Há quem lhe chame a “Festa da Família”. Concordemos com essa qualificação, mas também lhe poderemos acrescentar a “Reconciliação”, porque na verdade é nesta quadra festiva que muitas famílias, amigos e outras pessoas desavindas, ou pelo menos, com relações menos boas, que poderão ter uma oportunidade para se apaziguarem, e tentarem minimizar as consequências entretanto ocorridas por força dos desentendimentos e outras questões melindrosas.

O Natal não pode ser apenas um tempo de “consumo”, muito embora, o comportamento gastador, para quem pode, seja uma forma de satisfazer alguns desejos que, durante o ano, pretendia ver realizados, aguardando-se, então, para esta quadra do ano, a concretização dos anseios, mais ou menos prementes.

Certamente que muitas pessoas constroem as suas críticas, precisamente, por se verificar este excesso consumista, em alguns casos, com bens e serviços que até nem serão de primeira necessidade, mas: se se trata de concretizar um “sonho”; realizar uma ambição há muito desejada; e se as pessoas têm condições financeiras para assim procederem, não há que julgar, negativamente, quem quer que seja.

O Natal também é uma festa de dádiva, a começar pelas crianças que, com alegria e ansiedade, aguardam aquela noite para abrirem os seus presentes, justamente ao lado da árvore natalícia e do presépio onde se encontram as principais figuras deste evento: Jesus, Maria e José, Reis Magos a caminho e todo um conjunto de outros “intervenientes”, como os pastores, os animais, as oferendas, enfim a própria natureza vegetal coberta de neve.

Trata-se de um enquadramento mágico, que as crianças, e não só, valorizam profundamente, que vivem aqueles momentos com uma alegria indisfarçável, a felicidade estampada nos olhinhos, naquelas faces belíssimas, sim, porque toda a criança é bela em toda a sua inocência, grandeza e dignidade.

Mas neste Natal de 2015, de resto como em todos os natais, deveríamos parar um pouco para pensar, desde logo no que fizemos de errado ao longo do ano, nas pessoas que, intencional e insensatamente, ofendemos, magoamos, apenas para satisfazermos egoísmos pessoais, alimentar uma certa vaidade de ostensivo poder, ou promover alguma mesquinha vingança.

A Reconciliação será, portanto, uma outra dimensão do Natal. Evidentemente que é necessário que as pessoas tenham a humildade e generosidade suficientes para se perdoarem entre si (o que não significa, esquecer), sim, porque todos nos ofendemos reciprocamente, seja: pela afronta premeditada; pela humilhação; pela rejeição; pela imposição da mágoa, dor e sofrimento ou por quaisquer outros princípios, valores e sentimentos, entretanto violados.

A Reconciliação é uma atitude que as pessoas bem formadas, compreensivas e tolerantes, acabam por assumir, porque só assim poderemos alcançar alguma paz interior. Não se está aqui a aplaudir quem nos ofende, muito menos que tenhamos de aceitar tudo o que nos fazem com objetivos de nos magoar, ofender, prejudicar e achincalhar, e ficarmos impávidos e serenos.

O adágio popular, segundo o qual: “Quem não se sente não é filho de boa gente”, apesar de talvez um pouco “fora-de-moda”, em certas circunstâncias terá a sua lógica própria e poderá, inclusivamente, revelar o autêntico caráter da pessoa que não reage às ofensas que recebe de outrem.

A sociedade atual atravessa tempos muito difíceis, é verdade. O valor TER sobrepõe-se, quase sempre, à circunstância do SER. É claro que é legítimo a toda a pessoa lutar por “Ter”: ter saúde, ter trabalho, ter amor, ter felicidade, ter bens materiais, ter tudo o que lhe faz falta na vida, para ter uma existência verdadeiramente digna da pessoa de deveres e direitos.

É da condição humana possuir o que lhe é necessário: para que o conforto nunca lhe falte; para que o seu estatuto socioprofissional seja o melhor possível; para que a vida não seja nenhum “calvário” de dor, sofrimento e miséria. A redistribuição das riquezas naturais deveria, também, ser uma realidade, naturalmente segundo critérios justos, com base no mérito de cada pessoa.

Neste Natal, que é o nosso presente, outros já são passado e, quanto ao futuro, no que a esta festividade respeita, ainda não chegou, então, por enquanto, pensemos na família como: “baluarte” de valores altruístas; núcleo fundador de uma sociedade mais justa, mais equilibrada, mais tolerante e mais estimada.

Toda a gente, em geral, deseja uma festa natalícia com solenidade, esta no seu sentido mais grandioso e digno, onde a solidariedade, a amizade, a lealdade, a gratidão e tantos outros valores, genuinamente humanos, nos fortalecem, nos enobrecem e nos elevam acima de toda a natureza que connosco convive neste planeta.

Viver intensa e caritativamente o Natal é uma outra dimensão que não deve ser descurada, através da qual teremos de olhar e solidarizarmo-nos com o “Outro”, nosso semelhante, apoiá-lo de acordo com as nossas possibilidades e transmitir-lhe um pouco de alegria que, provavelmente, não terá tido ao longo do ano.

O Natal que desejamos para nós, pode ser, igualmente, pretendido para os nossos irmãos na Fé, no Amor, na Amizade e nos Sentimentos mais nobres. É crucial que se faça um “esforço”, que se pratique um ato de generosidade, no sentido de promovermos a aproximação daqueles que, apesar de nos terem ofendido, humilhado e magoado, ao longo do ano, ainda alimentam a esperança de recuperarem amigos, entre os quais, nós poderemos ser um deles.

Reconciliação é, inevitavelmente, a “prenda” que “embrulhará” o que de mais profundo deverá existir nas nossas vidas, que queremos para nós, mas também para todos os que connosco coabitam neste mundo. Uma prenda que comporte em si mesma princípios, valores, sentimentos e emoções, mas também alguns bens materiais, tão necessários à vida confortável e condigna.

Nesta reflexão de Natal, o seu autor desejará muito ser o primeiro a pedir perdão a todas as pessoas que, por quaisquer circunstâncias da sua vida, magoou, ofendeu e criticou injustamente. Fica claro que, da sua parte, pede idêntico comportamento a quem de alguma forma também o lacerou, afrontou e rejeitou, injusta e arbitrariamente, talvez, até, eventualmente, com alguma crueldade.

Nesta quadra de grande solenidade da família, mas também de autêntica reconciliação, façamos todos um esforço para sermos retos, para adotarmos comportamentos assertivos, fidedignos e transparentes, mesmo que tenhamos de “abdicar” de outros interesses, situações, pessoas e “pseudoamizades”, porque a reconciliação também não pode ser “capitulação” total e incondicional a quem não tem estado, e continua a não estar connosco, ou, pior do que isto, a quem quer estar connosco e com quem nos ofende.

Natal, festa da Família, da Reconciliação, do Amor/Amizade. Que este ano o possamos usufruir em plenitude de liberdade, qualquer que esta seja: política, religiosa, profissional, social, estatutária ou de outra natureza. Todos temos o direito à diferença, todos devemos respeitar as posições de cada pessoa, concordando ou não com as suas ideias, atitudes e comportamentos, desde que não sejamos ofendidos, nem humilhados.

O Natal de 2015, também deve ser recordado, por muito que nos custe e faça sofrer, pela situação das centenas de milhares de migrantes, das centenas de mortes, dos milhares de crianças que estão a sofrer autênticas desumanidades, que não têm culpa nenhuma dos desmandos dos adultos, que nem sequer pediram para nascer, mas que continuam a ser as vítimas mais frágeis neste mundo.

A Europa dita civilizada, ancestralmente defensora dos valores humanistas, onde Portugal se inclui, não pode ficar indiferente a esta catástrofe. Cabe aos povos das nações europeias, e não só, como também a todos os governantes, entenderem-se na resolução da situação de quem está diminuído em quase todas as suas dimensões humanas. Haja respeito, compreensão, solidariedade e amor pelos nossos irmãos migrantes.

Nesta sublime quadra natalícia, deixo-vos sinceros votos de Festas vividas com muita alegria, felicidade, amor, serenidade e paz. Que, no que for possível, nos reconciliemos, sem renunciarmos aos nossos princípios, valores, sentimentos e emoções. Que sejamos capazes de praticar a solidariedade, a amizade, a lealdade, sempre com humildade e gratidão, principalmente para com as pessoas que já demonstraram estar incondicionalmente do nosso lado, para o nosso bem-estar material e espiritual.

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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