NO DESERTO DA VIDA

    O viajor, no imenso deserto, sob o sol escaldante que assola até os ossos, segue ele em busca do oásis, o paradeiro do nômade ser. Ora em meio às tempestades de areia, ora  mergulhado no frio da madrugada, o eterno contraste do dia com a noite. Mesmo que os escorpiões lhe mostrem seus ferrões, ou que uma víbora o faça desviar seu curso, segue ele, cambaleante as vezes, com o destino traçado na mente. Nada o fara retornar, porque um retorno a esta altura significaria morte. E morte não há no recanto da terra que margeia o lago, que muitas vezes não passa de uma miragem.
    Não, não é miragem! Ele está certo porque sua mente, acostumada com as intempéries da região, não pode falhar. Lá, bem distante existe o frescor da água, a sombra dos arbustos, e o canto de pequenos e teimosos pássaros que insistem em viver nesse rincão. Vezes ou outra um chumaço de vegetação morta cortando-lhe a dianteira, como que um aviso do inóspito solar, onde a vida nada mais é que uma aventura, um simples e tênue fio de uma réstia de luz, prestes a se apagar.
    Encontrará ele seu destino há muito sonhado? Haverá mesmo um oásis na imensidão do deserto? Não passaria talvez de um terrível engano da mente? Permanecer seria  fatal, seria o mais triste destino, morrer sem um vislumbre do algo que represente o paraíso na terra. Seria findar seus dias encrustado nos pedregais da paisagem que fere os olhos, quando os raios do sol a pino castiga a morada, o flagelo de sua alma inquieta. Não! Ele não pode permanecer, não conseguirá mais continuar a almejar apenas. Se não sair jamais saberá o gosto da aragem a percorrer sua face, nem a doçura do néctar das flores.
    A vida sim, a vida não se retém, não obedece à inércia, mas sempre em ativa ebulição. Buscas incessantes, o mergulhar no almejo, a sede de conquista, tudo a perpassar os momentos de então. Sair do lugar comum, da estagnação em demanda a um ponto, ainda que seja um sugerir, porque a mente tudo indica e, não seguindo seus ditames, vem a frustração, o porquê do não fiz isso, ou aquilo e mesmo outro passo não tomado. Sim, há que empreender caminhadas, rumos apontados e sendas a percorrer.    

    O forasteiro, que é um ser das artimanhas, que a natureza as vezes coloca em seus caminho, não se contenta em se estagnar, mas dar asas à imaginação, em obediência aos seus anseios de aventuras, de busca e de um endereço onde possa fugir do trivial, da mesmice e até da estagnação da alma. Mentalizar, memorizar e almejar, sempre foram os pontos em que o viajante, insatisfeito com sua situação, parte para destinos adversos. Tudo porque sempre há uma luz no final do túnel. E, ainda que trêmula, ela indica que algo há além do campo da visão. Esta cessa com o findar dos dias, aquele algo permanece, porque o que é visto se esvai, ao passo que o que não se vê é perene. Assim segue o viajor, o itinerante em demanda ao que não viu, mas que sua alma aponta como a última e eterna morada.