Palavras Chave: Trote solidário, ação educacional de trânsito, 

Introdução 

No  Brasil ao longo dos anos ocorreram diversos problemas relacionados ao “trote”: uma ação realizada nas primeiras semanas de aula na faculdade, cujo objetivo é integrar veteranos e alunos. Assim, depois de ter enfrentado o pesadelo do vestibular, o "bixo" ainda tem de encarar esse tipo de "brincadeira", imposta por veteranos sob o disfarce de atividade de integração dos novos colegas: o trote.

Outro problema é que além de humiliações e retaliações, nos últimos anos ocorreram diversas  tragédias que ocasionaram lesões e até mesmo a morte de alunos. Paralelamente os acidentes de trânsito tem crescido na região, ampliado o numero de motoristas e de veículos nas ruas das cidades. No Pais mais de 40 mil pessoas são vitimas fatais, sendo que 25% delas são envolvidas com acidentes com motocicletas e atropelamentos.

Em um estudo realizado em duas universidades da região percebemos que cerca de 80% dos alunos vêem para os institutos com transporte próprio, sejam carros e motocicletas, assim a necessidade de envolvimento dos jovens em campanhas educativas

Assim o trote solidário pode ser um mecanismo de apoio ao trabalho de educação de trânsito usando humor e brincadeiras para expor junto a comunidade o problema da faixa de pedestre.

O projeto não seja bixo no trânsito tem como foco, desenvolver ações dos alunos “bixos” nas ruas da cidade,pedindo mais respeito no trânsito com os pedestres e com os motoristas.  Voluntáriamente em 2010 e 2011 reunimos mais de 300 alunos que realizaram campanhas educativas nas principais vias publicas da cidade de Itapira e região e tem dado resultados nos acidentes localizados.

 

 

 

 

 

  1. O trote estudantil

 

Segundo a Wikipédia(2011) o trote estudantil ( ou simplesmente trote ) consiste num conjunto de atividades para marcar o ingresso de estudantes no ensino superior e, em algumas exceções, no Ensino Médio, geralmente no caso dos aprovados num processo seletivo, que podem ser leves ou graves. Assim todos os anos diversas faculdades e universidades têm, logo de início, a recepção de novos alunos e estes recebem o nome de “Calouros” ou “Bixos”.

A palavra "trote" em português é explicada pela andadura natural das cavalgaduras (um passo mais lento), entre o passo ordinário e o galope e que se caracteriza por batidas regularmente espaçadas das patas, assim podemos compreender que é algo que estamos forçando, ensinando o cavalo a cavalgar  forçadamente usando de chicotadas e esporadas. O dicionário explica ainda que esteja relacionado à zombaria, onde os veteranos das escolas sujeitam aos calouros como forma de caçoada. (Ferreira, 1999. Assim podemos dizer que o Bixo é visualizado pelo veterano (Aluno que já está a muitos anos na faculdade) como um animal a ser domesticado pelo emprego de práticas vexatórias e humilhantes, em suma o calouro deve aprender a trotar.

Zuin (2002) aponta que os calouros recebem nome de bixo (ou bixete, se for mulher) como propósito de humilhação, até mesmo ao ponto de não ser reconhecido como a forma correta de se descrever o animal bicho. Os Calouros são BIXO com “X” pois não merecem nem mesmo serem comparados aos animais, uma afronta a humanidade.

 

  1. Um breve percurso histórico

 

O trote não é exclusividade brasileira, mas um problema mundial relatados desde as primeiras faculdades. Desde a Idade Média surgiu o hábito de separar alunos veteranos de calouros, que tinham as cabeças raspadas e suas roupas queimadas.

O site Trote Universitário (2011) descreve que o livro chamado “Manuale Scholarium” de 1481, de autoria desconhecida, já descrevia problemas relacionados ao trote. Em seus conteúdos foram apontados episódios onde os veteranos entravam em quartos de calouros fingindo nojo do “terrível fedor” do local. Procuravam a causa do cheiro e encontravam o calouro, “um bicho do mato, um monstro de horrendo aspecto, com enormes chifres e dentes, nariz recurvo como um bico de coruja, olhar feroz e boca ameaçadora”, daí a origem do Bixo.

 Depois de insultarem o novato, eles afirmavam ter pena do “pobre bicho, que afinal seria um futuro colega” e ofereciam um “vinho”, que, na verdade, era apenas urina. Joannes, o calouro, se recusava a beber e era forçado. A partir daí, os veteranos decidiam “curar” o “monstro” para que fosse aceito na comunidade universitária. É aí que começava o “trote”.

Em uma entrevista na revista Época, Barros (2011) descreve que  a primeira vítima de trote no Brasil ocorreu há mais de 160 anos atrás, não é nada de novo, é percurso histórico. Em 1980, um estudante de jornalismo faleceu em virtude de traumatismo craniano e outro em 1990 teve uma parada cardíaca ao fugir de um trote.

 

No Brasil, diversos problemas têm ocorrido anualmente, dentre eles podemos citar alguns casos: Em 2009 um aluno  foi parar no hospital em coma alcoólico (Globo, 2012), outro caso Spigliati (2011) conta que em 2010, um aluno foi obrigado a beber etanol  no trote; Toledo(2011) descreve ainda que em fevereiro de 1999, mais de 200 estudantes compareceram a uma festa entre veteranos e calouros, um churrasco, envolvendo bebidas, piscinas e churrasco, no dia seguinte quando um funcionário foi limpar a piscina a mesma estava toda suja de tinta e ao fundo o corpo de um jovem de 22 anos que não sabia nadar .

 

Os escândalos têm afetado diversos calouros no Brasil como um todo, aponta Toledo (2011):

“Acumularam-se escândalos demais. Torturas contra calouros, à moda do regime militar (Cruz das Almas, BA, 1991). Estudante morto a tesouradas (Osasco, SP, 1991). Queimaduras por nitrato de prata (Campinas, SP, 1994). Espancamentos, humilhações para todos os gostos. No ano passado, em Sorocaba (SP), dois estudantes de medicina e um médico já formado (que há com as faculdades de medicina?) puseram fogo num estudante mais jovem que dormia, causando-lhe ferimentos atrozes.”

 

Diante de tantos escândalos e problemas justifica-se a necessidade de adoção de medidas que possam beneficiar alunos e incentivá-los a abolição desta prática.

 

3 A legislação e as instituições de ensino

 

O posicionamento das Instituições é muito importante para estimular a paralisação da realização dos trotes, inserindo regras em seu contexto, aos quais podem ser adotadas penalizações ou até mesmo a expulsão de alunos

Tavares (2010) descreve que as faculdades e universidades podem penalizar os envolvidos desde que determinem previamente uma comissão formada pela própria faculdade que investigue os abusos e apliquem  as punições, que vão desde advertências até mesmo expulsões.

 

Em 2009 a Câmara dos Deputados, aprovou uma lei que tem  como objetivo obrigar a universidade a punir  os estudantes que fazem trote e criar mecanismos para a execução do trote solidário. A lei prevê multas de até R$ 20 mil ao estudante que praticar o trote violento, cancelamento de sua matrícula por um ano e obriga as universidades a instaurar processo disciplinar contra os alunos infratores, mesmo que a violência aconteça fora de suas dependências MADUEÑO(2009) .

 

Alguns estados e municípios têm desenvolvido leis próprias para tratar a questão, Mato Grosso, por exemplo, desde 2009 aplica a lei 9.325 que proíbe a realização de trotes nas faculdades e universidades. Algumas cidades também têm se posicionado criando leis municipais para bloqueio dos mesmos. Em BARRETOS a Lei 4.358 de 10 de julho de 2010 proíbe o trote e disciplina a recepção de novos alunos prevendo multa de até 20 mil reais e suspensão do aluno em até seis meses. O dinheiro das multas será passível de destinação à aquisição de acervo às bibliotecas da própria instituição.

 Também a cidade de Campinas-SP, aprovou, em 2011, a lei que exclui o trote universitário.  A lei nacional contra o trote foi criada pela Câmara dos Deputados em fevereiro de 2009, a Lei 1023 ainda não foi sancionada pelo Senado, o que afeta a sua aplicação.

Outro ponto importante na legislação é que fica proibida a realização de trote que ofenda a integridade física, moral ou psicológica dos novos alunos; importe constrangimento aos novos alunos do estabelecimento de ensino;  exponham, de forma vexatória os novos alunos ou  implique pedido de doação de bens ou dinheiro pelos novos alunos, salvo quando destinados às entidades de assistência social.

Cabe às  instituições de ensino superior  instaurar processo disciplinar contra seus alunos que descumprirem o disposto neste artigo, ainda que os atos sejam praticados fora das suas dependências, o processo será  regido por atos normativos de cada instituição de ensino superior, assegurados o contraditório e a ampla defesa, devendo a eventual aplicação de sanções serem comunicada ao Ministério Público para exame da responsabilidade penal. Também estipula multas no valor de até R$ 20.000, 00, que serão destinadas aos acervos das bibliotecas; os alunos poderão ser punidos em até seis meses; poderá ocorrer o cancelamento da matricula  e ainda o impedimento de que o aluno se matricule em outra instituição no prazo de 1 ano.

Cada instituição terá como objetivo criar uma comissão integrada por professores e estudantes a quem competirá estabelecer um calendário de atividades e eventos destinados à recepção aos novos alunos.

As iniciativas desta recepção poderão abranger atividades que visarão à integração na vida universitária bem como o conhecimento das instalações, do funcionamento dos equipamentos coletivos e dos serviços sociais disponíveis na instituição de ensino e estas atividades não poderão ser superiores a 20 (vinte) horas.

 

  1. O trote Solidário

 

Objetivando banir os trotes, grande parcela dos institutos superiores está desenvolvendo o trote solidário, os quais sejam realizados com o envolvimento comunitário dos alunos na comunidade, sem denegrir sua imagem e sem ocorrer qualquer desgaste.

O projeto “Não seja bixo no trânsito”, se iniciou decorrente aos estudos em duas universidades da região, onde podemos perceber que 80% dos alunos vêm para os institutos com carros próprios, motocicletas e vans que são ponto efetivo no trânsito regional

 De acordo com o relatório global sobre a situação da Segurança Viária detalhada em  178 países, que foi publicado em 2009 pela OMS, ferimentos causados por acidentes de trânsito permanecem um problema de saúde pública, principalmente nos países de média e baixa renda. A Organização aponta que morrem no mundo cerca 1,2 milhões de pessoas todo ano devido à violência do trânsito, enquanto 20 a 50 Milhões ficam feridos. Desta forma a Onu recomenda aos países a década de ações para segurança viária, realizando ações que possam reduzir acidentes e alterar a população sobre este risco.

Nesta linha implementar, o trote solidário viabilizando ações educacionais, é uma das atividades que podem mobilizar jovens e adultos a lutar contra esta causa. (OMS,2009)

 

 As ações propostas para execução do projeto “Não seja bixo no trânsito”, foi criado pelo Instituto de Ensino Superior de Itapira, com o foco de  mobilização local, onde os  alunos puderam opinar sobre a ação de trânsito, disputando entre si uma gincana, alertando sobre os principais focos de educação de trânsito e incidentes.

A figura 1 demonstra o início da campanha fixando cartazes na faculdade sobre como seriam as ações sociais.

 

 

 

 

Figura 1 – cartazes Afixados

 

 

As figuras 2,3 e 4 demonstram a palestra e a gincana proporcionando a integração entre todos os alunos

Figura 2 –Ação de integração

 

 

Figura 3- Ação de Integração

 

 

Figura 4- Ação integração

 

Após a gincana, todos os alunos participaram de uma palestra cujo objetivo era demonstrar sobre os principais erros no trânsito, como realizar a direção defensiva e como proteger a sua família em relação ao trânsito.

 

 

Após a coleta de dados e a discussão, os alunos realizaram uma abordagem na rua com o foco de entregar panfletos com os principais problemas do trânsito apontados por eles próprios e  como se prevenir para ter uma vida sem riscos.

 

Figura 5- Distribuição dos Panfletos

 

 

 

Figura 6. Distribuição de Panfletos

 

 

Conclusão

 

Esta ação conhecida como “trote solidário” auxilia os institutos a eliminarem e amenizarem a prática, através de ações sociais que envolvam todos os alunos do instituto.

Outro ponto a destacar é apresentado na pesquisa abaixo, realizada em 2010, cuja grande maioria dos alunos apóia esta ideia, cerca de 95% dos alunos apóiam a ação, os demais 5% (cinco por cento) acreditam que não há necessidade de realizar qualquer ação , não são contrários,mas, optariam por não fazer.

Cabe às instituições respeitar o direito de participação ou não destes alunos, para que se não crie constrangimento e volte novamente à realidade do trote.

Levando em conta a  necessidade da ação, e pensando na linha de que o trânsito tem tirado grande parte de nossos familiares é de extrema importância que estas ações prossigam mostrando à população a necessidade de melhoria e se divertindo nesta integração, gerando ótimos resultados.

 

Referências Bibliográficas

BARRETOS-SP (Município). Lei 4358, de 10 de Junho de 2010. Proíbe o trote estudantil, disciplina a recepção de novos alunos nas Instituições de Ensino Superior no Município de Barretos e dá providencias correlatas

BARROS, Andréa. Revista Época. Disponível em http://epoca.globo.com/edic/19990510/soci2.htm acesso em 12 Nov 2011

BRASIL. Projeto de Lei 1023/1995 - Câmara dos Deputados . Dispõe sobre a tipificação como contravenção penal, nos casos que especifica, a prática do "trote" estudantil, e dá outras providências.

FERREIRA, A.B.H. - Novo dicionário da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1999. 

GLOBO.COM. Calouro é vitima de trote violento no interior de São Paulo In: Disponível em http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL995316-16022,00-CALOURO+E+VITIMA+DE+TROTE+VIOLENTO+NO+INTERIOR+DE+SP.html, acesso em Janeiro de 2012

 

MADUEÑO, Denise. Câmara Aprova Projeto de Lei contra o trote universitário. Estadão on line, disponível emhttp://www.estadao.com.br/noticias/vidae,camara-aprova-projeto-de-lei-contra-o-trote-universitario,326366,0.htm em  16 de Fevereiro de 2009

SPIGLIATTI, Solange. O estado São Paulo. Edição de 02 de Fevereiro de 2010, Caderno Educação, Disponível tambem em http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,estudante-e-obrigado-a-beber-alcool-combustivel-em-trote,505072,0.htm

TAVARES, Ingrid. Portal R7. Disponível em 

http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/tudo-o-que-voce-queria-saber-sobre-o-trote-mas-tinha-medo-de-perguntar-20100208.html em 11 de Novembro de 2010

TOLEDO, Roberto de Pompeu. Revista Veja. Disponível em http://veja.abril.com.br/210499/p_154.html, visita realizada em 17 de Dezembro de 2011

TROTE UNIVERSITÁRIO. Raspar cabelos e chamar calouro de ‘bicho’ no trote é tradição da era medieval. Disponível em  http://www.vestibulandoweb.com.br/artigos/vestibular/trote-estudantil-vestibular.asp em 14 Dez 2011

TROTE ESTUDANTIL. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2011. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Trote_estudantil> Acesso em: 12 dez 2011

ZUIN, Antônio Álvaro Soares. O trote na universidade-Passagens de um rito de iniciação. Cortez, São Paulo, 2002)