As mulheres vêm conquistando espaços nunca antes imaginados e atuando em diferentes setores da sociedade causando profundas transformações. Estas conquistas são resultados de muitos anos de lutas e posturas assumidas em relação a sua vida pessoal e profissional.

A figura da mulher sempre esteve cercada por mitos e caracterizada como sagrada ou profana. Em algumas situações, era vista como angelical e em outras como demoníaca ou bruxa. Há também a representação da mulher como esposa ou amante, santa ou prostituta, trabalhadora ou militante. São várias as termologias, as ações e formas de reconhecer as mulheres na sua trajetória histórica, cada uma mais enigmática e representativa que a outra. Essas várias formas de representação nos fazem lembrar e perceber que cada mulher representa um universo.

Mulher e a sociedade: padrões, eventos e o imaginário.

A relação entre mulher e sociedade se define em um grande leque de acontecimentos e padrões que formam o imaginário sobre a sua figura. Mas o importante é que estas relações mesmo sendo variadas nos ajudam a compreender as mulheres nas mais diversas épocas da história.

Quando falamos da mulher logo nos vem a imagem de uma mulher contemporânea, que trabalha, tem sua independência, administra sua vida, casa e família, e que participa ativamente da sociedade onde vive. Mas não precisamos viajar muito longe na história para vermos que esta maneira de vida nem sempre foi aceita. Há pouco tempo as mulheres não podiam votar, não podiam estudar, não podiam decidir se queriam ser solteiras ou casadas, os padrões eram diferentes. As que fossem solteiras, independentes, ou que tivessem essas vontades eram mal vistas e criticadas pela sociedade. Muito mudou, mas algumas mulheres ainda sofrem com preconceitos sobre suas opções de vida.

Concursos, casamentos, padrões de beleza e a moda de cada época são símbolos que representam a transição na vida de uma mulher. Era de suma importância a participação em eventos e também seguir determinados padrões para que fosse bem vista pela sociedade. A não participação era uma ofensa à família e aos bons costumes da época.

Concursos de robustez infantil

A partir do século XIX surgiram no Brasil alguns esforços que visavam à promoção da saúde e da sobrevivência das crianças, pois nesta época os índices de mortalidade infantil eram muito elevados.

Uma das iniciativas implantadas no país na década de 1920 foi o concurso de robustez infantil que premiava as crianças mais saudáveis, vigorosas e belas. A mulher passou a ser responsável direta pela saúde dos filhos, mas, muitas vezes, confundia a palavra robustez como sinônimo de gordura.

Este concurso contribuiu para difundir na população mais carente as concepções de saúde infantil oriundas das elites. Contudo, alguns dos critérios de avaliação permitiam o aumento das desigualdades sociais e econômicas e fortaleceram a imagem da mulher como reprodutora.

Concursos de beleza

A mulher sempre foi vista de diferentes maneiras em relação a sua beleza. Ao longo dos anos, os meios de comunicação influenciaram a sociedade que acabou criando padrões de beleza de acordo com o tempo e o espaço. Os concursos de beleza acabaram fortalecendo a idéia de que as mulheres deveriam seguir determinados padrões físicos para obterem maior aceitação social.

Em Carazinho, alguns eventos desta natureza foram realizados como por exemplo, os concursos de Rainhas de Clubes, Estudantil, do Cinqüentenário de Carazinho, Feira do trigo, entre outros.

Padrões de Beleza

Não se tem como falar em padrões de beleza e não lembrar da figura da mulher. Não há gênero que sofreu mais com a invenção destes padrões do que o feminino, pois nenhum homem teve de usar, por exemplo, um espartilho para deixar a sua cinturinha fina, ou quem sabe um sapato de numeração menor para deixar seu pé no tamanho que se era considerado bonito, ou talvez usar vestidos enormes e com saias volumosas. Estes são padrões que ao longo dos anos vêm acompanhando a história das mulheres.

Eventos religiosos

Os eventos religiosos eram momentos de integração da comunidade e de convívio familiar, onde as filhas eram apresentadas aos futuros maridos e de certa forma se mostravam para a sociedade. Os eventos também eram muito usados pelas moças de família para fugir do olhar fiscalizador de seus familiares. Em tempos mais remotos era comum se ter roupas que eram única e exclusivamente para estas ocasiões. Tudo isso tornava os eventos religiosos um dos grandes momentos do município e importante momento para as mulheres da cidade.

Casamento

O casamento é mais um dos momentos de transição do gênero feminino, ou seja, momento onde deixa de ser uma moça e passa a ser reconhecida como mulher na sociedade. Para a maioria das mulheres o casamento representava uma liberdade que só seria possível com a sua saída de casa e a criação de sua família, para outras representava um momento sublime e de grande importância, pois sendo casada, seria bem vista pela sociedade. A questão religiosa também é um dos fatores na representação do casamento como evento importante. A negação deste evento por parte de uma mulher faria com que esta fosse mal vista e muito criticada. Toda essa representação do casamento também contribuiu para o fortalecimento da figura da mulher mãe e dona de casa. Com o passar dos anos e com a modificação de alguns valores da sociedade, e a maior independência da mulher perante o gênero masculino, vemos o casamento perder espaço e representação. Hoje são poucas as mulheres que optam pelo casamento formal, muitas se casam no civil, ou simplesmente convivem junto com seu companheiro sem nenhuma formalidade.

A mulher, o trabalho, o preconceito.

As mulheres e o trabalho sempre estiveram ligados em diversos momentos da história. Foram elas as grandes responsáveis pela revolução agrícola, que possibilitou a sedentarização dos povos nômades, mudando a realidade vivida até então.

Com a evolução pós-revolução agrícola e o surgimento das primeiras civilizações, as mulheres perdem espaço para os homens, pois estes acabam ocupando de forma geral o trabalho profissionalizado, restando às mulheres um pequeno espaço de trabalho no campo e o trabalho doméstico, o que fortaleceu a imagem de competência feminina para as coisas da casa. Cada vez mais as mulheres foram colocadas de lado e desvalorizadas no mercado de trabalho.

O surgimento da sociedade industrial moderna, através da Revolução Industrial e da I e II Guerra Mundial recoloca a mulher no mercado de trabalho. Surge a necessidade de uma maior mão-de-obra, reflexo da revolução industrial e também pelo fato de os homens estarem lutando na guerra. Como consequência, as mulheres começam a compor as frentes de trabalho nas fábricas e nas mais diversas áreas. Com o término da guerra os homens voltam e a maioria das mulheres retorna para seus afazeres domésticos, mas algumas continuam a desempenhar suas funções como operárias nas fábricas e no campo.

A mulher trabalhadora está novamente inserida no mercado de trabalho, com isso começa a se deparar com os preconceitos da sociedade. Enfrenta também a desigualdade salarial e não tem acesso aos direitos trabalhistas, nem a educação e ao voto entre vários outros diretos civis.

Hoje as mulheres representam uma grande parcela de profissionais que atuam no mercado de trabalho e se destacando nas mais diversas funções. Porém, algumas desigualdades e preconceitos sobre o gênero feminino ainda existem e mantém viva a luta da maioria das mulheres no mundo.

As mulheres e o trabalho no Brasil

As mulheres brasileiras tiveram anos de luta e mobilizações para poder conquistar os direitos civis, trabalhistas e constitucionais que hoje as possibilitam lutar em um campo de quase igualdade com o gênero masculino e contras os preconceitos modernos.

Durante muitos anos no Brasil a mulher foi impedida de trabalhar, e quando conseguia, era somente com autorização do marido, pois o casamento era encarado como um contrato feito entre duas pessoas livres e com obrigações mútuas. Sendo assim, o marido tinha a obrigação de sustentar e proteger a esposa, esta por sua vez tinha de obedecê-lo. Tudo isso fortalecia o imaginário de que a mulher não deveria trabalhar e assim ficar em casa com os filhos à espera do marido.

Nos anos de 1920 as mulheres ganham força e um forte aliado: o direito de cursar o ensino de nível superior. A formação das mulheres contribuiu para começarem a ocupar as mais diversas áreas de trabalho e poder reivindicar seus direitos. É com essa inserção no mercado de trabalho que a classe feminina começa a conquistar seu espaço no Brasil. É importante lembrar que as lutas e conquistas das mulheres não ocorreram somente nas cidades, muitas mulheres do campo conseguiram seus direitos e reconhecimento de seu trabalho árduo e pesado, dando mais uma vitória para a classe feminina brasileiras.

Muito já se conseguiu no Brasil no que se refere à questão do trabalho da mulher, mas há muito a ser feito, pois hoje apesar de as mulheres representarem boa parte dos trabalhadores do país, ainda há desigualdade salarial, o não reconhecimento da dupla jornada feminina, ou seja, trabalho e família, ao mesmo tempo em que se é uma profissional se é mãe e se administra a casa. Temas como estes e vários outros mantêm viva a luta das mulheres.

As conquistas das mulheres.

A trajetória das mulheres é uma história muito recente e que se ressente de um passado conturbado. Cultivar a memória das conquistas das mulheres é, sobretudo fazer justiça. Afinal, não podemos esquecer das lutas e dos esforços individuais e coletivos de milhares de mulheres.

No Brasil e no Mundo a história das mulheres se confunde com a de suas lutas e conquistas. Várias das atividades que as mulheres exercem hoje foram conquistadas com mobilização e pioneirismo. O direto ao voto, melhoria nas condições de trabalho e remuneração, acesso ao estudo, e vários dos direitos civis que hoje de certa forma inserem a mulher no mundo contemporâneo são os resultados dos longos anos de mobilização feminina. Mulheres que hoje atuam intensamente na sociedade onde vivem, e que ainda lutam, pois ainda sofrem com o preconceito e desigualdade, o que ainda mantêm vivas as suas reivindicações.