PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Tradução Ângela M. S. Corrêa. – 1. Ed., 1ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2008.

Juliane Oliveira de Almeida

 

Mulheres, conquistando o seu espaço!

 

Este livro tem como finalidade discutir as relações de gênero, como se desenvolveram as categorias como movimentos feministas, assim como entender como estas mulheres ao longo do tempo e de épocas foram ganhando seu espaço em todas as categorias existentes, principalmente os espaços que eram apenas masculinos, dentro de sociedades altamente patriarcais.

Michelle Perrot, Em Minha História das Mulheres, faz uma análise reconstrutiva do longo processo da relação entre os homens e as mulheres na dimensão da ação das mulheres no passado, a evolução de seu status, as lutas e as estratégias para conquistar a independência da mulher na atualidade. Demonstrando ao longo do livro como as reivindicações femininas tecem a história das mulheres, com uma temporalidade variável de acordo com os países, ou seja, alguns lugares mais intensos do que outros.

Perrot ao longo da sua obra cita nomes de pessoas importantes para a contribuição do feminismo na Europa e em todo o mundo. Mulheres que lutaram e gritaram por liberdade e igualdade de direitos, como Simone Beauvoir, Yvonne Verdier, Virginia Woolf, Joana D’Arc, Christine de Pisan, Monica Wittig e não menos importantes que estas, mas principalmente as mulheres anônimas que escreviam seus diários íntimos e cartas para seus maridos, filhos, parentes, registros os quais muitos se perderam em porões de casas e outros poucos estão em bibliotecas nacionais na Europa.

Foram através dessas mulheres de diferentes épocas que começaram a ingressar em jornais, ateliês, teatro, fábricas têxteis, como operárias, professoras primárias e secundárias, advogadas, médicas, profissões dotadamente masculinas, mas como a autora mostra ao longo do livro, profissões que as mulheres aos poucos foram conquistando para si.

Minha história das mulheres divide-se em cinco capítulos temáticos, o primeiro e o segundo abordam o significado de escrever a história das mulheres, e convém lembrar que a própria Michelle Perrot, além desta história escrita, foi testemunha ocular e participante pioneira de seu desenvolvimento nas universidades, com a colaboração dos movimentos femininos em meados do século XX até o início do XXI, fazendo uma aliança entre feminismo e modernidade, entre feminismo e democracia.

O terceiro capítulo é A Alma, que aborda trazendo a tona como as mulheres foram castigadas e como elas se perceberam não apenas como sua história contada por outros homens, mas que elas poderiam contar e escrever as suas próprias histórias como pessoa, mulher dentro de uma sociedade e o seu papel social, através da religião, cultura, educação, acesso ao saber, a criação. Ao longo do livro, Perrot cita exemplos de mulheres anônimas que mudaram a história da mulher em toda a sociedade, isto é, mulheres santas, feiticeiras, leitoras, escritoras, artistas, sábias e criadoras.

Dentre dessas a reivindicação do direito ao saber como a educação, a instrução que por muitos anos foram negados a elas, são certamente a mais antiga das reivindicações. Nesses períodos, os homens, o governo, a igreja eram os principais empecilhos da aprendizagem da mulher. Para a sociedade da época, a mulher foi feita para cuidar da casa e dos filhos, não para estar em público.

Nesse sentido, as mulheres lutaram e venceram o direito de estudar, de aprender música, direito ao voto, direito de trabalhar, direito de ser independente. Como na contemporaneidade, direito de escolher a relação com o outro do mesmo sexo ou não, direito de serem mães solteiras, direitos de não casar e nem por isso serem condenadas ou mal vistas pela sociedade, direito de ir e vir quando e na hora que quiser. Parecem bobos, mas só as mulheres sabem o quanto foi penoso e difícil ter acesso à liberdade e a igualdade dos sexos.

No terceiro capítulo, O trabalho das mulheres, ela destaca o cotidiano das camponesas e protestos das donas-de-casa, as condições das criadas e empregadas domésticas e, nesse sentido, as dificuldades, as trajetórias e as conquistas das mulheres em comparação com o emprego, o desemprego e o desempenho das mulheres em face de sociedade e aos seus direitos violados.

Nesse capítulo, ela demonstra a luta das mulheres pelo direito ao trabalho em diferentes esferas sociais de classe, assim como na luta pelos direitos civis, na medida em que a obtenção dos direitos civis nos países católicos foram tardiamente conquistados, em virtude do papel sacramental do casamento e de uma concepção patriarcal da família. Entretanto, os direitos civis é a chave do estatuto individual da mulher. Além da disputa por direitos políticos, na medida em que havia uma aculturação das mulheres a política, ainda mais que elas têm exercido funções de responsabilidade em todos os níveis do governo.

Outro ponto fundamental que Michelle Perrot discute é a reivindicação dos direitos do corpo, o qual caracteriza segundo a autora, o feminismo contemporâneo. Nesse sentido o direito tornou-se então essencial, sinal da democratização das relações entre os sexos.

No último capítulo, em Mulheres na Cidade, abordado principalmente nas décadas de 1970 – 1980 discute a migração das trabalhadoras, militantes e exiladas, dentro de uma cidade proibida, segundo a autora, por meio de todas as formas de ação coletiva adotadas pelas mulheres na luta por direitos civis, políticos, sociais, isto é, contracepção, liberdade sexual, combate à violência de gênero de todo tipo, incluindo as abomináveis mutilações genitais ainda praticadas em alguns países.

Michelle Perrot, em sua obra, fala sobre as histórias e conquistas das mulheres em todo o mundo até a contemporaneidade. Nos seus discursos e análises dotados principalmente pelo movimento emancipativo de longa duração que foi um agente decisivo de igualdade e de liberdade. E foi através dele que constituiu as mulheres como atrizes, professoras, médica, politicóloga, cientista entre inúmeras outras profissões e não apenas donas-de-casa, mães e esposas.