Crianças que se aproximam muito do aparelho para assistir à televisão ou ler, coçam os olhos que estão constantemente vermelhos, piscam muito e chegam até a ter o rendimento na escola comprometido podem sofrer de algum erro de refração visual. Este é o momento de pais e professores prestarem atenção na saúde ocular dos pequenos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa (SBCR) alerta que 20% das crianças em idade escolar apresentam alguma perturbação oftalmológica; 10% necessitam de óculos e 5% têm menos de 50% da visão normal sem correção. A importância de prevenção e diagnóstico dos problemas de visão na infância será, inclusive, tema da Semana Saúde na Escola, promovida pelo Ministério da Saúde. 

De acordo com Marcella Salomão, diretora da SBCR, o desenvolvimento do sistema visual no cérebro se dá até os sete anos de idade, período em que a criança aprende a fixar o olhar, a movimentar os olhos de maneira conjunta e a perceber a função visual. “Qualquer alteração durante essa fase que não seja corrigida, como um erro de refração ou outras condições como catarata congênita e estrabismo, pode acarretar em prejuízos na visão para o resto da vida”, alerta a oftalmologista. 

Essa perda parcial ou total da capacidade visual de um olho íntegro e sem lesões é chamada de ambliopia. Popularmente conhecida como “olho preguiçoso”, esta condição, explica Marcella, ocorre quando o desenvolvimento natural das vias ópticas durante a infância é impedido por alguma condição que previna a formação da imagem na retina e a transmissão deste sinal para a área responsável pela visão no sistema nervoso central. 

Avaliação deve começar cedo

O desenvolvimento motor da criança durante o seu primeiro ano de vida é diretamente relacionado à sua capacidade visual. E, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), admite-se que 85% do aprendizado se dá através da visão. Os defeitos não corrigidos, portanto, contribuem para um déficit do aproveitamento escolar e social. “O que muitas vezes parece ser um atraso no desenvolvimento ou até mesmo falta de interesse, pode, na verdade, ser deficiência visual, que é facilmente diagnosticada e tratada, na maioria das vezes”, afirma a diretora da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa. 

Primeira avaliação 

Marcella Salomão ressalta que a primeira avaliação oftalmológica deve ser feita ainda na maternidade ou nos primeiros dias de vida, quando se deve realizar o teste do olhinho ou pesquisa do reflexo vermelho. “Este exame é muito importante para o diagnóstico do que chamamos de leucocoria, um reflexo branco na pupila que é sinal de alteração no cristalino; de retinoblastoma, um tumor na retina; ou de um comprometimento na retina que é comum nos bebês prematuros”, explica. 

Aos três meses, a criança atravessa um período crítico de acordo com a oftalmologista. Nessa idade deve ser feita uma nova avaliação oftalmológica para assegurar que o globo ocular está íntegro, que não existe opacidade na córnea ou no cristalino, nem alteração na retina. Além disso, é realizado, ainda, o teste do reflexo para analisar o alinhamento dos globos oculares e pesquisar estrabismo. Depois disso, a recomendação é retornar para consultas anualmente, já que os resultados se tornam mais refinados e é possível diagnosticar mudanças de grau e prescrever suas devidas correções. 

Condições mais diagnosticadas 

Segundo a diretora da SBCR, nos primeiros seis anos de vida, a hipermetropia, quando a visão é pior de perto e melhor de longe, é mais frequente e o grau costuma aumentar até os doze anos. Depois, de acordo com ela, se estabiliza e tende a diminuir no adulto jovem. “Consideramos normal até três graus de hipermetropia na infância se o estrabismo não estiver associado. Se estiver, os óculos representam uma das opções de tratamento, principalmente se os olhos lacrimejam quando vê televisão, queixa-se de dor de cabeça, ou anda desatenta”, afirma a oftalmologista. Na miopia, acontece o contrário: a imagem se forma antes da retina, resultando em dificuldade para ver de longe. A prescrição de óculos também vai depender do grau encontrado. 

O estrabismo, quando há perda do paralelismo entre os olhos, o que faz a pessoa ficar “vesga”, é outra condição comum. “Indicamos um tampão no olho que enxerga bem para obrigar o outro a se desenvolver. Quanto mais precoce for feito o diagnóstico e o tratamento, mais rápida será a recuperação”, explica Marcella. 

Já a catarata congênita e o retinoblastoma podem ser encontrados logo no exame do olhinho e geralmente são tratados com cirurgia.