No Brasil, há indícios de elevado consumo de substâncias psicoativas entre crianças e adolescentes, especialmente os que se encontram em situação de rua, com predominância do uso de drogas lícitas.
Segundo o Levantamento Nacional Domiciliar sobre Drogas no Brasil, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas ? Senad, por intermédio do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas ? Cebrid, 11,2% da população brasileira que vive em cidades com mais de duzentos mil habitantes é dependente de álcool; 9%, de tabaco, e 1%, de maconha. Quanto ao uso pelo menos uma vez na vida, os resultados confirmam o álcool (68%) e o tabaco (42%) como as drogas de uso mais freqüente em relação às demais ? maconha (6,3%) e cocaína (2,1%).
Por essa razão, o tráfico de entorpecentes tornou-se um fenômeno mundial e está fugindo ao controle das ações governamentais.
Há duas décadas era raro ver nos tribunais uma mulher traficante.
Em São Paulo, das 106 mulheres recolhidas em 1977 à Penitenciária Feminina da Capital, no então complexo do Carandiru, apenas 7,5% estavam envolvidas com drogas.
Atualmente, as traficantes somam 51% das 447 detentas.
A mudança ocorreu de norte a sul. No Paraná, sete de cada dez estão presas por tráfico ? quase o dobro do registrado em 1993. No Rio de Janeiro, as condenações femininas pelo mesmo crime saltaram de 40% para 55% nos últimos dois anos.
Um estudo produzido em três Estados americanos concluiu que entre 1986 e 1996 a quantidade de mulheres encarceradas por crimes relacionados a entorpecentes cresceu quase nove vezes. Nesse período, o número de presas por outros delitos, como assaltos e homicídios, apenas dobrou.
Há pouco anos, a prefeitura de Buenos Aires inaugurou um presídio destinado única e exclusivamente a traficantes. A novidade deve-se em grande parte ao tráfico feminino.
A presença das mulheres no narcotráfico tem certas particularidades. Elas exercem as funções menos perigosas e quase nunca são as donas do produto. Não se conhece nenhuma "baronesa" do tráfico.
Por enquanto, elas predominam como mulas, atividade que não exige necessariamente violência física, armas em punho nem perseguições policiais.
"O universo cultural feminino é menos violento que o do homem".
É assim em todas as facetas do crime. Um em cada três presos em São Paulo está detido por assalto. Entre as mulheres, a proporção é de uma em sete.
Cientes de que o sexo feminino desperta menos suspeita da polícia, os chefões do narcotráfico começaram a arregimentar mulheres para o transporte de drogas no final da década de 80. Já no início dos anos 90, deixou de ser surpresa em aeroportos nacionais a prisão de estrangeiras, principalmente nigerianas, carregadas de cocaína.
Perto de 30% dos 284 estrangeiros presos pela Polícia Federal entre 1990 e 1999 eram mulheres. Como o Brasil deixou de servir de simples corredor para o envio de droga colombiana à Europa e aos Estados Unidos e passou a ter narcoexportadores próprios, as mulas brasileiras começaram a encher os presídios.
Razões variadas levam uma mulher a encarar o desafio do narcotráfico: a ganância, a necessidade financeira, o amor, a aventura ou o próprio vício.
"O tráfico transforma-se em atividade atrativa diante do desemprego crescente, principalmente nas grandes cidades", afirma o sociólogo paulista Guaracy Mingardi, pesquisador da Unesco para o tráfico de entorpecentes.
Nas últimas décadas, as mulheres iniciaram uma conquista crescente de postos de trabalho em todo o mundo mas ainda há uma grande defasagem de oferta de emprego para mulheres e a ausência de meios honestos para ganhar a vida pode contribuir para levar uma pessoa ao crime, desde que haja predisposição para isso. Fora da prisão, a maioria das mulheres tenta enfrentar as dificuldades de readaptação, com subempregos e baixos salários. Infelizmente, só uma minoria consegue. Em linhas gerais, oito em cada dez ex-detentas voltam ao tráfico.