Na ponte
Debaixo da ponte
Um homem dormia
Abraçado a uma mulher
Sem perceber ou querer saber
O que por ali passa.

Crianças, jovens e velhos
Passam sendo levados
Dentro de carros carrinhos e carrões,
Os pobres dentro dos ônibus
Como sardinhas enfileiradas,
Os ricos em carros importados
Com suas roupas caras.

Ali debaixo da ponte
Dois corações indigentes;
Quatro mãos indiferentes
A se acariciarem sôfregas,
Guiam-se por instintos
Sobre corpos famintos.

A miséria passa
De carona com o progresso
Seguida de perto
Pelas sirenes violentas
Das viaturas escandalosas.

Advogados, juizes e promotores
Passam em silêncio
Com as chaves na mão,
A morte passa em um carro preto
Arrastando uma grande serpente
Lenta e vagarosa,
A vida, pedindo passagem,
Proclama a dor amorosa
De um eminente parto
Na cor branca de uma ambulância.


Naquela ponte uma história
Tão verdadeira como a nossa,
"Aquela que aprendemos na escola!"
Dois destinos em um só,
Nascer, viver, morrer...
Sem querer, sem escolher....
De olhos fechados.

Amanhã ou depois de amanhã
Outros carros passarão por lá,
Corpos diferentes por lá dormirão,
Só a sorte por lá não aparecerá
E se aparecer depressa passará.