Maria da Glória Gohn, por diversas vezes, aponta a existência de movimentos sociais, as formas de organização e seus principais objetivos. Destaca que estes movimentos possuem identidades próprias quando se posicionam diante um fato que os oprimem. Apresentam propostas definidas e possuem continuidade e permanência. Suas práticas estariam voltadas para sanar dificuldades encontradas nas organizações sociais.

Entretanto, seus efeitos, necessariamente, não significa transformações coletivas. Este fato, em nosso entender estaria centrado nas ações imediatistas e isoladas desses movimentos. Estariam tão preocupados em sanar questões de ordem grupal, deslocadas da dimensão mais ampla, que não conseguem atingir as metas que defendem. O isolamento característico desses movimentos distancia de ações mais duradouras e/ou que busque transformações para o conjunto da sociedade. Não estou afirmando que as ações não são benéficas, pelo contrário, numa sociedade como a brasileira, mesmo ações centradas no imediatismo tende a favorecer mudanças na ordem social. Assim, movimento de gays, negros, sem terra, sem teto, de mulheres, de mulheres rurais etc. tenderiam a propiciar condições para reflexão por parte da sociedade de como tais minorias sociais estariam sofrendo as conseqüências de modelos de exclusão social. Entretanto, por vezes, tais movimentos, mantêm as mesmas relações de opressão que defendem para si, como por exemplo, certos movimentos, representado por alguns setores da sociedade, tende a defender políticas públicas específicas para o que consideram historicamente injustiças cometidas contra a minoria social a qual faz parte sem considerar o conjunto da sociedade. O deslocamento de foco tende a direcionar para o favorecimento de grupos que, dependendo da correlação de forças, pode atingir ou não tais objetivos.


A característica principal de tais movimentos seria a aquisição das necessidades básicas que os atinge. Este fato seria normal e até louvável se, na lógica de organização capitalista, quando alguns ganham, outros necessariamente, perdem. Ou seja, adquirir direitos, numa sociedade desigual, significaria que outros poderiam perdê-los. Se em alguns casos, tais situações não afetariam o conjunto da sociedade, a exemplo do casamento gay, a permissão do abordo, leis igualitárias para as mulheres etc, tendo em vista que possuem caráter amplo. Em outros casos, entretanto, mudanças tenderiam a afetar o conjunto da sociedade. Valores religiosos, centrados no direito de seguir a orientação religiosa que achar conveniente, pode até parecer uma atitude democrática, mas necessariamente, tende a excluir grupos minoritários, de religiões não tão populares ou que não possuam acesso mais amplo aos meios de superação dessas relações. Fato semelhante seria credito fundiário específico voltado para as mulheres rurais, credito para quem participa de movimentos sociais, benefícios para funcionários públicos, leis que preservam condições especiais para quem possui cursos superiores, ações afirmativas voltadas para a população negra etc. Tais medidas, quando não focaliza os motivos que impulsionaram tais situações, manter a situação de exploração junto aqueles que não possuem condições, por diversos motivos, de adentrar em conflitos com os interesses dominantes.


Entretanto, mesmo não discutindo os fundamentos da exploração, esses mesmos grupos, que se sentem discriminados, tendem, sob a lógica da defesa dos interesses democráticos ou sob a visão de que historicamente seriam prejudicados, excluírem grande parte que não possuem influência significativa para fazer valer seus direitos. Assim, passamos a defender cada um a sua parte. Vale a premissa dos interesses individuais sobre os coletivos, mesmos que aqueles apareçam como se fossem de orientação coletiva. Perde-se a oportunidade de organização para além do imediatismo.

Sob a defesa dos direitos políticos, perdemos a possibilidade de emancipação humana. Ao Estado caberia propiciar direitos políticos. Mais uma vez, atribuímos a um ser superior as resoluções das nossas necessidades. O sistema capitalista, incentiva essas divergências, a busca por direitos políticos que, em última instância, significa a sobreposição de uns sobre os outros. Sob forma de direito político, esquecemos o conjunto da sociedade. Entretanto, não estou afirmando que os direitos políticos não são essenciais, mas apenas que estes não asseguram condições de igualdade plena. Assim, a Igualdade passa a ser uma palavra vazia, sem conteúdo, pois representa, apenas, interesses individuais sob os coletivos.