É interessante como as crises produzem estratégias e dissipam outras. O título deste artigo não é um privilégio somente do setor rural. Ao contrário de outras atividades ou profissões como os Advogados e os Médicos que conseguem estabelecer referências em suas atividades e amplo corporativismo que os representa, a maioria dos produtores rurais, ao lado de Engenheiros, Arquitetos, Administradores, dentre vários, tem uma pseudo idéia da concorrência em detrimento da coopetição. Isso mesmo, cooperar para competir, como apontavam Nalebuf e Branderburger já na década passada.

Grande parte dos produtores rurais ainda tem notável dificuldade em reconhecer a cooperação e as alianças estratégicas como algo necessário e complementar às suas atividades. Infelizmente, o comportamento oportunista ainda impera negativamente neste meio. Viam-se mais associações e grupos organizados de produtores nos anos de fartura do que agora, no momento de aperto.

Já se falou muito e ainda se fala em tornar o produtor um empresário rural. Esta conversa vem desde o final da década de 60 e principalmente início da década de 70 do século passado quando a tese modernizante foi instituída na agricultura. Tornar o produtor um empresário e agente do processo, não um simples ator dirigido pelos outros.

Pois bem, passaram-se mais de 50 anos e a agricultura evoluiu no país como nunca, mas foi graças a infinita capacidade do produtor de enfrentar e arriscar, de avançar mata ou cerrado adentro, no peito, sem se preocupar muito com a estratégia, preocupado em chegar, em produzir.

Nessa luta, muitos ficaram pelo caminho. A maioria não conseguiu suportar por falta de preparo, o peso dos compromissos e os duros golpes do mercado, ou acabou se desinteressando pelas atividades. A agricultura avançou, mas o perfil sociológico do produtor, com raras exceções, ainda mudou pouco neste meio século.

A competitividade consiste na capacidade de uma empresa crescer e se desenvolver, sobrevivendo de modo sustentável, notadamente criando estratégias para tal. A concorrência por outro lado, é uma característica dos mercados e é uma referência à disputa entre as empresas pela renda limitada dos consumidores. A questão é quais serão competentes para se prepararem conjuntamente e capazes de se manterem concorrendo no mercado global.

Muitos produtores continuam a enxergar o seu vizinho como um concorrente. Involuntariamente sonegam informação de custos, de preço de venda ou até mesmo geram informações errôneas para parecerem melhores do que são na verdade. A produtividade é um exemplo disso. Quando convém, a produtividade sempre é alta. Reunir estratégias colaborativas pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso na atividade. Basta fazer as contas.

Essa visão enviesada deve ser corrigida urgentemente. Somos muito mais competitivos quando nos complementamos do que quando concorremos isoladamente. Está na hora de percebemos que a nossa concorrência não é com o dono da propriedade adjacente. A briga é pela renda que o consumidor está disposto a pagar pelo produto que chega a casa dele e que vai ser repartida pelos diversos agentes da cadeia que participamos. Porém, antes de tudo, precisamos tornar a cadeia em que atuamos fornecedora deste consumidor.

Num outro nível, a concorrência está na preferência que o mercado dá pela cadeia da região A em detrimento da B, motivada pelos diferenciais competitivos ou comparativos que uma apresenta sobre a outra. Como exemplo, a cadeia da pecuária do MT ou do RS concorrendo com a da Argentina ou da Austrália por um determinado mercado. Na evolução da sociedade em ondas, já faz tempo que as ondas do músculo deram lugar às ondas do cérebro.

Há casos excepcionais de competitividade, é claro. Como exemplo de quem não necessita de cooperação para se manter na atividade rural está o nosso ainda Presidente do Senado, Renan Calheiros. E pelas conversas nos bastidores de Brasília, num futuro próximo, deverá inaugurar a mais espetacular empresa de consultoria pecuária do país. Sim, porque com a capacidade demonstrada de auferir renda extraordinária numa atividade como a pecuária, seria um desperdício para o setor que esse conhecimento ficasse somente com ele.

Para finalizar, Corleone, em The Godfather, ensina que: "mantenha seus amigos perto, mas os seus inimigos mais perto ainda".

Obrigado pela leitura e grande semana para todos nós.