ALMEIDA, M. G. S. Nota prévia sobre a propriedade canavieira em Sergipe (século XIX). Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História São Paulo, 1976, p 483 ? 509.

Por Hédila Maria Alves dos Santos Santana
E-mail: [email protected]


Nos fins do século XVII, inicia-se a decadência na indústria açucareira do Nordeste que foi provocada pela produção das colônias européias nas Antilhas e pela corrida ao ouro das Minas Gerais; Sergipe também participou dessa atividade explorando no solo de Itabaiana ou nas do rio São Francisco o ouro. Em 1756, houve uma redução dos engenhos localizados no litoral da Capitânia, esses engenhos estavam distribuídos pelas bacias hidrográficas, associando as boas condições ambientais e a produção agrária de monocultura. As dificuldades das colônias Antilhanas e a abertura dos Estados Unidos como mercado trouxe melhorias para o preço do açúcar e o impulso na sua produção. A adequação do solo para o florescimento da cana nas zonas fluviais possibilitou a produção açucareira em Sergipe.
No século XIX, a produção agrícola da região era: Itabaiana vendia cereal e algodão; Lagarto exportava gado, o Vasa-Barril e Piauí se ocupavam da lavoura açucareira, este desenvolvimento da cultura canavieira ligada à zona litorânea facilitou os mercados da Bahia e da Europa que foram os principais compradores desses produtos.
Durante o século XIX, foi feita a primeira classificação das regiões canavieiras, então no Cinturão litorâneo e sub litorâneo a colonização iniciou-se a partir do Sul, pelas margens do rio Real, nas terras que foram ganhas dos selvagens com o poder das armas. O povoamento das terras facilitou a criação da vila de Santa Luzia, nessa área foram construídos engenhos de açúcar e o número de propriedades cresceu; em terras mais afastadas do litoral, ficava a vila de Lagarto que se encontrava em melhores condições para o plantio da cana de açúcar, mas esse afastamento prejudicou a comercialização do açúcar.
As margens doVasa Barris, localizam-se São Cristóvão com foco de cidade e de capital, era o único aglomerado da região com solos férteis e excelentes massapés o escoamento da produção era favorável pela navegabilidade do rio Vasas-Barril. Outrora, a transferência da Capital e a criação dos municípios de Aracaju, Socorro e Itaporanga alteraram o número de propriedades, mas a cana continuava sendo a atividade agrícola mais importante e, devido ao número de propriedades, o gado também ganhou espaço.
A região do Cotinguiba era o maior depósito açucareiro da Capitânia, desenvolvendo uma agricultura notável conforme as exigências do mercado estrangeiro. As vilas localizadas nesta região apresentavam um bom florescimento pelo clima de urbanização. A produção da Cotinguiba animava o comércio de exportação, sendo o de maior volume de vendas; era uma região fertilizada, principalmente Laranjeiras; a área que se destacou como zona produtora da Cotinguiba foi Santo Amaro das Brotas, com o maior número de propriedades, apresentando um quadro significativo da cultura canavieira.
A região Sanfranciscana, foi uma das regiões que demorou a fazer parte desse quadro açucareiro. As terras ribeirinhas do São Francisco compunham a Vila Nova; somente no início do século XIX, a expansão das propriedades alcançou os limites da província do Norte, mas esta região tinha uma vasta cultura algodoeira.
As fazendas canavieiras acompanharam todo o movimento de colonização. O rei da Espanha, fez com que Cristovão de Barros, vendesse ou repartisse com os colonos as terras, e estes por sua vez tinham que povoar as margens do rio Real em fins do século XIX. Por quase dois séculos as terras estiveram em sua maioria, para a lavoura de subsistência e criação de gado; os proprietários tinham que pagar foro pelas terras onde plantavam a cana e erguiam seus engenhos. A falta de capitais para a manutenção da propriedade e de seus senhores era motivo de decisão a que era levado o proprietário a vender parte de suas terras; talvez tenha sido a imposição da partilha sucessória que tenha causado mobilidade na estrutura fundiária canavieira.
Nas propriedades já constituídas, adotaram o sistema de exploração parental, essa foi à solução para não transformar os antigos engenhos de força em sítios fornecedores de cana; essa forma de transferência poderia levar as propriedades extensas a fragmentações ainda nos meados do século XIX. Segundo a autora do texto, a Província ultrapassou o dobro do número de engenhos, fazendas de criação de gado, plantadores de café e alambiques.
Dentro da organização interna da propriedade, tinha que haver elementos que possibilitassem a rentabilidade do investimento tais como: dispor de grandes áreas próprias para o plantio, água, boa quantidade de matas, áreas para pastagens de animais e terras para o cultivo da agricultura de subsistência. A fragmentação das terras levou os proprietários a reduzir as áreas de produção, causando danos principalmente nas matas pelo encarecimento da madeira, por conta da sua inexistência próxima aos engenhos e pela devastação de suas áreas para erguer engenhos.
O maquinário do engenho era lento e de pequena capacidade sendo acionado por animais; as técnicas aplicadas nas terras canavieiras eram ineficientes com métodos destrutivos era o trabalho no campo, desde a preparação do solo, ate a colheita e a obtenção do açúcar.
Quanto à presença de água, era um fator determinante na escolha da área para a sua formação; os rios eram indispensáveis na produção açucareira. A água permitia o transporte e o escoamento da produção por causa da utilização fluvial, como também facilitava a comunicação. Muitos engenhos tinham seus portos às margens de rios largos e de grande acessibilidade; como força motriz a água foi pouco utilizada, devido ás variações climáticas da região, então continuou o uso de animais.
A presença de matas para a propriedade canavieira era importante, pois havia o consumo de lenhas para a fornalha, confecção das caixas para o acondicionamento do açúcar. Com o esgotamento dos solos e sem a adequada tecnologia capaz de reconstituí-los de sucessivos plantios, seriam as matas que poderiam fornecer as novas terras para a lavoura.
Quando o engenho não ficava as margens de rios, era no lombo de muares ou nos carros puxados por bois que se fazia o transporte do açúcar, todavia, não poderia deixar de existir terras de pastagens. Mas, esses animais, pela falta de demarcações, "às vezes eram motivo de brigas entre vizinhos, pelos prejuízos causados nas gramíneas pelo gado alheio".
Quando os centros urbanos começaram a se construir, foram tomadas providencias pelos proprietários a plantarem alimentos para garantir a subsistência da população, uma vez que o plantio da cana-açúcar ocupava a maior parte da propriedade em detrimento ao cultivo de outros alimentos, houve uma concorrência à cana e esse sacrifício provocou um período de fome devido aos altos preços dos produtos de consumo alimentar.