MUNDOS PARALELOS DA REALIDADE 

Sabe-se que o Mundo Espiritual é uma dimensão paralela à nossa dimensão física, ou, melhor dizendo, tais dimensões encontram-se entrosadas em tudo que as contenham: seus habitantes e o seu psiquismo próprio, suas coisas, seus fluidos diversificados, se conjugando e se interpenetrando mutuamente, naturalmente. 

A “Bíblia Sagrada”, por exemplo, faz inúmeras referências a tal conúbio, revelando a existência de outro Mundo, o Espiritual, muito próximo do nosso Mundo Físico de matéria densa, estando um influenciando o outro, se tocando, permutando impressões boas ou más, salutares ou doentias, como pode constatar-nos os mais diversos relatos bíblicos. 

O “Novo Testamento” deixa isto bastante claro e patente. Em tal obra, por exemplos, os anjos, que afinal são Espíritos, acorriam por toda parte para prevenir os pastores da vinda do messias salvador; e ele, Jesus, confabulava naturalmente com os Espíritos; Paulo, seu grande apóstolo, realizava reuniões de cunho mediúnico tais como as que se fazem hoje com os respeitáveis espiritistas; e João, outro grande discípulo, nos aconselhava prudência no trato com os do Invisível alertando-nos para que não acreditássemos em todos os Espíritos, mas que os experimentássemos se são de Deus, pois que muitos falsos profetas se levantaram no mundo, e etc, etc.

 

Por conseguinte, no campo da filosofia, do empirismo retratado pela vivência cristã, não se tem como negar os ensinos e ditados concernentes à existência de outro Mundo, o Mundo Invisível e seus habitantes: Espíritos desenfaixados das vestes físicas. Mas o que são e de que são formados, ou constituídos, os chamados Espíritos, ou seja, nós mesmos, que, hoje, estamos aqui, mas, amanhã, trocando de vestimenta física pela extra-física, estaremos acolá, no Mundo Espiritual para recebermos as recompensas (bem aventuranças) ou as punições (devidas correções) pelas nossas boas ou más condutas.

Segundo instruções já ministradas, os Espíritos, encarnados ou desencarnados, são, essencialmente, individualidades de um elemento primordial: o princípio inteligente do universo. 

Ou, se o pretendermos, ainda, se diria que tais são criações da Mente de Deus, de Sua Substância mesma, pois que tudo vem de Deus, está em Deus, permanece em Deus (Vide artigo: “Inteligência Suprema do Universo”, deste articulista). Assim, pode-se dizer que os Espíritos são seres inteligentes da criação, ora libertos no plano extracorpóreo (Mundo Espiritual) e ora fisicamente encarcerados, passando pelas provas da vida biológica (Mundo Material), sendo suscetíveis, uns e outros, de melhoramento gradativo em função de normas evolutivas determinísticas, tendo a perfeição como escopo fundamental de sua existência. Sede perfeitos como Perfeito é vosso Pai que está no céu: assim falava Jesus. 

Nos tempos ora percorridos, a literatura sobre a vida na Espiritualidade é bastante expressiva, havendo publicações não só nacionais, mas também estrangeiras, tratando do importante tema. O sueco Emmanuel Swedenborg, falecido em 1772, escreveu vários livros sobre os destinos “post mortem” do ser humano. E, em “O Céu e o Inferno” (Allan Kardec – 1865), o codificador irá estudar, experimentalmente, a passagem do Espírito da vida corporal para a vida espiritual, bem como sua situação, suas penas e suas recompensas depois da morte. 

Mas a Codificação Espírita, composta pelo Pentateuco Kardequiano, ou seja, pelos cinco livros básicos do Espiritismo: 

-“O Livro dos Espíritos”;

-“O Livro dos Médiuns”;

-“O Evangelho Segundo o Espiritismo”;

-“O Céu e o Inferno”; e

-“A Gênese, os Milagres e as Predições”; como é óbvio: 

Teria de ser desmembrada, desenvolvida, suplementada. Sua postura filosófica, portanto, é dosada e progressiva, diríamos que até mesmo aprimora-se e aperfeiçoa-se ao longo do tempo-evolução possibilitando novos entendimentos e mais claros panoramas da grande realidade. 

E, portanto, no tocante aos relatos da vida extracorpórea, além-túmulo, parece-me que nada é tão completo, tão minucioso e tão confiável como os livros ditados por André Luiz, psicografia do renomado Chico Xavier. Tenho este autor em tão alta conta que se o mesmo houvesse produzido apenas a “Série André Luiz”, composta por dezesseis livros interessantíssimos, “Série” que dilata o conhecimento das esferas material e espiritual, ele, o Chico, já seria aclamado por toda a eternidade. 

Porém, sabemos, o Chico laborou muito, laborou muito mais! 

Tenho comigo, por exemplo, um singelo opúsculo: pequeno e grande ao mesmo tempo, pois que o mesmo abarca profundos e grandes ensinamentos da vida física e da vida espiritual; seu título: 

-“Voltei”: do Espírito que se intitula simplesmente Irmão Jacob. 

Sem entrar em detalhes já conhecidos do público de quem seja nosso querido Irmão Jacob, quando estivera reencarnado, etc e tal, o livro vem retratar do retorno, por vias mediúnicas xavierianas, de um grande confrade das lides espiritistas brasileiras. E o fato é que basta lermos o conteúdo maravilhoso do seu prefácio para termos uma razoável noção do seu estupendo conteúdo. Livro simples, sim, para os conhecedores do Espiritismo, mas também complexo, para estes mesmos conhecedores que ainda não se despertaram para a prática viva do Evangelho de Jesus.

Assim, vamos a tal prefácio que, certamente, se deduzirá que o mesmo vale por mais de mil palavras, mais de mil ensinamentos úteis. 

“A Luta Continua. 

“Enquanto no corpo, não formulamos a idéia exata do que seja a realidade, além da morte. 

“Ainda mesmo quando o Espiritismo nos ajuda a pensar seriamente no assunto, debalde tentaremos calcular relativamente ao futuro, depois do sepulcro. Os quadros sublimes ou terríveis no plano externo correspondem, de alguma sorte, à nossa expectativa; contudo, os fenômenos morais, dentro de nós, são sempre fortes e inesperados. Antes da passagem, tudo me parecia infinitamente simples. Não passaria a morte de mera libertação do Espírito e mais nada. Seguiria nossa alma para esferas de julgamento, de onde voltaria a reencarnar, caso não se transferisse a Mundos Felizes. 

“Compreendo hoje que aceitar esta fórmula seria o mesmo que menoscabar a existência humana, declarando-se que o homem apenas renascerá na Terra, respirará entre as criaturas e, em seguida, se libertará do corpo de baixa condensação fluídica. Quantos conflitos, porém, entre o aparecimento e a desagregação do veículo carnal? Quantas lições entre a infância e o declínio das forças físicas? 

“Reconheço, presentemente, que as dificuldades não são menores para a alma liberta dos mais pesados impedimentos do plano material. Entre o ato de perder a carcaça de ossos e a iniciativa de reencarnação ou de elevação, temos o tempo, e o conteúdo desse tempo reside em nós mesmos. Quantos óbices a vencer, quantos enigmas a solucionar? Acreditei que o fim das limitações corporais trouxesse inalterável paz ao coração, mas não é bem assim.

“No fundo, em nossas organizações religiosas, somos uma espécie de combatentes prontos a batalhar a distância de nossa moradia e, quando nos julgamos de posse da vitória final, tornamos ao círculo doméstico para enfrentar, individualmente, a mesma guerra, dentro de casa. 

“Vestimos a roupa de carne, a fim de lutar e aprender e, se muitas vezes sorvemos o desencanto da derrota, em muitas ocasiões nos sentimos triunfadores. Somos, então, filhos da turba distraída, companheiros de mil companheiros, cooperadores de mil cooperadores. Chega, no entanto, o momento em que a morte nos reconduz à intimidade do lar interior. E se não houve de nossa parte a preocupação de construir, aí dentro, um santuário para as determinações divinas, quantos dias gastamos na limpeza, no reajustamento e na iluminação? 

“Oh! Meus amigos do Espiritismo, que amo tanto! 

“É para vocês – membros da grande família que tanto desejei servir – que grafei estas páginas, sem a presunção de convencer! Não se acreditem quitados com a Lei, por haverem atendido a pequeninos deveres de solidariedade humana, nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual! Ajudem a si mesmos, no desempenho das obrigações evangélicas! Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos espiritualizarmos para as esferas superiores. 

“Falo-lhes hoje com experiência mais dilatada.

“Depois de muitos anos, nas lides da Doutrina, estou recompondo a aprendizagem a fim de não ser o companheiro inadequado ou o servo inútil. 

“Guardem a certeza de que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo não é apenas um conjunto brilhante de ensinamentos sublimes para ser comentado em nossas doutrinações – é Código da Sabedoria Celestial, cujos dispositivos não podemos confundir. 

“Agradeço, sensibilizado, a colaboração de Emmanuel e de André Luiz, nos registros humildes de meu refazimento espiritual, nestas páginas que endereço aos irmãos de ideal e serviço. 

“E pedindo a Jesus nos fortaleça a todos, no trabalho a que fomos conduzidos, de modo a estendermos, além de nós, as bênçãos que nos felicitam, rogo também ajuda para mim mesmo, a fim de que a Luz Divina me esclareça e auxilie, dentro do novo caminho de trabalho e elevação, porque, se a experiência carnal amadurece e passa, a vida prossegue e a luta continua”. (Vide: “Voltei” – Irmão Jacob – 1948 - Feb).

Desejo uma boa leitura a todos os que tiverem a oportunidade de ler, estudar e refletir seriamente, acerca dos preciosíssimos ensinos contidos nos vinte capítulos do referido livro da lavra mediúnica do nosso tão querido Chico Xavier: um dos mais importantes divulgadores do Espiritismo Cristão, do Espiritismo que preconiza a mais alta filosofia moral por meio da prática viva dos ensinos de Jesus. 

E que o nosso desenlace para a vida verdadeira, a vida espiritual, não nos pegue tão despreparados para tal, para o encontro da realidade de nós mesmos, reflexo de nossa pobreza, nossas deformidades e nossas mazelas morais. 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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