Mudanças Climáticas, Progresso, Desenvolvimento e Cultura: uma solução-perspectiva para a crise climática global.

Iago Hairon [1] 

RESUMO 

O inicio do século XXI vem sendo marcado pelos enormes impactos das mudanças climáticas, milhares de milhões de pessoas morreram e mais milhares continuam morrendo a cada dia sob seus efeitos ao tempo em que governos de todo mundo tentamchegar a um novo acordo global sobre clima e se adaptar a uma nova agenda de desenvolvimento. Estabelecendo as conexões entre as mudanças climáticas, os conceitos de Progresso, Desenvolvimento e Cultura; este artigo tem o objetivo de construir uma ponte na relação de que todos os cataclismos climáticos atuais e toda a ameaça às futuras gerações por seus impactos são consequências diretas da dominação homem x natureza.  Da ideia de progresso e de desenvolvimento unilateral passada pelo colonialismo, sendo intensificados ao longo da história após a revolução industrial. A crise climática atual constitui-se primordialmente em uma crise cultural gerada ao longo dos séculos da modernidade. Desta forma, a solução-perspectiva na adaptação e mitigação as mudanças climáticas e o alcance de um acordo entre países não poderia estar em outro âmbito a não ser o cultural. 

PALAVRAS-CHAVE 

Mudanças Climáticas, Cultura, Progresso, Desenvolvimento. 

- A NOVA PERSPECTIVA 

Todos em roda, em uma mão a mulher segurava um chocalho, na outra levando à sua boca estava uma concha, onde ela entoava um som tão calmo quanto um pôr do sol em uma ilha longe de toda barulheira de uma grande cidade atual. A sua frente existia diversos símbolos que com toda certeza em uma perspectiva do estruturalismo Lévi Straussiano eram responsáveis pela constituição do social, através de relações que, por sua vez, formam conjuntos de sistemas de comunicação que eram passadas para as pessoas. Entre esses símbolos, estavam pedaços de madeira, incensos, mantas coloridas e folhas, diversos tipos de folhas nas quais se destacava a folha de coca. A mulher que eu não sabia o nome, mas a qual ouvi chamarem de Maria, pediu paraos presentes pegassem uma folha ou uma quantidade de folhas de coca e mascassem, claro, com alguns rituais que deveriam ser seguidos milimetricamente: sempre mascar do lado direito da boca; e nunca engolir os restos de folha. Maria definitivamente era uma indígena e sentia-se orgulhosa da sua cultura ao falar sobre. Porém mesmo se ela não falasse as suas características eram inconfundíveis. Aquele era um momento espiritual e segundo ela todos deveriam estar de coração puro para entender a lógica nova que seria apresentada. Ao mascar a coca alguém no circulo comenta – que azedo! Maria prontamente respondeu - não é azedo, é que cada vez mais nosso paladar está perdendo o contato com os gostos da mãe terra, da Pacha Mama. Seguindo de um - Nosotrostenemos que reconectarnosconnuestraPacha Mama.

Estava no Peru, mais especificamente em Lima, capital desse país que segundo o Relatório da ONU-CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe- intitulado de: Povos Indígenas da América Latina: Progressos da Ultima década e Desafios para Garantir seus Direitos, vivem sete milhões de indígenas.A Pacha Mama é a divindade máxima dos Andes peruanos e respeitadíssima entre aquele povo. A imagem do ritual naquele momento era bem eminente, o espectro de curiosidade excitação que me rondava não deixava com que, por hipótese alguma, prestasse atenção em outra coisa que não fosse os cânticos e as mensagens vindas de um arcabouço cultural de magnitude incontestável, expressada por Maria.

Seria mais provável vivenciar essa experiência se estivesse em uma das enormes comunidades indígenas da Capital Peruana, mas estava no Pentagonito, nome que remete ao pentágono dos Estados Unidos, e que é o quartel general do exercito do Peru.  Lá acontecia a vigésima Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas –UNFCCC- também conhecida por Conferência das Partes ou simplesmente COP.

Em meio a discussões politico diplomáticas ferrenhas entre negociadores de todos os países do mundo para se chegar a um novo acordo climático global, a defessa de lobby points por grandes corporações e indústrias visando a manutenção da economia mundial, e em meio a grande desastres naturais ao redor do planeta. Aquela mulher, indígena, carregada de uma nova perspectiva ainda desconhecida por mim falava coisas que naquele momento faziam mais sentido que as dezenas de debates, sideevents, apresentação de cientistas e as negociações da conferência. - Nós precisamos nos reconectar com a Pacha mama, precisamos aprender com os nossos antepassados e respeitar a natureza, somos filhos da terra, somos filhos da mãe terra, e como filhos, não podemos matar a nossa mãe, disse Maria.

A conexão entre aquele momento de meditação e o objetivo principal que a conferência das partes sepredispõe me fizeram pensar e escrever. Proponho, pois, a ligação entre às noções de progresso e desenvolvimento oriundas de uma visão eurocêntrica e evolucionista passada a partir do colonialialismo, com as mudanças climáticas e a utilizaçãoda perspectiva entre natureza x cultura que outras culturas, a exemplo dos indígenas, trazem nesse sentido.

[...]