Estava em uma das minhas intermináveis reflexões sobre a vida. Eu fui criada, assim como a maioria dos jovens da nossa geração, com aquela ideia fantasiosa de que eu era especial e por isso as coisas boas uma hora ou outra iam acontecer pra mim.

Aí você termina o colegial e nada é como supostamente deveria ser, você não foi fazer o intercâmbio dos seus sonhos pra se descobrir. Você não entrou numa faculdade federal. Seus pais não tem condições de pagarem uma faculdade privada, e você mesmo se arranjar um emprego meia boca também não vai conseguir arcar com valor alto das faculdades privadas de padrão superior. Restam poucas opções e com muito esforço, alguns sortudos até consegue entrar na bendita faculdade privada, que te suga até o último tostão, além disso ainda tem que se virar pra pagar passagens, refeições e livros.

E o mais desanimador é que quando você for pro mercado de trabalho, ainda será visto com olhar de preconceito por não ter se formado em uma faculdade muito conhecida ou de prestígio. Ai tem gente que vai dizer “mas você pode fazer concurso”, e isso é verdade, qualquer um pode prestar concurso, agora passar são outros quinhentos; nem vou entrar no mérito sobre os cambalachos que fazem por debaixo dos panos pra benefício de alguns. O fato é que passar em um concurso é uma verdadeira maratona de sacrifício, como meses ou até anos de estudo intenso, as vezes, não há como nem conciliar trabalho e estudo, assim, alguns tem que escolher, e isso é para os que podem se dar ao luxo de escolher, a grande massa tem contas a pagar.

Acabei fazendo uma associação entre nós, os pobres, e os ratos que correm naquelas rodinhas (que não sei o nome), girando e girando na esperança de chegarem à um lugar, e nunca chegam. Somos manipulados da mesma forma, engolidos pelo capitalismo e nossos pequenos sonhos são esmagados, pois agora temos outras prioridades, e tudo não passa de uma questão de sobrevivência.É um labirinto, e mesmo que não percebamos, estamos acorrentados. Porque não temos dinheiro, porque não temos poder.

 

PS: O título que eu elaborei foi uma comparação proposital com um texto do Moacyr Scliar “Nós, o pistoleiro, não devemos ter piedade.”