A mulher vem ao longo do tempo superando o preconceito e construindo seu espaço nos setores econômico, social e político, através da busca por mais qualificação, se insere no Ensino Superior e torna-se personagem fundamental também neste cenário.
A trajetória feminina da submissão à conquista de seu espaço no Ensino Superior certamente é motivo de orgulho para a história da humanidade, embora esta seja palmilhada de preconceitos, injustiças também tratam de uma história de superação e vitórias. Muraro (2002, p.191) analisa a atuação social da mulher neste terceiro milênio como uma “revolução fantástica”, onde a mulher supera o patriarcado e enfrenta em igualdade às exigências do “mundo competitivo” atual, porém, esta luta parece ainda, estar longe do fim, pois em muitas culturas modernas as mulheres ainda são vítimas de dogmas e ideologias que tolhem sua liberdade, sem falar no preconceito velado, porém, igualmente nocivo, das sociedades que se dizem democráticas.

Trato neste artigo a superação e o processo de construção da identidade da mulher, uma vez que me propus analisar a trajetória e ascensão da mulher no cenário docente do Ensino Superior tendo como campo empírico a Universidade Estadual de Montes Claros onde a atuação feminina foi, e ainda é determinante à existência e sucesso da instituição.

A UNIMONTES está situada na cidade de Montes Claros na meso região Norte de Minas Gerais. De acordo com informações no site oficial da Prefeitura Municipal de Montes Claros (2009) a cidade nos últimos anos recebeu várias instituições de Ensino Superior, são 13 instituições particulares além do campus da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Estadual de Montes Claros que oferecem 50 cursos de graduação, além de pós-graduações e mestrados, onde estudam 30 mil universitários. A cidade tornou-se referência de Ensino Superior aos Estudantes de toda região do Norte de Minas Gerais, Vales do Jequitinhonha e do Mucuri e assim se transformou em um importante pólo universitário.

Neste cenário destaca-se a UNIMONTES, universidade que se originou da Fundação Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM), sendo transformada em instituição pública estadual, através do artigo 82, parágrafo 3º, do “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”, da Constituição Mineira, de 21/09/89.

Segundo Professor Paulo César Gonçalves de Almeida** a Universidade, deve sua existência à expressiva participação feminina tendo entre seus idealizadores a contribuição de grandes educadoras como: Professoras Isabel Rebello de Paula, Maria Dalva Dias de Paulo, Maria Isabel Magalhães Figueiredo Sobreira (Baby Figueiredo), Mary Figueiredo e Maria Florinda Ramos Marques.

Quanto aos procedimentos metodológicos, busquei através da revisão bibliográfica, o suporte teórico necessário para a realização deste estudo, Ferreira (2002, p.257- 258) afirma que as pesquisas bibliográficas “realizam uma pesquisa de caráter inventariante e descritivo da produção científica sobre o tema que buscam investigar” e deste modo, a pesquisa bibliográfica aqui realizada, objetivou encontrar respostas aos aspectos e dimensões referentes ao tema proposto, que foram privilegiados e construídos em diferentes épocas e lugares e condições, deste modo este estudo possui caráter exploratório, no sentido de identificar e evidenciar os seus objetivos sendo a investigação encaminhada na perspectiva da intersecção entre a pesquisa qualitativa e quantitativa, baseando-se no que diz Santos e Filho (1995, p. 44) sobre a pesquisa quantitativa: “o foco da pesquisa são os traços individuais, as relações causais, o porquê”.

Quanto à pesquisa qualitativa, o autor lembra que: “o foco é a experiência individual de situações, o senso comum, o processo diuturno de construção de significados, o como”, partindo da premissa de que “existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, entre o sujeito e o objeto, entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito” (MINAYO, 1998).

Os dados estatísticos deste estudo foram coletados em conformidade com os procedimentos metodológicos e éticos inerentes a uma pesquisa desta natureza, junto ao setor de Recursos Humanos da Universidade Estadual de Montes Claros e dados do IBGE.

À luz da hermenêutica, analisei os dados coletados, por acreditar na eficácia deste método que consiste em fazer com que o pesquisador interprete o texto, a fala, o depoimento, de forma a tecer considerações e construir conhecimento sobre a temática proposta.

Assim, tendo como norteador o referencial teórico apresentado, documentos e dados coletados foram analisados e interpretados resultando neste artigo que traz ao conhecimento do leitor, reflexões que contribuíram a posteriori para o aprofundamento do conhecimento e, podendo no futuro, servir de base para novas pesquisas sobre o tema.

 

 

A SUBMISSÃO HISTÓRICA DA MULHER NO BRASIL

 

 

(...) o teu desejo será para teu marido, e ele te dominará.

Genesis 3:16 (Bíblia Sagrada)

 

Não tenho a pretensão, promover neste artigo um discurso feminista ou religioso, todavia, não seria possível realizá-lo sem antes tecer algumas considerações sobre as raízes históricas da submissão feminina considerando a base da educação no Brasil.

A educação brasileira tem raízes no ensino jesuítico, portanto, é possível afirmar que a cultura e as relações sociais do Brasil foram construídas sob a influência religiosa cristã que foi imposta aos nativos, pois “(...) quando os europeus por aqui chegaram não encontraram nenhuma vontade da população em optar pela fé cristã. Para que isso fosse possível, dizimaram boa parte desta população” (BELLO, 2001, p.1). Sobre este fato, o autor ainda afirma que, sob o pretexto de superioridade de uma cultura pela outra, a cultura que se julga superior, espera que seus valores sejam difundidos á qualquer custo.

 

 

As religiões provêm da cultura de determinados povos. A imposição de uma cultura sobre outra, sob o pretexto autoritário e inexplicável da supremacia cultural, faz com que certas crenças espalhem-se pelo mundo como verdades universais. (...) na ideologia de qualquer religião existem padrões morais tidos como melhores ou superiores. (id, 2001, p.1)

 

 

È fato que a ideologia do “Cristianismo herdou o legado do Judaísmo” (EL SAADAWI, 1982, p. 129), logo, as raízes jesuíticas que permearam a educação brasileira possui influência desta religião que tem seus preceitos na lei mosaica1. Percebemos nesta lei, relatada no Pentateuco2 cuja autoria é atribuída ao profeta Moisés, a valorização da cultura essencialmente patriarcal e discriminatória em relação ás mulheres, embora tenhamos relatos nestes livros da expressiva atuação feminina na construção da história do povo Judeu.

Seguindo esta ideologia, surge o mito de Eva (SICUTERI,1990,p.211) e a teoria de que a mulher era incapaz de ser autônoma e livre, sendo inferior ao homem. Segundo este mito, Eva sob influência do demônio, persuadiu o homem, levando-o ao pecado e condenando toda a humanidade.

Casonatto (2010) afirma que o mito é “fundamentalmente determinante na detecção da moral imposta pela religião católica”, o autor utiliza-se deste mito como exemplo de como a moral é influenciada pelos mitos religiosos, determinando, neste caso, a relação entre homens e mulheres.

Corroborando com esta idéia podemos citar Hillman apud Casonato (2010) que afirma que “toda a história psicológica da relação homem-mulher é uma série de notas de rodapé à história de Adão e Eva”.

Quanto ao cristianismo atual, não parece ser justificável que a desigualdade entre homens e mulheres, persistisse por tanto tempo, pois existem relatos bíblicos em que o próprio Jesus Cristo, considerado entre os judeus como Rabi ou Rabino3, um homem de notório conhecimento, possuía entre seus seguidores muitas mulheres que se tornaram suas discípulas, como se pode perceber em diversas situações citadas, como exemplo no evangelho de Marcos capítulo 15, versículos 40-41 na Bíblia:

 

 

E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, Maria, mãe de Thiago e de José, e Salomé, as quais o seguiram e o serviam, quando estava na Galiléia; e muitas outras que tinham subido com ele (Jesus) a Jerusalém. (ALMEIDA, 1995, p.1494).

 

 

Este fato também pode ser comprovado nas palavras do evangelista Lucas no capítulo 8, versículos de 1-3, também da Bíblia Sagrada entre outros, como se pode ler a seguir:

 

E aconteceu, depois disso, que andava de cidade em cidade, pregando e anunciando o evangelho do Reino de Deus; e os doze iam com ele (Jesus), E também muitas mulheres que haviam sido curadas: Maria Madalena, e Joana, mulher do procurador de Herodes e Suzana e muitas outras que o serviam com suas fazendas. (ALMEIDA, 1995, p.1520).

 

 

Em suas ações, Jesus demonstra claramente que para ele não havia distinção de gênero, formando discípulos e discípulas. Como afirma Casonatto (2010) “Jesus tem outra visão sobre a mulher do seu tempo, ele altera o relacionamento homem – mulher. Numa sociedade que dava privilégios ao homem, ele procura tirar estes privilégios.”

Através destes relatos pode-se então dizer que Cristo era a favor da diplomação das mulheres tanto quanto a dos homens. Então, como explicar esta distinção de gênero no mundo cristão?

O que pretendi até o momento, foi promover a reflexão do leitor sobre a origem da distinção entre homens e mulheres quanto à capacidade e direitos dos mesmos.

No Brasil, a educação jesuítica durou por 210 anos, desde a sua colonização em 1549 até 1759 com a expulsão da Companhia de Jesus, porém, deixou como legado seus dogmas e maneira de se conduzir a educação. Destarte, não é difícil entender a origem da discriminação e o preconceito que foram submetidas às mulheres no Brasil, sendo as mesmas durante muitos anos impedidas de gozarem dos diretos sociais e políticos, dentre estes o direito à educação.

Para melhor compreensão desta trajetória no Brasil, fiz a seguir um breve histórico da inserção da mulher no mercado de trabalho e na profissão docente.

 

 

 

 

 

 

 

A MULHER BRASILEIRA COMO FORÇA DE TRABALHO E COMO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

 

 

"O Estado que não valoriza as suas mulheres é um atleta de um braço só."

Platão (A República)

 

Desde meados do século XIX, a força de trabalho infantil e feminina já era utilizada pelas indústrias no Brasil. Segundo o IBGE (1997), em 1894 as mulheres ocupavam 68%da vagas na indústria têxtil, na indústria do vestuário e toucador 34% da mão de obra era feminina.

Com a atuação da mulher no mercado de trabalho e sob influência do positivismo no início do séc. XX houve certo avanço acerca da imagem feminina que antes, conforme Almeida (1998, p.18) “aglutinava atributos de pobreza, doçura, moralidade cristã, generosidade,” induzindo a comparação da mulher com a virgem católica. Porém, o discurso positivista ao adotar modelo que exaltava a renúncia e as qualidades morais femininas se “armavam de ambigüidades (...) e foram determinantes na desclassificação social da mulher”.

 Neste contexto, a sociedade já havia se tornado mais complexa, as mudanças ocorridas no mercado de trabalho e nas relações sociais já demandavam mais competência escolar. Em 1940, segundo IBGE (1997) somente no estado de São Paulo, 40% da população era alfabetizada, dentre estes a maioria eram os homens.

Novos postos de trabalho foram surgindo e aumentava a exigência por mão de obra qualificada. Era então urgente que o ensino médio se expandisse pelo país, destarte necessário preparar professores. Nas escolas de formação dos professores se “avultavam as mulheres,”, mas na intenção de educá-las dentro das aspirações masculinas. Sobre esta afirmação, Almeida (1998, p.19) declara que o positivismo advogou a favor da igualdade da educação entre homens e mulheres, porém esta igualdade diferenciava-se nos seus objetivos, pois não era fim último da educação para as mulheres que estas desempenhassem função assalariada.

Neste contexto, sob a pressão da demanda industrial por qualificação, a mulher encontrou no magistério a porta para sua atuação remunerada, pois era aceitável que a mulher exercesse um trabalho que implicasse cuidar de alguém comparando sua profissão com o sacerdócio materno. (id, p.32), visão esta que viria trazer prejuízos á valorização do magistério enquanto profissão. “(...) a entrada da mulher no magistério provocou no imaginário social e na constituição profissional da categoria, uma crescente desvalorização social e salarial” (FONTANA E TUMOLO, 2005, p.2).

Estudos de Guimarães (2003, p.18) mostram que entre os anos 30 e 40 a imagem da professora assume uma conotação um pouco mais profissional com denominações como: “educadora”, “profissional do ensino,” “trabalhadoras da educação.” A autora ainda afirma que cursar o Normal (nome dado ao curso de magistério), tornou-se a formação máxima  pretendida pelas mulheres. Esta época também foi marcada pela entrada maciça de mulheres no Ensino Superior, principalmente nos cursos de Ciências Sociais. Sem deixar a perspectiva da temática discutida sobre a mulher e a educação, intencionalmente faz-se um corte no assunto para tecer considerações importantes sobre a situação trabalhista da mulher no Brasil que neste contexto passou por avanços.

Conforme Mendes (1999, p.234) através do Decreto21. 417-A de 17/05/1932 que regulamentou o trabalho da mulher e entre outras medidas, trouxe a proibição de exercer trabalhos insalubres, penosos ou perigosos, previu também licença de quatro semanas antes e pós-parto bem como local de guarda dos filhos lactantes. Em 1934 no Decreto nº24273 criou-se o Instituto de Aposentadoria e pensões dos comerciários e auxílio maternidade a empregadas do comércio.

Em 1943, através do Decreto Lei nº5. 453, a Consolidação das leis do trabalho, especificamente no capítulo III do título III (art.372e 401) as condições de trabalho da mulher são regulamentadas, inclusive proíbe a redução e a discriminação do salário feminino, porém (ibid,p.235), no art.446 determina que fosse facultado ao pai ou ao marido “pleitear a rescisão do contrato de trabalho, quando sua continuação for suscetível de acarretar ameaça aos vínculos da família.”

Apesar de muitos direitos conquistados, por fim último dentro da lei, a mulher ainda se mantinha em total submissão ao pai ou marido o que “influiu negativamente nas relações de trabalho feminino.” (ibid, p.236)

Foi na década de 50 que as mulheres iniciaram a tomada de consciência e o movimento pela profissionalização do ensino, por igualdade de condições de trabalho e salarial. (GUIMARÃES, p.19) mas somente após a Constituição Federal de 1988 no art.5º caput, I e XIII e 226 parágrafos 4º e 5º e pela lei 7.855/89, a mulher pôde se ver totalmente livre da submissão ao homem.

 

 

A MULHER BRASILEIRA E O ENSINO SUPERIOR

 

 

“O Ensino Superior deve ser igualmente acessível para todos na base do mérito”

Declaração Universal dos Direitos Humanos, Art. 26, §. 1º.

 

 

 A presença feminina no Ensino Superior no Brasil é considerada tardia, por Blay (1991, p.51-53), segundo a autora, a primeira diplomação superior a uma mulher no Brasil, aconteceu no século XIX em 1887, Rita Lobato Velho Lopes, se formou médica pela Faculdade de medicina da Bahia, e esta formação só lhe foi possível por uma lei assinada por D. Pedro II em 19 de abril de 1879, que permitia o ingresso das mulheres no Ensino Superior  no Brasil.

Antes, a primeira brasileira formada no Ensino Superior era Maria Augusta Generosa Estrela, considerada pioneira e responsável pela abertura das faculdades às mulheres. Maria Augusta se formou médica em 1876 em Nova York, graças à bolsa concedida por D. Pedro II pelo seu notório desempenho acadêmico, porém, ela jamais poderia exercer a medicina dentro do país sem a lei de 19/04/1879.

A luta feminina pelo direito de freqüentar o Ensino Superior é somente mais uma de muitas lutas que tiveram que ser travadas em busca da igualdade de gênero, muitas mulheres atualmente vêem no Ensino Superior a oportunidade de mudar sua condição social, não somente no aspecto financeiro, mas na construção de sua identidade e de seu espaço, Como confirma Guimarães (2003, p.7):

 

 

(...) na sociedade brasileira contemporânea, as mulheres estão cada vez mais buscando na conclusão do Ensino Superior a oportunidade de mudarem seus projetos de vida, família e casamento. Elas querem liberdade de pensamento e ação. Desejam ser percebidas como indivíduos capazes de fazer escolhas e tomar decisões.

 

 

Muitos estudos revelam que atualmente as mulheres superam os homens em número dentro Ensino Superior, o censo da Educação Superior de 2006-2008 (INEP) revela que havia cerca de 12% mais mulheres que homens no Ensino Superior , este estudo foi realizado com o objetivo de “traçar uma radiografia do Ensino Superior  no Brasil”. Hoje as mulheres representam 60% do total de universitários no Brasil, sendo que em 2007 elas representavam 57,1% e 10 anos antes em 1997 eram 53,6%.

Ora, se a população feminina no Ensino Superior cresce estatisticamente á cada pesquisa divulgada, obviamente decresce a presença masculina. (BRASIL, 2008).

Estes números colocam o Brasil em 1° lugar juntamente com outros países no que se refere ao acesso à educação, na pesquisa da ONU divulgada pelo Global Gender Gap Index 2008,  e que avalia a diferença entre homens e mulheres em 128 países. Nesta mesma pesquisa quando se avalia o mercado de trabalho, o Brasil ainda fica na 72º posição do ranking mundial, a situação piora quando a avaliação é a igualdade de salário, a posição do Brasil é a 100º(MORALES, 2010).

Barroso e Melo (1980, p.47) afirmam que a mulher aumenta progressivamente os anos de estudo que o público masculino, mas o crescimento não tem a mesma proporção quando se refere às desigualdades de renda.

Bruschini e Lombardi (2000, p.64) afirmam que a taxa de desemprego é maior entre as mulheres, e mesmo com nível escolar mais alto elas ainda ganham menos que os homens até mesmo para desenvolver funções equivalentes. A diferença no rendimento médio mensal entre os homens e mulheres de mesma escolaridade é de cerca de 30% a mais para os homens.

Mesmo com muitas mudanças no quadro geral da situação da mulher em relação à educação e ao mercado de trabalho e apesar da presença feminina em todas as áreas do conhecimento, ainda existe a segmentação por sexo quanto às áreas de ingresso no Ensino Superior com o predomínio feminino nas áreas de educação, saúde, ciências sociais, Humanidades e artes. Essa segmentação influencia significativamente no perfil do mercado de trabalho criando as chamadas ocupações tipicamente femininas, e que geralmente são menos valorizadas em termos de rendimento e status ocupacional.

O IBGE divulgou em 2008 com base nos dados do PNAD 2007, que 44,6% das mulheres no Brasil estão empregadas em áreas ligadas à educação, saúde e serviços sociais e somente 15,7% dos homens atuam neste setor.

Apesar de ainda haver tantas diferenças e barreiras, a mulher hoje está superando séculos de submissão e silêncio, ao buscar o Ensino Superior, ela procura muito mais do que atualização e ampliação de seu conhecimento, quer também autonomia em suas decisões, ou seja, a sua independência financeira e também psicológica.

O público feminino invade a universidade não somente como discentes, as instituições de Ensino Superior também estão se tornando o reduto profissional das mulheres. Conforme o Censo da educação superior 1996-2003, divulgado pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2005), a população de mulheres docentes no Ensino Superior, incluindo faculdades e universidades públicas e privadas, aumentou de 57.466 em 1996, para 116.221 em 2003, revelando um crescimento de 112%, enquanto entre a população masculina o crescimento no mesmo período foi de 90.854 para 152.696, ou seja, um crescimento de 67,9%.

Não só cursos de graduação, mas, nos cursos de pós-graduação, cresce a presença feminina no corpo docente das instituições, “melhorando de forma acelerada a sua titulação e aumentando significativamente a sua participação no corpo docente dos mestrados e doutorados brasileiros.” (GODINHO, 2005, p.30)

Os dados estatísticos apresentados neste estudo mostram que a presença das mulheres nos cursos superiores tem sua relação causa e conseqüência, estudos de Godinho (2005, p.30) apontam que as mulheres também são maioria nos cursos de Pós Graduação Stricto Sensu, elas são 54% do total dos bolsistas da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.) entre os cursos de mestrado e doutorado. Em 2003 no Brasil entre os 35669 mestres e doutores formados, 18.160 eram mulheres.  

De acordo com recente pesquisa divulgada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Brasil (2008), estima-se que em 2011 as Universidades tenham 610.232 professoras e 589.597 professores, uma diferença considerável de 20.635 mulheres.

Chegando à fase final da “linha do tempo” que propus neste estudo, vali-me do histórico da Universidade Estadual de Montes Claros, a fim de exemplificar a participação feminina no Ensino Superior.

 

 

A MULHER E A UNIMONTES

 

 

A Universidade Estadual de Montes Claros alcança hoje estudantes de mais de 336 municípios do Norte de Minas e dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, abrangendo uma clientela que, em potencial, ultrapassa a dois milhões de habitantes.

Durante seus 48 anos de história, a UNIMONTES contou com a imprescindível participação feminina sempre contribuindo para os avanços desta instituição.

De modo algum pretendo desmerecer a participação masculina na construção da história da UIMONTES, tampouco promover algum personagem, o que quero aqui é pontuar a participação feminina na história desta universidade, portanto de forma intencional fiz recortes de fatos importantes onde se evidencia esta participação.

Com base nos estudos de Caleiros (2002, p.18-47), a Universidade surgiu da vontade e esforços de educadores e profissionais idealistas que alimentavam o desejo de ver concretizados os sonhos de progresso da região, sobretudo na área do Ensino Superior , entre estes idealistas não se pode deixar de notar a numerosa presença feminina como se pode ver no relato a seguir extraído do estudo de Caleiros:

 

 

(...)Em 25 de julho de 1962 reuniram-se (...) pessoas empenhadas na concretização do projeto de criar uma universidade em Montes Claros e delinear o perfil da nova escola.Estavam presente na reunião, conforme ata da FUNN: o farmacêutico Mário Versiani Velloso, os doutores: Antonio Augusto Veloso, Hermes de Paula, Raimundo Deusdará, os professores Artur Versiani dos Anjos, Ivana Versiani Galery, o Sr, Benjamim Versiani dos Anjos e as senhoritas: Assunção Lopes, Maria Isabel de Magalhães Figueiredo, Isabel Rabelo, Mayave Ribeiro, Maria da Consolação de Magalhães Figueiredo, Maria Luiza Costa. (id.2002, p.21)

 

 

A região do Norte de Minas era considerada carente em vários aspectos, demandava a formação de pessoal qualificado, com o ensino precário e com altos índices de analfabetismo, “carente de professores habilitados, presenciava seus jovens interromperem seus estudos (..) ou migrarem para outras regiões para concluírem seus estudos”.(id,p.19)

Conforme Caleiros org. (2002), a UNIMONTES, foi construída tendo como os alicerces a dedicação de muitos idealistas, mas como este estudo trata especificamente da mulher, não se pode deixar de mencionar os nomes de Maria Jacy Ribeiro, Maria Pires dos Santos, Marina Helena Lorenzo Fernandes, Sylvia dos A.C. Machado, Yedde Ribeiro Christova e Yvone de Oliveira Silveira, conforme os autores (p.24) as mulheres ainda tiveram presentes na primeira constituição da Reitoria da Universidade em 1970, representadas pelas Professoras Maria Isabel de Magalhães Figueiredo, Heloisa Helena de Ruiz Combat Vieira, Maria da Consolação Figueiredo Cowen entre outras, esta última coordenou a elaboração em “tempo recorde” em 1977, do projeto do Campus que seria apresentado ao MEC e a Caixa Econômica Federal com fins de liberação de recursos para a construção do mesmo, a educadora também segundo os autores (p.25), recebe junto com o então Reitor João Vale Mauricio o mérito pela conquista do terreno que funciona atualmente a Universidade. “a conquista foi fruto dos esforços do Reitor João vale Mauricio e da professora Maria da Consolação de Magalhães Figueiredo” (ibid,p.25).

Como se pode observar, a mulher vem desenvolvendo importantes papeis dentro desta universidade. Com base nos dados pesquisados junto ao Departamento de Recursos Humanos, existem hoje atuando na UNIMONTES, 1441 professores sendo 635 homens e 806 mulheres.

Este dado vem reafirmar o que as pesquisas em âmbito nacional já constataram: que as mulheres estão em maior número dentro das universidades, ocupando espaços também nas diversas áreas do conhecimento principalmente nas áreas “tipicamente masculinas”, desmitificando a relação gênero e profissão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Ao longo deste artigo, apresentei um pouco da trajetória da mulher na construção de sua identidade e ascensão no cenário docente do Ensino Superior, desde a origem do mito de Eva até a conquista de seu espaço como maioria docente nas universidades utilizando como exemplo a Universidade Estadual de Montes Claros.

Vali-me de diversos autores e de distintos fatos que me conduziram a um relatório histórico e cronológico de fatos que jamais devem ser esquecidos quando o assunto é a mulher e a conquista de seu espaço social.

Estes aspectos permitiram-me através uma linha cronológica seqüencial, destacar a singularidade da história da mulher dentro da história da humanidade, a submissão e a inferioridade imposta por ideologias, dogmas e crenças, as injustiças sociais sofridas, sua superação e conquistas como sujeito de direito.

 Através da busca pelo conhecimento as mulheres estão superando, de modo extraordinário, séculos de subordinação e silêncio, se especializando em níveis cada vez maiores e se inserindo no Ensino Superior, tornando-se personagem fundamental na construção da sociedade moderna, não reescrevendo sua história, mas com orgulho de seu passado dá rumos ao seu presente e futuro na perspectiva de uma sociedade justa, igualitária em oportunidades e acima de tudo de respeito às diferenças.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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** Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros/ MG-UNIMONTES, em artigo sobre Luiz de Paula disponível http://www.unimontes.br/arquivos/artigos/luizdepaula.pdf

 

1 Mosaico: Adjetivo. Relativo ao, ou próprio do profeta e legislador bíblico Moisés ( sec. XIV-XIII a.C.).

 

2 Pentateuco: Cinco primeiros livros da Bíblia cristã: Genesis, Êxodo, números e Deuteronômio (BUENO,1986,p.848)

 

3 Rabino: Substantivo masculino. Líder espiritual, ou mestre das leis e textos religiosos, no judaísmo. Sacerdote do culto judaico. [F. paral.: rabi.]