Nos Abandonamos em Algum Lugar no Passado
Publicado em 31 de julho de 2009 por Sandra Regina da Luz Inácio
Em algum lugar dentro da alma deixamos para trás tantas coisas, alegrias, tantas belezas que os nossos olhos presenciaram, tantas pessoas que amamos e tantos que nos amaram.
Deixamos para trás o simples desejo de ter um “carrinho ou uma boneca de plástico” para hoje entregarmos nossos sonhos e até nossa felicidade em carros importados que poucos podem comprar.
Guardamos em um passado distante o carinho afetuoso de um olhar, das mãos dadas, de contemplar o céu e as estrelas, de nos sentirmos plenos somente pelo fato de estarmos ao lado que quem amamos para trocarmos pelo muito trabalho que nos dá o dinheiro.
Deixamos de amar as pessoas simples que nos rodeavam para admirar os hipócritas de terno e gravata e que penduram seus corações lá fora ao entrarem em uma reunião de negócios.
Deixamos de olhar uma criança brincar para acompanharmos as várias telas frias de um computador.
Perdemos a pureza para nos encontrarmos com a falsidade e dizermos coisas que não sentimos porque a etiqueta assim exige.
Deixamos de sermos simples seres que erram, choram, comovem-se, sentem a dor do outro, compadece-se, sente ternura por alguém frio, que nunca chora porque seria considerado um fraco ou covarde.
Abandonamos os sentimentos e as palavras de amor e carinho para um simples cumprimento por obrigação.
Perdemos não somente a pureza de alma, mas com ela a felicidade.
Abrimos nossos corações para um psiquiatra mas o fechamos para quem amamos.
Estendemos nossas mãos para os nobres e fechamos para os que um dia não somente nos ofereceram suas mãos mas também seu consolo e apoio.
Paramos de ouvir os pássaros para ouvirmos os marqueteiros, os políticos, os que têm mel na voz mas fel na alma.
Acomodamos-nos nas palavras ensaiadas, nas atitudes planejadas, nas mascaras, no que nos dá status e deixamos para trás simplesmente o que somos.
O amor virou um sentimento de fraqueza.
A dor um sinônimo de falta de coragem.
Calamos a voz do coração para falarmos a linguagem dos falsos mega stars.
Paramos de chorar, porque o choro nos envergonha perante o outro.
Deixamos de ser apenas seres humanos para sermos apenas covardes.