Na semana em que mais um capítulo da crise que se desenrola nos EUA e na Zona do Euro vem à tona, com o rebaixamento da nota de crédito da dívida italiana de "A+" para "A", mais incerteza paira sobre as perspectivas de recuperação da economia mundial. O encontro entre os principais líderes mundiais na Assembléia Geral da ONU e as conversações paralelas sobre temas relacionados à evolução das crises americana e europeia não servem de alento para as crescentes incertezas com relação à solvência não só de Grécia ou Irlanda, mas também com relação aos outros membros dos PIIGS, sobretudo a Itália. O anúncio do pacote de estabilização da economia italiana não só causou inúmeros protestos e lançou por terra a popularidade do primeiro-ministro Berlusconi, mas também não se mostrou capaz de equilibrar as contas nacionais, tanto no curto, quanto no longo prazo.

Isso porque, no momento em que Estados Unidos e a Zona do Euro experimentam baixas taxas de creximento ou até encolhimento do produto real, em especial do produto industrial, as soluções apontadas pela maioria dos policy makers vai ao encontro da ortodoxia econômica, quando, na verdade, a história econômica ensina justamente o contrário. O recente pacote de medidas de austeridade fiscal aprovado pelo Executivo italiano é o caso mais recente. O déficit italiano que foi de 4.6% em 2010 deve, segundo o governo, ser reduzido para 1.6% em 2012, gerando uma economia para os cofres públicos no valor de 20 bilhões no ano que vem e 25 bilhões em 2013. Isso será executado através do aumento de impostos para a faixa de renda mais elevada da população, corte no orçamento disponível para os congressistas, redução da máquina administrativa, via redução no número de províncias, privatização de empresas municipais, flexibilização das leis trabalhistas (o que teoricamente facilitaria a contratação) e redução nas despesas sociais.

Embora contenha itens relevantes e que podem otimizar a eficiência da máquina pública, como redução do número de províncias, diminuição do dinheiro disponível para os gastos parlamentares ou impostos mais elevados para as classes mais altas, o pacote italiano segue as mesmas linhas do plano de austeridade da economia grega, penalizando os trabalhadores e a classe mais baixa pelas irresponsabilidades da gestão do sistema financeiro privado e da gestão pública. O plano concentra-se em cortes de despesas e diminuição da participação do Estado na economia, quando a teoria macroeconômica ensina justamente o contrário.
Em momentos de crise, como o atual, de armadilha de liquidez inclusive, a visão keynesiana nos ensina a gastar mais, a elevar as despesas estatais.

Corte de gastos e de investimentos, além de representar um colapso dos resultados econômicos no curto prazo, representam perspectivas igualmente modestas no longo prazo. Menos investimentos, menos empreendedorismo, menor renda per capita implica menor arrecadação de impostos no futuro, manutenção das taxas de dívida pública e de reduzida capacidade de investimentos. Em um cenário em que economistas ao redor do mundo acenam rumo à ortodoxia fiscal e monetária, destoam ainda algumas vozes com uma memória não tão efêmera da história econômica. São eles o nobel de economia Paul Krugman (2008) e a diretora gerente do FMI, Christine Lagarde. Para eles, a solução da situação atual passa, de fato, pela alternativa keynesiana. O momento dos ajustes das contas nacionais não se faz no bojo da crise, mas em períodos de ascenção do ciclo econômico, quando se pode tributar mais uma população que ganha mais e produz mais, com maiores perspectivas de equilíbrio das contas nacionais. Essas são, contudo, ideias que não vem escontrando muito respaldo nas políticas adotadas pelos países da Zona do Euro.

Nos Estados Unidos, a situação é distinta: a austeridade mescla-se a políticas expansionistas de incentivo à atividade econômica, mas que não surtem efeito, em virtude não só da sua restrita eficácia (um plano de US$ 447 bilhões em uma economia de US$ 15 trilhões), mas das enormes barreiras políticas aos sucessivos planos lançados pelo governo Obama. O último deles prevê acertadamente maiores investimentos em educação e infraestrutura, ao mesmo tempo em que traz cortes em benefícios sociais e um planejamento para redução do déficit público nos próximos dez anos. Sim, de fato, esse último item deve ser considerado, mas não em um momento que a indústria norte-americana se retrai, apresentando capacidade ociosa crescente.

Ou seja, o cenário para os próximos meses não é nada otimista. A assembleia da ONU em Nova Iorque essa semana e as conversas paralelas entre as principais economias desenvolvidas e os países emergentes não parecem estar próximas de uma alternativa viável, keynesiana, para a resolução das crises europeia e americana. Enquanto isso, as bolsas ao redor do mundo mantêm seu pífio desempenho, com alta volatilidade e capacidade de atingir, cada vez mais, a produção e a economia real.