NOSSA SENHORA APARECIDA

De Romano Dazzi

 

Preste atenção, de agora em diante, com  a escolha do seu Santo Protetor.

Em alguns casos,dependendo, é claro, do grau de influência dele, Você poderá ser obrigado a pagar para alguma Igreja os royalties, ou direitos de propriedade da marca.

Com Nossa Senhora Aparecida, acaba de acontecer; o uso da expressão está registrado no  Instituto apropriado, e quem quiser usá-la vai ter que entrar com dinheiro.

A Sociedade da Padroeira já avisou – e quem não pagar vai se dar mal.

Vai aumentar também o preço do terço, do santinho, da água benta.

 

Então, Nossa Senhora, me perdoe, mas infelizmente não vou mais chama-la para me ajudar.

 

Não vou mais pedir que arranje trabalho para os meus parentes desempregados – e para mim também, agora que me lembro;  que dê um jeitinho na conta do banco, tão estourada; nas notas do Mariozinho na escola, na cabecinha tonta da Mariazinha, até na balança do seu Jorge, que me rouba todos os dias no peso da carne moída.

 

Claro, eu sei que  Você hoje mal consegue me ouvir; meu pedido é sussurrado com pudor, com vergonha até; enquanto, naqueles teatros que hoje  chamam de igrejas, mil vozes clamam juntas; e os  “generais” da religião berram e explodem seus pedidos em caixas de som emprestadas por alguma banda de rock.

 

Vou recorrer aos pequenos, humildes Santos, desconhecidos  e esquecidos, que ninguém procura, para levarem meu recado, porque não posso pagar o selo; porém, dito entre nós,  quando passarem por você, levando os pedidos que você conhece,  tente fazer uma forcinha também; mas, pelo amor de Seu Filho, não deixe ninguém descobrir, porque os cobradores estão de olho...