NAMORADOS  

De Romano Dazzi

 

Pessoas se encontram – abrem-se, se entendem

Pessoas se amam – entregam-se e se prendem

Se olham, se descobrem, se compreendem

Mas de repente odeiam-se e se ofendem

Por quê? Por que?

 

Porque a vida  é vento, é tempestade

Que nos arranca e que  nos leva além.

Mesmo quando a bonança se espreguiça

e oferece uma tarde de prazer....

Logo vem ela, a ventania furiosa,

que nos leva e nos puxa como trapos

nos arranca dos berços e dos abrigos.

e nos joga aos rochedos e ao coral

e nos fere e estraçalha, e nos afasta

uns dos outros, sem dó, no vendaval.

 

E as pessoas se perdem e ficam  mudas,

sem razão, sem ação, sem mãos, sem alma.

 

Talvez elas não saibam, não compreendam

Que confiando, que ficando juntas,

Agarrando-se firmes uma à outra,

Entregando-se ao outro, sem medidas,

amarradas e prontas a enfrentar

qualquer destino que a fortuna traga,

com certeza teriam paz e  coragem,

e na borrasca, seguiriam viagem.

 

Há que ser firme, forte, ser seguro;

enfrentar o granizo e a tormenta

porque sempre, no fim, a paz retorna

o vento amaina e deita-se e descansa

o sol volta a brilhar com as suas cores

e novamente desabrocham as flores

 

 

Você se lembra como começamos?

Éramos duas crianças num barquinho

Leme, dois remos, e um desejo imenso

de ficar juntos, a nos dar carinho.

 

Não sabíamos da vida quase nada

Mas devíamos remar. Por toda a vida

Conseguimos cumprir nosso destino

Marcado desde o dia da partida.

 

Vimos praias bonitas e distantes

Contemplamos no céu tantas estrelas

Mil vezes foi a lua o nosso norte,

Mil vezes o cansaço nos vencia

Encantados,  empolgados,  iludidos,

Navegamos seguros, noite e dia.

 

Ficamos tantas vezes à deriva,

Durante tristes, demoradas noites,

Sem avistar um só farol distante,

Com nossa velha bússola quebrada,

 

Navegamos no escuro e na neblina

cercados de incertezas e receios

Temendo algum recife traiçoeiro

A quebrar nosso barco e nossa fé,

E sabíamos que isso é mais que morte

Porque não somos dois: eu sou você.  

 

Nossa longa viagem, chega ao fim

Está próximo o porto, a atracação

Não precisamos mais remar com força

Há uma onda suave que nos leva

E o descanso penetra em nossas almas.

 

Que viagem, que tempo, que distância!

Que vida longa, e rica, e venturosa

Eu tive com você, meu Bem, meu Amor.

 

Faria tudo de novo, agora mesmo

Zarparíamos nós dois, sem mais ninguém

Refazendo a viagem fascinante

Que foi a vida toda com você

 

Mas é tarde. E o  sol se põe  depressa

Pássaros voltam apressados ao ninho

A noite vem e encobre nossos olhos

 

Sinto-me bem. Foi bom. Eu fui feliz

E penso que você, no fim, se sinta

tal como eu contente, confiante,

Igual a quando  tudo começou.

 

Agora, sim.

Pegue na minha mão, quieta, em silêncio,

E sairemos juntos, para o mar

Sem dar adeus, sem acordar ninguém,

Sem lenços brancos a tremular no cais.

Logo seremos sombras de saudade

Somente o vento lembrará de nós

 

Mas eu preciso repetir a todos

Depois de meio século passado,

Que sou ainda teu eterno namorado.