depois, o acadêmico passa por uma série de etapas e processos de conhecimento que o vão amadurecendo, até que possa, por si só, observar o mundo, a sua realidade, e dali indagar algo, ter uma dúvida, uma curiosidade sobre um fato social qualquer. Seu amadurecimento, neste momento, transforma esta dúvida ou curiosidade numa possibilidade de ciência.

          Talvez, o Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC seja o primeiro grande momento de construção científica na vida do acadêmico. Uma criação que pertence exclusivamente a ele, uma escolha pessoal do tema a ser trabalhado. É a oportunidade de apresentar num só documento formal os avanços e ganhos intelectuais adquiridos nos primeiros anos universitários. Deve ser encarado como algo muito mais importante do que simplesmente cumprir a determinação de um projeto curricular. Algo feito por obrigação pode  se transformar num pesado fardo.

          Indagação e construção da realidade, experiências vividas, predileções sobre conteúdos, maneiras de ver o mundo, escolha por teóricos, opções por paradigmas, tudo agora será transposto sob a forma de uma monografia.

          O primeiro passo necessário para a elaboração da monografia é a escolha do assunto. Faça sua escolha de acordo com suas preferências e também das possibilidades que possui para conduzir a proposta. Além disto, é importante que perceba a relevância daquilo que quer estudar, se há merecimento científico na sua escolha. Especificação e preferência são a síntese da escolha. Um bom texto sobre ciência e cientificidade, a escolha do assunto, a metodologia, o ajudará a compreender melhor a questão. Sugiro os teóricos Salomon (1996) e Minayo (2000), cujas obras estão na referência bibliográfica destas notas sobre a preparação da monografia.

          O assunto está intimamente ligado ao problema, ao pensar em um assunto, surge imediatamente uma indagação sobre ele, esta indagação, ou seja o problema, é o início da investigação científica.Esta indagação, é também uma curiosidade, uma dificuldade, algo desconhecido que será, cientificamente, pesquisado pelo acadêmico.

          A monografia não é uma história a ser contada, precisa de um princípio científico, trazer uma descoberta científica, que começa com o problema que prefiro chamar de questão norteadora. É um trabalho de investigação, que só pode ser realizado, se estiver apoiado numa metodologia científica.

           A melhor maneira de  construir uma monografia é iniciar pelo sumário também chamado de conteúdo, ele é uma espécie de guia, um orientador para o que é necessário ser escrito. Analise o que representa cada item do sumário (sessões e sub sessões), o que você deseja demonstrar a partir deles.

          A monografia precisa ser composta de três partes:  a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. A  introdução é  a formulação de maneira clara e simples do tema da pesquisa e uma referência a trabalhos anteriores que discutiram o tema. É na introdução que aparece a questão  norteadora sobre o tema que se está pesquisando. Somente um tema.

         Deve aparecer com clareza a intenção do trabalho, o grande objetivo e também os específicos, seus limites, o método de pesquisa, o que motivou o acadêmico a realizar tal produção científica,  o tipo de pesquisa  que   será   usada

( por ex: bibliográfica, exploratória, pesquisa-ação, etc). É necessário deixar claro o sentido da pesquisa e o paradigma que a sustenta. Apresenta o referencial bibliográfico escolhido.

         No final da redação, demonstrar do que tratarão os capítulos, ou, o que estará sendo discutido em cada um deles. É uma espécie de introdução ao leitor, para que ele saiba a tônica dos conteúdos, um convite à leitura, portanto não há necessidade de ser um longo processo de escrita.

        Asti Vera (1980) alerta sobre alguns erros que devem ser evitados, como por exemplo: colocar na introdução aspectos da sua conclusão,  o excesso de ambição científica que aparece nos intermináveis discursos, afirmar que o tema escolhido é “complexo, interessante e discutido”. Chama atenção para a “introdução história” que caminha períodos infindáveis  e assim demora demasiadamente na descrição histórica. Ainda um outro problema é em relação a “introdução-solução”, que além de se prender demasiadamente a exemplos ilustrativos, anuncia os resultados da pesquisa.

          O desenvolvimento  é a fundamentação do trabalho de pesquisa, um processo literário, mas ao mesmo tempo filosófico, histórico e científico, é o momento em que o acadêmico está demonstrando sua tese, sua proposta. No desenvolvimento aparecerá toda a fundamentação teórica do trabalho, a discussão  alicerçada nos teóricos  escolhidos, que darão o peso científico  para o seu trabalho, assim como a metodologia.

         O desenvolvimento é a maior parte do trabalho monográfico, chamado de corpo da monografia. Deverá conter a explicação do fenômeno pesquisado, a origem e causas dele, sua contextualização histórica. Textos, documentos, gráficos, estarão ordenados e dispostos para melhor sedimentar o trabalho.

          No trabalho de conclusão de curso (TCC), á parte da normatização, é suficiente a inclusão de três capítulos, claro que se optar por quatro ou cinco, não há nenhum impedimento técnico, basta que você saiba dar tratamento científico à eles, uma discussão que pode ser analisada entre você e seu orientador. A observação em relação ao número de capítulos é no sentido de que você  se atenha à ambição da qualidade daquilo que está ou pretende escrever, não é pela quantidade de sessões e sub sessões que a monografia será melhor ou pior.      Assim, os dois primeiros serão organizados com a discussão teórica, o terceiro apresentando a construção metodológica e a pesquisa. Quero lembrar que ainda estamos falando do desenvolvimento.

           A metodologia é  parte do desenvolvimento, no entanto é um capítulo a parte, dada a sua significação. Você deverá descrever o caminho científico percorrido, ou seja, as opções técnicas, metodológicas que foram escolhidas, que devem estar em consonância com suas opções pessoais expressas através da sustentação filosófica que mais condiz com a sua própria visão de mundo. Deixe  clara a modalidade de pesquisa escolhida, as técnicas e instrumentos de coleta de dados.

          No capítulo da metodologia e pesquisa, quando há narrativas, entrevistas, enfim quando a fala dos atores sociais for um importante aspecto de investigação, deverá ocorrer a transcrição para que nada se perca, na medida em que for transcrevendo, vá intercalando seus comentários, sua interpretação, assim o trabalho ficará mais rico.

          Preocupe-se em fornecer uma contribuição original ao conhecimento, que é dada pela pesquisa. Você formulou uma pergunta – a questão norteadora – através da pesquisa você estará propiciando a resposta à questão norteadora, portanto estará contribuindo com o conhecimento.

          Depois dos capítulos será a vez da conclusão e da bibliografia, que não fazem parte do desenvolvimento. A conclusão vai apresentar a resposta sobre o problema formulado, ou seja, é neste momento que você estará respondendo à    questão norteadora, afinal, toda a pesquisa realizada já lhe forneceu dados  importantes para que  você informe, agora, sobre sua descoberta.

            A partir de todo o conhecimento adquirido durante anos, é a hora, através da conclusão, de demonstrar capacidade interpretativa diante do problema que originou a pesquisa, à luz das teorias aprendidas. Ela deve conter informações decisivas e importantes, revelar que a pesquisa foi um processo aprofundado, no  momento completa, mas ao mesmo tempo abrindo espaço para a continuidade dos estudos. Para mim o mais lógico seria que a conclusão tivesse um outro título, que traduzisse exatamente a concepção de continuidade, de outras possibilidades, de outros olhares sobre o mesmo problema.

          Não se sinta sozinho nesta caminhada, você tem junto de si um importante capital cultural, fruto de tudo que já leu, que pesquisou, que vivenciou e experimentou.  Você tem seu orientador, sempre disposto a compartilhar as inquietações próprias de quem faz ciência.

          Falta agora colocar no papel, segundo as normas adotadas pela Institução, a bibliografia, que é a exposição de obras e autores utilizados, que o ajudaram a compor este importante trabalho, que edificaram, a partir de seu diálogo com eles, momentos de extrema significação. Sem dúvida, que fizeram com que você crescesse um pouco mais  diante da ciência, e tomara que tenham te deixado um sublime gosto de “quero mais”, pois você só está começando.

 

 

 

 

 

Bibliografia

 

ASTI VERA, Armando. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Globo, 1980

 

MINAYO, Maria Cecília de S. Pesquisa social, teoria, método e criatividade.Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

 

SALOMON, Delcio V.Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes,1996.