Estou pensando em escrever um livro sobre os grandes episódios do dia-a-dia dos políticos deste nosso brasilzão de meu Deus.

Neste nosso Brasil de tantos heróis, existem alguns que são heróis legítimos outros que são anônimos. Aqueles já têm lugar de destaque. Estes fazem parte do cotidiano de toda a população. São aquilo que na literatura e no folclore são chamados de personagens típicos. São gente iguais a nós; iguais a eu e você, só que são esses – ou como nós – que fazem a verdadeira história; e não aquelas balelas que se lê nos livros da história que cultua os heróis e nada fala sobre gente como a gente.

Alguns desses tipos, de dentro do imaginário e do cotidiano, convivem conosco como comuns personagens do dia-a-dia. Alguns são profissionais de várias áreas, outros são aquilo que o senso comum chama de políticos; como a dizer que nós, eu e você, não somos políticos; esquecendo de observar que o ser humano é político de forma quase essencial... com certeza cultural, mas não profissional!

O cotidiano dos políticos foi o que nos forneceu os enredos e histórias que a seguir vamos relatar. São todas histórias verdadeiras, nascidas do cotidiano e da ação política daqueles que nos legaram estas histórias. Hilárias, é verdade, mas nem por isso menos verdadeiras. Acredite se quiser, mas é a mais pura verdade o que pretendo contar, nesse livro que pretendo escrever.

Afirmo essa verdade pois, como não sou político, como os políticos, mas somente como ser político, preciso afirmar e reafirmar, para que acreditem em mim.

Se eu fosse político, como os políticos, certamente todos acreditariam, sem que eu falasse claro... nem a verdade!

Como disse estou escrevendo um livro. Não será sobre política, mas sobre as falas e pérolas políticas que nossos políticos – os que vivem dessa atividade – deixam esparramadas por aí. Só que estou pensando em usar, no livro, letras bem grandes. E pretendo fazer isso por causa da sugestão do meu tio, prefeito duma cidade vizinha.

Não entendeu?

Deixa eu explicar: meu tio, prefeito dessa cidade, mandou informatizar a prefeitura.

E isso se fez, e ele viu que era muito bom.

Meu tio não é um homem estudado. Fez, lá o seu primário – que naquela época era assim que se chamava o curso que ele fez. Uns tempos depois, já rapaz formado, pra conseguir um bom emprego, fez um cursinho rápido de datilografia – coisa que hoje em dia ninguém mais faz! Hoje em dia se fala em digitação – coisa que eu ainda não entendi: por que a diferença entre a escrita "datilografada" e "digitada" se ambas dependem dos mesmos dedos!

Bem, o fato é que naquele tempo o curso de datilografia nada mais era do que aprender a esparramar os dedos sobre aqueles enfileirados de letras.

Meu tio fez o curso de datilografia, e viu que era bom.

Tempos depois, meu tio já prefeito, como já disse, informatizou a prefeitura.

Aprendeu, de tanto escarafunchar, a esparramar os dedos em cima do teclado do computador. Um dia decidiu: lá pelas tantas se escarrapachou na frente do computador e se pôs a escrever. Era uma carta para meu avo, pai dele.

E foi justamente quando ele estava catamilhografando que o fato se deu (catamilhografar é um antiga expressão que vem das redações dos jornais para designar o foca (jovem repórter) que, antigamente, não sabia "datilografar" e, então, ficava catando milho; ou seja procurando as teclas em que estavam as letras nas quais devia apertar para sair a letra no papel... naquela época se usava papel, para escrever).

Pois é, meu tio prefeito estava catamilhografando no teclado do computador, na intenção de mandar uma carta – entendam, os modernos, que no começo da informática não havia e.mail. E estavam saindo umas letras enormes, no monitor do PC.

Eu entrei, vi aquilo e perguntei, em minha curiosa ignorância e ingenuidade: "Tio, por que essas letras tão grandes?" – note que não era a vovozinha, nem o lobo mau, era meu tio!

Ele explicou: "é o seguinte, meu sobrinho, estou escrevendo uma carta pro papai, teu avô. Acontece que ele está ficando surdo... então estou escrevendo com letras grandes pra ele entender que estou falando alto; se não for assim como ele vai ouvir o que estou falando?... Ah! ele disse que quer ler o teu livro sobre as histórias da política. Vê se faz com letras grandes, que até lá ele deve estar mais surdo ainda..."

Por isso, pelo meu avô e outros surdos é que estou escrevendo um livro com letras grandes.

Portanto aos cegos e surdos, povo brasileiro, dedico este livro.

Ps.: Se você tem alguma sugestão, me envie, que ainda dá tempo de incluir...

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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