Namorados
Publicado em 18 de novembro de 2009 por Romano Dazzi
NAMORADOS
De Romano Dazzi
Pessoas se encontram – abrem-se, se entendem
Pessoas se amam – entregam-se e se prendem
Se olham, se descobrem, se compreendem
Mas de repente odeiam-se e se ofendem
Por quê? Por que?
Porque a vida é vento, é tempestade
Que nos arranca e que nos leva além.
Mesmo quando a bonança se espreguiça
e oferece uma tarde de prazer....
Logo vem ela, a ventania furiosa,
que nos leva e nos puxa como trapos
nos arranca dos berços e dos abrigos.
e nos joga aos rochedos e ao coral
e nos fere e estraçalha, e nos afasta
uns dos outros, sem dó, no vendaval.
E as pessoas se perdem e ficam mudas,
sem razão, sem ação, sem mãos, sem alma.
Talvez elas não saibam, não compreendam
Que confiando, que ficando juntas,
Agarrando-se firmes uma à outra,
Entregando-se ao outro, sem medidas,
amarradas e prontas a enfrentar
qualquer destino que a fortuna traga,
com certeza teriam paz e coragem,
e na borrasca, seguiriam viagem.
Há que ser firme, forte, ser seguro;
enfrentar o granizo e a tormenta
porque sempre, no fim, a paz retorna
o vento amaina e deita-se e descansa
o sol volta a brilhar com as suas cores
e novamente desabrocham as flores
Você se lembra como começamos?
Éramos duas crianças num barquinho
Leme, dois remos, e um desejo imenso
de ficar juntos, a nos dar carinho.
Não sabíamos da vida quase nada
Mas devíamos remar. Por toda a vida
Conseguimos cumprir nosso destino
Marcado desde o dia da partida.
Vimos praias bonitas e distantes
Contemplamos no céu tantas estrelas
Mil vezes foi a lua o nosso norte,
Mil vezes o cansaço nos vencia
Encantados, empolgados, iludidos,
Navegamos seguros, noite e dia.
Ficamos tantas vezes à deriva,
Durante tristes, demoradas noites,
Sem avistar um só farol distante,
Com nossa velha bússola quebrada,
Navegamos no escuro e na neblina
cercados de incertezas e receios
Temendo algum recife traiçoeiro
A quebrar nosso barco e nossa fé,
E sabíamos que isso é mais que morte
Porque não somos dois: eu sou você.
Nossa longa viagem, chega ao fim
Está próximo o porto, a atracação
Não precisamos mais remar com força
Há uma onda suave que nos leva
E o descanso penetra em nossas almas.
Que viagem, que tempo, que distância!
Que vida longa, e rica, e venturosa
Eu tive com você, meu Bem, meu Amor.
Faria tudo de novo, agora mesmo
Zarparíamos nós dois, sem mais ninguém
Refazendo a viagem fascinante
Que foi a vida toda com você
Mas é tarde. E o sol se põe depressa
Pássaros voltam apressados ao ninho
A noite vem e encobre nossos olhos
Sinto-me bem. Foi bom. Eu fui feliz
E penso que você, no fim, se sinta
tal como eu contente, confiante,
Igual a quando tudo começou.
Agora, sim.
Pegue na minha mão, quieta, em silêncio,
E sairemos juntos, para o mar
Sem dar adeus, sem acordar ninguém,
Sem lenços brancos a tremular no cais.
Logo seremos sombras de saudade
Somente o vento lembrará de nós
Mas eu preciso repetir a todos
Depois de meio século passado,
Que sou ainda teu eterno namorado.