* Quais os benefícios da imaginação no desenvolvimento infantil?

São muitos os benefícios da imaginação infantil no desenvolvimento da criança, a começar pela brincadeira de imitação do adulto. Quando a criança imita um adulto, significa que ela consegue observar o mundo ao seu redor e que está incorporando os modelos sociais. É, inicialmente, apenas um exercício de dramatização de situações vivenciadas pelos adultos e captadas pela criança, entretanto a criança está brincando com suas emoções e sentimentos, tentando entender e elaborar o que escolheu para representar. Uma criança que brinca está nos mostrando que está emocionalmente saudável. Só é preciso observar o conteúdo desta brincadeira, pois este conteúdo é, muitas vezes, revelador dos sentimentos e emoções da criança.

A imaginação infantil também propicia outras invenções, abrindo espaço para a criatividade. Brincar de faz-de-conta é muito mais benéfico para a criança do que assistir um super desenho. Ao apenas visualisar o desenho, a criança recebe um amontoado de imagens, cores, sons, contudo, ao brincar de imaginar a criança cria, recria, estimulando sua criatividade e fazendo representações. Os objetos ganham vida e personalidade. Com o tempo as histórias ganham sequência e enredo. Então, a participação da criança na brincadeira imaginativa é mais preciosa na medida em que ela é ativa, o que não ocorre quando ela assiste ao desenho animado.

* Algumas crianças fantasiam mais do que as outras?

Sim. Vai depender muito do estímulo que os familiares dão. Pais que ligam com frequência  a TV para o filho estão estimulando a inatividade. Pais que propiciam momentos de brincadeiras imaginativas, estimulando ao participar e oferecendo materiais para a construção da brincadeira ofertam à criança a possibilidade da elaboração de histórias que se enriquecem com o passar do tempo.

Há crianças que são muito mais imaginativas que outras e isso não representa problema algum. É um problema quando a criança mistura demais a fantasia com a relidade, e se justifica dizendo coisas absurdas. Por exemplo, a criança que diz que quem quebrou o vaso da sala foi o homem aranha e de forma alguma assume a responsabilidade por tal feito.

* A falta de imaginação, ou o pouco desenvolvimento dela, deve servir de alerta para os pais?

Os pais não percebem que a criança está pouco imaginativa, eles acham que a criança é madura demais ao ouvir as respostas delas sobre algumas situações cotidianas. Os pais só vão perceber que a criatividade está reduzida quando a criança estiver na escola e for solicitada a elaborar histórias, isto é, quando o mundo lá fora cobrar produções das crianças é que os pais vão perceber que algo não está bem.

* De que forma os pais podem estimular a imaginação dos filhos?

Os pais podem estimular a criança brincando com ela e oferecendo objetos para estas brincadeiras. Uma escova de cabelo vira um personagem, etc. E com certeza os pais devem reduzir o tempo em que a criança permanece diante da TV.

* Como estabelecer os limites do quanto a imaginação é saudável ou prejudicial ao desenvolvimento da criança?

Brincar tem hora e lugar e os pais devem ensinar isso. Não se brinca com a comida na hora do almoço, assim como não se brinca enquanto estuda ou faz lição. A criança pode imaginar, criar histórias e fantasiar personagens, contudo não pode misturar com a realidade e quem são os norteadores são os pais. É preciso ir dizendo à criança algumas frases que as ajudam diferenciar o que é real do que é imaginário. “Eu só vi na TV o super homem, nunca vi um homem voando pela nossa cidade.”

Os pais devem brecar os filhos sempre que eles usam a historinha imaginativa para justificar-se na vida real. E não devem aceitar desculpas irreais de forma alguma. Se preciso, deve haver repreensão.

* A fantasia pode incentivar a mentira?

Não. O que incentiva a mentira são as atitudes dos pais frente às historias dos pequenos.

* Como os pais devem lidar com essa questão?

Se os pais acham bonitinha a criança culpar o Peter Pan por não ter arrumado seu quarto, estarão incentivando a mentira. É preciso estar atento às questões morais envolvidas nas imaginações infantis. O que é certo e o que é errado podem ser ensinados enquanto a criança brinca ou quando a criança se justifica. Assim, a familía evitará que a criança se torne um adolescente sem limites morais.

* Problemas familiares, de relacionamento e de conflitos pessoais podem ser identificados pelos pais nas brincadeiras ou histórias inventadas pelos filhos? O que deve ser observado, neste caso?

Nem sempre as crianças expressam conflitos enquando brincam. E brincar já é por si só terapêutico. O que precisa ser observado é se a criança une ao brincar outros comportamentos que apontam problemas, como deixar de se alimentar, voltar a fazer xixi na cama, chorar à toa, etc, podem ser indicativos de que a criança não está bem.

* Os mitos (papai-noel, coelhinho da páscoa, etc) devem ser valorizados?

Claro! É uma delícia contar essas historinhas! Observar as reações delas diante das histórias contadas e ouvir suas versões é sempre muito bom. O que mais me preocupa são as canções da nossa infância: atirar o pau no gato, cuca vai pegar e cravo brigou com a rosa são cheias de conteúdo assustador ou agressivo.

* (Caso a resposta seja afirmativa, a partir de qual idade a criança deve aprender que papai-noel não existe?)

Quando chegar o momento de cada criança, isto é quando ela descobrir por si mesma. Ela vai informar aos pais a descoberta e vai perguntar se é verdade. Elas perguntam aos pais, pois confiam neles. Essa é uma boa hora para falar sobre o assunto, explicando que foi a família que comprou o presente de Natal, mas ressaltando que há algo belo e grandioso na história de Papai Noel, por exemplo.