Edson Silva

Confesso, quando fazia minhas aulas de Inglês no antigo colegial ou na Faculdade de Jornalismo não suportava a idéia de aprender idioma de uma nação imperialista e que só pensava expor ao mundo seu poderio econômico, imposto por seus aparatos bélicos e, se precisar,até de bombas atômicas. Era questão ideológica, vivíamos sob o regime militar, éramos jovens, cabeludos e queríamos flores vencendo o canhão, sem esquecer da companheira e da cuba-libre. Não podíamos ser traidores e aprendermos idioma de nossos inimigos ideológicos. Resultado: não aprendi nada ou quase de Inglês e olha que tinha professor que dizia que se a gente não aprendesse o idioma, a avó dele era uma bicicleta. Até imagino a senhorinha deslizando por ai em duas rodas próprias.

Acho que idiomas nunca foram mesmo meu forte, não aprendi o Inglês, nem Espanhol, do Francês e do Italiano lembro-me só de algumas palavras de músicas da infância ou de algum sucesso popular, não quis me aventurar em aprender Japonês, Mandarim, "arranho" algumas palavras de nossa extinta língua mãe, Tupi-Guarani, enfim estou longe de ser poliglota e certamente faria remexer no túmulo o famoso Rui Barbosa, nosso Águia de Haia, o pequeno homem tão grande para a pequena imensa porta do imponente prédio da cidade holandesa. Bom, mas não me orgulho de, por qualquer que fosse o motivo, não ter me dedicado mais em aprender outros idiomas e falo com convicção: isto é muito importante, principalmente para nossos jovens.

Alguém dirá que nossas crianças e adolescentes (pelo menos a maioria) não estão aprendendo sequer Português, que motivação elas terão para aprender outra língua? Vivemos em um mundo globalizado, saber Inglês, Espanhol ou Italiano pode ser muito importante na hora de arrumar um emprego. E o que dizer então do Mandarim, com os chineses, mais do que nunca reconhecidos como tigres asiáticos, caminhando a passos largos no mercado mundial? Outros dirão que a maioria dos estudantes brasileiros é pobre e de nada lhe servirá um segundo idioma.

Espera aí! Quem achava, até algum tempo, que garotos pobres, nascidos em bairros sem a menor infraestrtura, se tornariam jogadores famosos, cobiçados por times europeus? E a molecada, que não é boba, já começa o papo de boleiro dizendo sonhar jogar no Real ou Barcelona da Espanha; no Milan ou Juventus da Itália; no Manchester da Inglaterra ou no Bayer da Alemanha, de onde deduzimos é bom ou não saber outros idiomas?

E para descontrair, cito a fábula do gato que é visto de longe por outro felino em companhia de um cão feroz. Indignado, o felino fala ao amigo que ele era "traíra", pois estava perto do cachorrão violento. É quanto o gato dá um latido e assusta o amigo. Mas logo explica miando: "Velho, se eu não falasse um segundo idioma esta hora eu teria perdido uma das sete vidas..."

Edson Silva é jornalista em Sumaré, Região Metropolitana de Campinas

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