Motivação nas aulas de Educação Física

 

                                                                                              Franciele Contin Etcheverria

 

 

 

RESUMO

A Disciplina de Educação Física é fundamental na vida escolar dos alunos, pois proporciona uma melhor qualidade de vida. O profissional da educação física tem a missão de fazer com que os alunos compreendam a importância da disciplina para não ocorrer a desmotivação por parte dos estudantes. Este estudo tem o interesse de trazer subsídios teóricos a respeito da motivação dos alunos na área de estudos da Educação Física. Foram analisados os fatores que influenciam na motivação, na falta de motivação e a influência da metodologia para a motivação nas aulas de Educação Física.

 

Palavras-chaves: Motivação, Educação Física, Adolescente, Escola

 

 

 

INTRODUÇÃO

         

            A evasão escolar e a falta de motivação de frequentar a escola são problemas combatidos diariamente por famílias, escolas e governo. Mas, não pode-se deixar de mencionar os problemas sócio econômicos e também da evolução tecnológica. Sendo esses avanços extremamente atrativos aos jovens e fazendo com que os métodos tradicionais das escolas pareçam ultrapassados e entediantes. Trazendo consigo a indagação de que será que se faz necessária uma evolução educacional? Segundo BETTI (1992), o professor de Educação Física é importante para os alunos, uma vez que é ele geralmente responsável pela organização das aulas e escolha dos conteúdos, embora muitas vezes repetitivos e falhos.

O tema que norteia esse estudo tem implicações na comunidade escolar em geral e por ser um tema presente nas escolas atualmente é que se faz tão importante conhecer os reais motivos da falta de motivação dos alunos na escola e dentro da área de Educação Física. Um fator determinante para qualquer aprendizagem são as razões que levam o indivíduo a executar aquilo para o que ele se sente motivado (CRATTY, 1984).

Esse estudo tem o interesse de trazer subsídios teóricos através de revisões bibliográficas, sintetizando assim as questões acerca da motivação escolar e dos alunos na área de estudos da Educação Física. Agregando contribuições para professores, pedagogos, psicólogos e público em geral atuante na gestão escolar.

METODOLOGIA

            O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica.

DESENVOLVIMENTO

A motivação dos professores de Educação Física foi estudada por Moreira (1997), que verificou desmotivação dos professores em ministrar novos conteúdos aos alunos, é trabalhado principalmente com os desportos através de jogos, sem ensinar aos adolescentes as técnicas dos movimentos. Em outro estudo feito por Chicati (2000) verificou que as aulas de Educação Física não estão sendo tão motivadoras no ensino médio, pois os alunos vêm tendo sempre os mesmos conteúdos desde o ensino fundamental, sendo o desporto o mais ministrado. Segundo estes autores verifica-se a manutenção do desporto como principal conteúdos da Educação Física, este ministrado de forma mecânica, repetitiva e técnica, muitas vezes voltado para o rendimento o que contribui para a frustação e exclusão da maioria dos alunos que não atendem ao perfil exigido dos esportes.

Estudo realizado na Inglaterra por Michel Barber (1997), assinala que em torno de 40% dos alunos do ensino médio têm uma falta de motivação geral. Quase 60% “contam os minutos” que faltam para as aulas terminarem, 20% consideram que o trabalho que se realiza é entediante, 40%  acham que as aulas são muito longas e quase um terço deles afirmam que prefeririam não ir à escola. A motivação não se demonstra em todas as pessoas com a mesma intensidade, pois temos interesses diferenciados, entretando no estudo feito com estudantes ingleses o percentual de alunos insatisfeito e desmotivados as aulas foi bastante relevante.

 Para Alonso-Tapia (1996), o aluno está motivado ou desmotivado em função do significado que tem para ele o trabalho escolar. Portanto pode-se afirmar que uma escola tem condições de favorecer a motivação ou a desmotivação de seus alunos, que uns professores podem ser mais motivadores que outros na mesma matéria e que o mesmo aluno pode estar mais motivado em uma escola do que em outra.  Para Witter e Lomônaco (1984) a falta de desmotivação do professor influência o aluno, portanto o educador tem que estar sempre motivado para conseguir o sucesso de suas aulas e a motivação dos educandos. O professor de Educação Física tem que ser criativo, utilizar métodos diversificados para suas aulas para não haver desmotivação por parte dos alunos, levando em consideração as perspectivas, conhecimentos prévio e necessidades dos alunos. Segundo Maggil (1984) a motivação está associada à palavra motivo, se os educandos não tiverem um motivo para fazer as aulas então não estarão motivados o suficiente.

Weinberg e Gould (2001, p. 78)afirmam que ”como instrutor, professor de educação física ou técnico, desempenha-se o papel fundamental de influenciar a motivação do participante”. A conduta do professor durante a aula, influência diretamente o aluno, indo além da sua metodologia, mas sim da sua relação com o aluno. Algumas atitudes podem facilitar e sensibilizar o aluno para a aprendizagem, tornando a aula uma vivência significativa e positiva. Uma dessas atitudes pode ser o feedback que no pensamento de  Franco (2000, p.69) um feedback tende a ser afetivo se aliadas a isso houver sensibilidade e intenção clara de auxiliar o outro a progredir, de contribuir para sua evolução.

A responsabilidade das escolas e dos professores na motivação dos alunos não pode fazer com que se esqueça de que essa mesma motivação para a aprendizagem também é moldada em contextos não-escolares, como a família, a classe social e a cultura (COLL, MARCHESI E PALACIOS, 2004). Confirmando assim a importância do aspecto afetivo, explorado principalmente na disciplina de Educação Física, pois essa relação professor aluno permite o conhecimento da realidade do aluno. Muitas vezes o professor utiliza de estratégias que funcionam com grande parte da turma, porem alguns alunos não são alcançados. O conhecimento desses fatores externos, faz com que o professor compreenda o aluno melhor e até deixe de se “culpar” pelo desinteresse do mesmo. Ou que possa utilizar dessa informação para tentar diferentes estratégias, afim de que atinja todos os alunos, mesmo que não todos durante todo o tempo.

Referente às aulas de Educação Física, Neto et al (2010) explica que, ao contrário de outras disciplinas onde o aluno desinteressado pode passar facilmente despercebido, nas aulas de Educação Física são facilmente localizados. Os autores dão o exemplo de uma aula de matemática, onde o aluno recebe algumas questões para resolver e, mostrando desinteresse e/ou desmotivação, responde de qualquer maneira. Na aula de Educação Física, porém, quando o professor aplica uma atividade a qual o aluno não se interesse, fica implícito na prática.Assim evidencia-se novamente a questão afetiva na Educação Física pois um professor atuante, irá questionar esse aluno do porque não está realizando a atividade. Nessa questão além da relação professor e aluno, abrange ainda a observação do professor quanto às atitudes do aluno, verificando a frequência da desmotivação do aluno.

Podemos citar ainda que o sistema educacional de certa forma é falho, na questão motivacional, pois em uma sociedade competitiva, os resultados são os mais valorizados. Sendo algumas disciplinas menos relevantes para reprovação. Fazendo assim com que o aluno se preocupe com as notas das mais relevantes. Afinal porque fazer algo se o resultado não será avaliado ou relevado. Nesse contexto, muitos professores e alunos se preocupam apenas com os resultados e não com desenvolvimento, ou seja, todo o caminho percorrido para a obtenção dos mesmos. Porem essa realidade vem mudando aos poucos, pois a metodologia construtivista vem se destacando nos projetos pedagógicos das escolas. Procurando valorizar a construção do conhecimento do aluno, além de um ser critico e reflexivo. Assim Falcão (1989) diz que para se alcançara motivação interna do aluno, a escola deve procurar o desenvolvimento da atividade mental, no próprio aluno e não preocupar-se apenas em obter notas. Mudando o foco dos alunos para a aprendizagem e não para as notas, a motivação dos mesmos será para aprender, sendo as notas ou conceitos, consequência desse processo. De tal modo podemos dizer que a escola, vai além do conhecimento teórico, ela envolve a formação do individuo, abrangendo assim as questões atitudinais e sociais do mesmo.

  Segundo Cória-Sabini (2000, p. 83)“A motivação é a força propulsora da conduta. É a condição interna que ativa o indivíduo e o predispõe a emitir certas respostas”. Na aula de Educação Física grande parte ou, às vezes, toda essa força propulsora passa pelo professor. Muitas vezes um professor novo na escola se depara com alunos mal acostumados por aulas que na verdade eram mais horários livres do que qualquer outra coisa, pois não haviam uma intervenção correta do professor. Porém, esse novo professor, aplicando um conteúdo diferenciado pode mudar este panorama. Não estamos falando de modalidades pouco praticadas no geral, pode e devem ser considerados os esportes como o futsal, o vôlei, o basquete e o handebol. Mas o planejamento dessa aula voltado a maneiras alternativas e até incomuns de passar o conhecimento prático e assim fazer toda a diferença para o aluno. Até uma mudança de metodologia pode ser suficiente para trazer de volta a motivação e o interesse dos alunos.Segundo Samulski (2002) “a motivação pode ser definida como a totalidade daqueles fatores que determinam a atualização de formas de comportamento dirigido a um determinado objetivo”. Assim refletimos novamente para a atitude do professor quanto o planejamento de aulas significativas para os alunos, da apresentação dos objetivos dessa aula. Não aplicar uma aula onde a atividade será o fazer por fazer, ou o conhecido largobol.

A motivação vai além da simples participação e interesse dos alunos na aula, ela se envolve diretamente com a aprendizagem. Piletti (2001, p. 63) afirma que “A motivação é fator fundamental da aprendizagem”.  A partir disso podemos evidenciar a importância da motivação para a aprendizagem do aluno e que se relaciona assim com o seu comportamento e interesse.

Segundo Cória-Sabini (2000, p. 83)“As ações de um indivíduo são tentativas de satisfazer suas necessidades ou são reações a frustações resultantes da não satisfação dessas necessidades”. Diversas são as necessidades de um individuo, e a aprendizagem é considerada uma delas, pois, influência diretamente na maturação e desenvolvimento do aluno. Negrine (2002) usa a perspectiva de Vygotski para defender sua ideia de que o ser humano se desenvolve (amadurece biologicamente) porque aprende. E a Educação Física por trabalhar com o indivíduo nos aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores, tem na sua função formadora um grande valor para o desenvolvimento do aluno. Não podendo ser responsáveis por uma aula desmotivante, sem objetivo, pois seu prejuízo para o aluno é evidente. Diversas são as estratégias que podem ser utilizadas nas aulas para trazer conteúdos como os desportos ou até mesmo novos conteúdos como dança, jogos, ginástica e outros. A adolescência que é um momento marcante da formação do individuo não deve ter essa ausência de aprendizagem.

Maluf (2006, p. 93) afirma que “A mente do adolescente é povoada de ideias novas e mal organizadas sobre os fatos da vida.[...]Possui um desejo imenso de aprofundar-se inteiramente em certas realidades que lhe são ocultadas”. A cerca das palavras da autora podemos trazer como estratégia a curiosidade dos alunos como necessidade, e usá-la como fator motivacional. O professor não precisa ser o único idealizador da aula. Os  próprios adolescentes podem dizer o que querem aprender e partir disso o professor fazer a mediação dos conteúdos com a realidade.  Explorando assim a significação do conteúdo conforme a realidade e necessidade dos alunos, que consequentemente resultará na aprendizagem e no interesse dos mesmos.

CONCLUSÃO

Podemos perceber a desmotivação dos adolescentes nas aulas de Educação Física, fica visível quando os alunos não estão satisfeitos com a aula. Para que haja a motivação por parte dos alunos, há dois fatores importantes para a contribuição: a motivação do professor e o conteúdo que será abordado.

O educador tem que planejar muito bem suas aulas, pensar em que metodologia utilizar e como motivar os seus alunos para a prática. Os professores deveriam ouvir mais seus alunos, pedir que conteúdos eles gostariam de aprender, para não ficar sempre nos conteúdos dos esportes e o “largobol”. Quanto maisdiversidade de conteúdo durante as aulas, mais motivação o aluno terá em fazer, o educador tem o papel não somente de ensinar, mas também cativar seus alunos para que os mesmos sintam-se com interesse e vontade de participar das aulas.

Se o professor conseguir fazer com que seus alunos percebam a importância da disciplina de Educação Física no âmbito escolar, com certeza não haverá a desmotivação e sim a motivação, a vontade de fazer uma aula. Claro, que não é fácil, quando os alunos não estão acostumados com uma aula de Educação Física diferente, teórica e prática que os questione e os coloque como sujeitos participantes e atuantes da sociedade. Cabe ao professor usar a criatividade e estratégias diferentes em suas aulas para chamar a atenção dos alunos,enfim, o educador tem que inventar maneiras para que os alunos percebam que a disciplina de Educação Física tem muito o que oferecer e contribuir para o seu aprendizado.

REFERÊNCIAS:

 

ALONSO-TAPIA, J. La motivación em elaula.Madri: PPC. 1996.

BARBER, M. The leanirg game. Londres: Indigo. 1997.

BETTI, I.C.R. O prazer em aulas de Educação Física Escolar: a perspectiva discente. Dissertação (Mestrado em Educação Física). UNICAMP, Campinas, 1992.

COLL,C; MARCHESI, A; PALACIOS, J & colaboradores. Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educacionais especiais. 2ª ed.v.3 Porto Alegre: Artmed, 2004.

CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida. Fundamentos de psicologia educacional. 2.ed. São Paulo: Ática, 2000. 176 p.

 

CRATTY, B. J. Psicologia no esporte. 2 ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil Ltda., 1984.

CHICATI, K.C. Motivação nas aulas de educação física no ensino médio.Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v.11, n.1, p.97-105, 2000.

FALCÃO, Gérson Marinho. Psicologia da aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Ática, 1989.

FRANCO, Gisela Sartori. Psicologia no esporte e na atividade física: uma coletânia sobre a prática com qualidade. São Paulo: Manole, 2000

MOREIRA, H. (1997). A investigação da motivação do professor, a dimensão esquecida. Revista Educação e Tecnologia. Campinas, n.1, p.88-96, 1997.

MAGGIL, R. A. Aprendizagem Motora: Conceitos e Aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.

MÜLLER, Ursula. Percepção do clima motivacional nas aulas de educação física. Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 2001. 70 p. (Conhecimento Teses e Dissertações ; 3)

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Conheça bem, eduque melhor: crianças e jovens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. 133 p.

NEGRINE, Airton da Silva. O corpo na educação infantil. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2002. 234 p. (Coleção Educação física)

PILETTI, Nelson. Psicologia educacional. 17.ed. São Paulo: Ática, 2001. 336 p. (Educação)

SAMULSKI, Dietmar Martin. Psicologia do esporte: manual para a educação física, psicologia e fisioterapia. Barueri, SP: Manole, 2002. 380 p.

WEINBERG, Robert S.; GOULD, Daniel. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 560 p

WITTER, Geraldina Porto; LOMÔNACO, José F. Bittencourt . Psicologia da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1984.