Às vêzes passam-se até anos sem que morra ninguém em Paquetá mas, de repente, num curto espaço de tempo como, por exemplo, em dois ou três dias, morrem várias pessoas a seguir e é isso o que se chama por aqui de "Mortes em Cadeia", o que já é mesmo considerado como uma espécie de crendice ou de superstição popular, a ponto de que, "quando a Morte está solta", como se costuma dizer, as pessoas mais medrosas arrumam logo as malas para passarem alguns dias, ou meses, em algum lugar longe daqui.  

E é isso o que acontecia sempre com o seu Bernardino, (Bernardino Dias da Silva),   imigrante português que chegou ao Brasil em 1940, aos 35 anos de idade, logo após a I Guerra Mundial, e trabalhou duro para manter a grande família que constituiu aqui e também para construir o seu rico patrimônio.  

Antes de conhecer Paquetá, êle trabalhou como carregador de bagagens e teve também uma casa de secos e molhados mas, logo que chegou aqui, interessado  pela construção civil, abriu uma casa de materiais de construção, que ainda existe e, hoje, é administrada pelos seus filhos e netos. 

O seu Bernardino também esteve à frente, por algum tempo, do transporte de veículos entre a Ilha do Governador e Paquetá, o que fazia numa antiga barcaça que era conhecida popularmente como "a Prancha" e que, em pouco tempo, êle passou adiante.  

Mas o que mais caracterizou o seu Bernardino foi a sua superstição e o medo que êle tinha de morrer, o que o levava com frequência a São Lourenço, onde êle possuia também uma moradia...  

Era só começar a morrer gente em Paquetá, que o seu Bernardino arrumava as suas malas e ia embora para São Lourenço ... E isso aconteceu até o dia em que não deu tempo para êle arrumar as malas ... porque êle foi o primeiro da fila e, então, morreu por aqui mesmo ! ...