Autores:

António Carvalho e Marily Abreu


Introdução:

A Inteligência Emocional é um conceito popularizado na década de 90 por Daniel Goleman e baseia-se na gestão adequada das nossas emoções e das de quem nos rodeia, de modo a aprender a controlar e adaptar adequadamente a emoção conforme as situações.


Emoção e Inteligência Emocional

Os neurocientistas, psiquiatras, psicólogos e até evolucionistas, constituem talvez o grupo que melhor consigam explicar o comportamento emocional. Visto que, as respostas emocionais mais primitivas encontram-se no cerne da sobrevivência, tais como a reacção ao medo ou a surpresa.

O sistema límbico é o responsável pela emoção, mais especificamente na amígdala, dado que é nesta pequena estrutura que se desenvolve o sentimento de prazer e nojo, o medo e a ira, entre outros. O neocórtex também exerce papel importantíssimo na emoção, sendo o responsável pela aprendizagem e lembrança humana.

Para o psicólogo e redactor científico Daniel Goleman a Inteligência Emocional não constitui o oposto do Quociente de Inteligência (QI), considerando-os complementares entre si. Segundo este autor, a palavra-chave da Inteligência Emocional consiste na tomada de consciência em si mesmo, reconhecendo a emoção, compreendendo-a. Esta compreensão vai actuar como um catalizador no equilíbrio da emoção, seja positiva ou negativa, facilitando desta forma, as relações interpessoais e o bem estar individual.

Segundo vários autores que fazem referência à denominada auto-consciência, que é a capacidade de se reconhecer o que se sente. Para Goleman esta consciência é talvez a capacidade mais importante que nos vai permitir exercer algum controle.

Segundo Goleman (1999), a inteligência Emocional é a capacidade para reconhecer os sentimentos em si mesmo e nos outros, sendo habilidoso no gerir destes sentimentos no trabalho com os outros. Este autor apresenta-o organizado e fragmentado em cinco capacidades específicas, com diversos objectivos, porque perscrutam diferentes dimensões do humano. Estas cinco capacidades específicas são:

1º Auto-Consciência – que significa o reconhecimento de um sentimento e/ou emoção, conhecer as próprias emoções. O nível do Quociente Emocional é tanto maior quanto mais próxima for a auto-consciência, do experienciar da emoção.

2º A Gestão de Emoções – que segundo este autor, é a capacidade que emerge do auto-conhecimento, pois quem não se conhece, não se conhece ao nível dos próprios sentimentos muito dificilmente se poderá gerir, o que impossibilita a capacidade de se controlar. O controlar das emoções, significa direccionar as reacções emocionais primárias e deste modo alterar o "programa" comportamental límbico, primário da responsabilidade da amígdala.

Como exemplos destas alterações, são o desejo físico e a luta, que podem ser substituídos por atitudes neocorticais civilizadas de sedução ou ironia. Deste modo poderemos tranquilizarmo-nos, afastar a ansiedade, a tristeza e irritabilidade, e anular ou diminuir as consequências.

3º A Auto-Motivação – que significa a capacidade de cada um em utilizar a energia das emoções para ser direccionada para objectivos próprios. Este auto-controlo emocional é que nós permitem ser mais produtivos e capazes.

4º Empatia (Reconhecer as emoções nos outros) – que é a atitude que surge da percepção das suas próprias emoções. Isto é saber colocar-se no lugar do outro, que implica a existência de sensibilidade aos sinais sociais e pessoais que surgem de forma subtil. Como exemplos temos: o distinguir de um sorriso piramidal dum sorriso emocional e consequentemente ler que emoções os despoletaram. Pois como Goleman (1996) expõe, a grande maioria da comunicação emocional é não verbal.

5º Gestão de Relacionamentos em Grupos ou Gerir relacionamentos – é a capacidade que representa a aptidão para o gerir das emoções plurais num grupo. É a capacidade que faz a diferença entre a atitude do líder e a do parceiro. Isto indica o criar e o cultivar de relações, de reconhecer os conflitos e de os solucionar, e também o encontrar do tom adequado e desta forma percepcionar todo o estado de espírito dos interlocutores.

Estas capacidades acima descritas vão diferir de pessoa para pessoa, pelas mais diversas características, pelo que alguns indivíduos poderão dominar algumas delas e outros não. Cada uma destas capacidades focalizam-se num domínio específico da experiência emocional e no seu conjunto avaliam cinco dimensões diferentes do sistema psíquico do sujeito, que existem comportamentos e atitudes comuns entre elas.

Um estudo realizado, permitiu observar qual o comportamento futuro de crianças de 4 anos de idade perante uma guloseima. O investigador convida ás crianças, uma por uma, a entrar numa sala e dá início ao teste, que é uma tortura lenta para as crianças. Diz-lhes ela (a criança) pode ter esta guloseima agora, mas se ela esperar enquanto o investigador faz um recado ela poderá conseguir duas guloseimas quando ele regressar. Depois o investigador sai da sala. Pode-se observar a seguir que algumas crianças retiram a guloseima logo a seguir. Outros esperam uns minutos antes de se renderem e retiram a guloseima. Mas alguns ficam decididos a esperar, apresentam diversos comportamentos tais com, tapar os olhos, agachar a cabeça, cantam baixo em segredo, tentam jogar algum jogo e chegam mesmo a adormecer. Assim que o investigador chega, este entrega as guloseimas que custaram tanto a ganhar. A seguir as crianças crescem…

Quando as crianças chegam à escola secundária, existe algo extraordinário que se passou, foi realizado novamente um estudo pelos pais e professores destas crianças que revelou que aqueles que aos 4 anos resistiram à guloseima, ao crescer, chegaram a adolescentes mais adaptados, mais populares, mais destemidos e mais seguros de si mesmos. Os que não conseguiram resistir à guloseima, quando cresceram tinham maior probabilidade de serem solitários, de frustrarem-se mais facilmente, de serem rebeldes, sofriam de stress e fugiam aos desafios. Quando foi realizado um exame a um dos elementos de ambos os grupos de apetência escolar, as crianças que souberam esperar tiveram uma classificação mais elevada. Chegando à conclusão que parece que a capacidade de resistir á gratificação é uma capacidade fundamental, pois é o triunfar do cérebro sobre o impulso, em resumo é um símbolo de inteligência emocional que não fica apenas cingida numa prova de inteligência.

A inteligência emocional vai-nos permitir tomar consciência das nossas emoções, de compreendermos os sentimentos dos outros, de tolerarmos a pressão e as frustrações da vida quotidiana, desenvolver a nossa capacidade de trabalhar em equipa e adoptar uma atitude mais empática e social, que nos aumentará as possibilidades de um maior desempenho profissional e pessoal.

As emoções são como as luzes do painel de controle do um automóvel, que acendem e indicam que á um aumento da temperatura, que há pouco combustível, entre outras, as emoções são uma luz com uma tonalidade específica que se acende e indica que existe um problema a resolver, desta forma as emoções são aproveitadas de forma completa quando nós aprendemos qual o problema específico subjacente a cada emoção e assim qual o caminho que o vai resolver.

Inteligência Emocional e o cuidar

È pertinente defender a pertinência da educação dos afectos, das emoções, o abordar da sua gestão e reflectir sobre estas capacidades, no sentido de fortalecerem a formação e o desenvolvimento pessoal e relacional dos enfermeiros cuidadores.

Isto não implica que os enfermeiros se possam afastar da função técnica e prática para que estes estão habilitados. Os enfermeiros cuidadores como lemes de relações (Branco, 2007), é-lhes exigido personal skills (Gazda,1984 citado por Branco 2007), quer como cuidadores, quer como cidadãos, de modo a realizarem uma autogestão de afectos. A Competência Emocional recupera para cada profissional a capacidade de se auto-gerir emocionalmente, para de algum modo fortalecer o desenvolvimento de comportamentos saudáveis.

Cuidamos tanto melhor e mais profundamente, quanto mais emocionalmente estimulante for entendido o doente, e compreendida a importância do mesmo. Todo o acto de aprender, a vida em geral e os conteúdos académicos de forma particular, está carregado de significados emocionais, pois o recordar é reviver emoções (Branco 2007).

Bibliografía:

Branco, Maria Augusta R.V. – Resumo da prelecção Competência emocional em enfermeiros – cuidar de crianças fragilizadas, apresentada nas I Jornadas se Saúde Infantil e Pediátrica da Madeira a 1 de Junho de 2007;

GOLEMAN, D. (1999).Trabalhar com Inteligência Emocional. Lisboa: Temas e Debates. ISBN: 972-759-180-9

www.servisalud.com/elpensa/ayuda03.htm;