Motivação No Trabalho
Publicado em 11 de setembro de 2008 por Leonardo José Andriolo
Foi noticiado, recentemente, que Luke Pittard, um morador da cidade de Cardiff, capital do País de Gales, na Grã-Bretanha, acertou os números da loteria e ganhou 1,3 milhões de libras (R$ 4,5 milhões). Após receber o prêmio, Luke deixou seu emprego numa lanchonete do McDonalds e partiu para uma viagem de lua de mel nas Ilhas Canárias. Em seguida comprou uma casa. Depois disso, começou a ficar cansado de não fazer nada. Ao mesmo tempo, aumentava a saudade dos antigos colegas.
Tomou, então, uma inusitada decisão: voltou ao seu emprego na lanchonete. Assim, a cidade de Cardiff provavelmente é a única no mundo em que você tem chance de ser atendido por um milionário num McDonalds.
Como estamos acostumados a associar o trabalho ao salário recebido, a primeira sensação que essa notícia transmite é de que esse rapaz é doido. É difícil acreditar que alguém deixe de lado uma confortável e ociosa vida de milionário para ficar atrás de um balcão, vendendo hambúrgueres. Mas, se refletirmos um pouco, perceberemos que Luke apenas corroborou o que os principais teóricos da motivação no trabalho já diziam há mais tempo.
Abraham H. Maslow, por exemplo, afirma que o homem é motivado por necessidades que estão organizadas em uma hierarquia de valor. Na base desta pirâmide estão as necessidades fisiológicas e as de segurança, que são satisfeitas principalmente através do salário recebido das organizações. Em um nível superior, estão as necessidades sociais, de estima e de auto-realização, que não estão diretamente associadas à remuneração. Se a teoria de Maslow estiver correta, no momento em que as necessidades fisiológicas e de segurança estiverem satisfeitas, o salário perde muito do seu efeito motivador.
Para Frederick Herzberg, os fatores que influem na produção de satisfação profissional são desligados e distintos dos fatores que levam à insatisfação profissional. Os fatores causadores de insatisfação são fatores ambientais, isto é, externos à tarefa, como o tipo de supervisão recebida no serviço, a condição do ambiente físico e o salário percebido. Eles criam as condições básicas e necessárias para que o indivíduo possa trabalhar, mas não são suficientes para a motivação. Já os fatores motivadores são relacionados à própria tarefa, como o reconhecimento pelo trabalho realizado, a natureza da tarefa e a realização pessoal. Então, de acordo com Herzberg, o salário tem pequeno efeito motivador: ele gera insatisfação quando não está adequado, mas não causará motivação quando for superior à expectativa.
A propósito do tema, é interessante citar a pesquisa realizada em companhias do mundo todo pela Sirota Consulting, de Nova York, sobre satisfação de funcionários . De acordo com a pesquisa, são os seguintes os fatores que despertam o entusiasmo nas organizações:
1 – Eqüidade (remuneração justa, benefícios, tratamento com respeito)
2 – Realização (desafios, orgulho do trabalho e da organização, desenvolvimento)
3 – Coleguismo (sensação de que as pessoas trabalham bem em grupo)
Tratar os funcionários com respeito, desafiá-los com novas responsabilidades, elogiá-los quando merecerem, oferecer-lhes oportunidades de desenvolvimento pessoal talvez seja a melhor forma de contar com empregados satisfeitos e comprometidos. Se a maioria das empresas percebesse isso, teríamos funcionários mais felizes e organizações mais produtivas.
Mas voltemos ao nosso milionário do McDonalds. Certamente as teorias de Maslow e Herzberg e a pesquisa da Sirota Consulting ajudam a entender porque Luke Pittard voltou a trabalhar no McDonalds. Obviamente não foi pelo salário, já que para ele, agora rico, isso não faria muita diferença. Provavelmente Luke retornou ao emprego porque o ambiente de trabalho, o relacionamento entre os colegas e o reconhecimento pelo seu trabalho fazem com que se sinta estimado, respeitado e realizado.
Em outras palavras, Luke é feliz no McDonalds, ainda que esse fato possa nos causar estranheza.