ORREU SEM DEIXAR DE SI SAUDADES...

Na remota dispensação da monarquia hebraica, dois epítetos marcaram sobremaneira o reinado dos seus entronizados: “E fez o que era reto aos olhos do Senhor”, que compunham a minoria: Davi (1Sm.13:14; 1Rs.3:6; 9:4; 11:6,33,38; 14:8; 15:3,5,11; 2Rs.16:2; 18:3; 22:2; 2Cr.28:1; 29:2; 34:2); Asa (1Rs.15:11,14; 22:43; 2Cr.14:2); Jeosafá (1Rs.22:43); Jeú (2Rs.10:30); Joás (2Rs.12:2; 14:3; 2Cr.24:2); Amazias (2Rs.14:3; 15:3; 2Cr.25:2; 26:4); Azarias (2Rs.15:3); Jotão (2Rs.15:34; 2Cr.27:2); Ezequias (2Rs.18:3; 2Cr.29:2); Josias (2Rs.22:2; 2Cr.34:2); e Uzias (2Rs.15:34; 2Cr.26:4; 27:2); e “e fez o que era mau aos olhos do Senhor”, que compunham a maioria, evidentemente: Saul (1Sm.15:19); Salomão (1Rs.11:6); Jeroboão I (1Rs.14:9); Roboão (1Rs.14:22; 15:3; 2Cr.12:14); Abião (1Rs.15:3); Nadabe (1Rs.15:26); Baasa (1Rs.15:34; 16:7); Zinri (1Rs.16:19); Onri (1Rs.16:25); Acabe (1Rs.16:30; 22:52; 2Cr.22:4); Acazias (1Rs.22:52; 2Cr.22:4); Jeorão (2Rs.8:18; 2Cr.21:6); Acazias (2Rs.8:27); Jeoacaz (2Rs.13:2); Jeoás (2Rs.13:11); Jeroboão II (2Rs.14:24); Zacarias (2Rs.15:9); Menaém (2Rs.15:18); Pecaías (2Rs.15:24); Peca (2Rs.15:28); Acaz (2Rs.16:2; 2Cr.28:1); Oséias (2Rs.17:2); Manassés (2Rs.21:2,16,20; 2Cr.33:2,22); Amom (2Rs.21:20; 2Cr.33:22); Jeoacaz (2Rs.23:32); Jeoiaquim (2Rs.23:37; 24:9,19; 2Cr.36:5); Joaquim (2Rs.24:9; 2Cr.36:9); e Zedequias (2Rs.24:19; 2Cr.36:12).

Podemos observar, nos textos supracitados, que na dinastia de Judá / Israel havia alternância de caráteres na sucessão, quando um reto rei passava o cetro a um mau rei, e vice-versa. Assim sendo, subiu ao trono de Judá o mau Jeorão, filho do reto rei Jeosafá. E é a respeito dele que lemos: “Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. MORREU SEM DEIXAR DE SI SAUDADES; e o sepultaram na cidade de Davi, porém não no sepulcro dos reis.” (2Cr.21:20)

Morreu sem deixar de si saudades... A nenhuma outra pessoa, em todas as Escrituras Sagradas, é atribuído tão triste epitáfio...

E que currículo esse homem apresentou para que tivesse uma morte em memória deveras delével?

Eis o currículo: Além dele Jeosafá tinha outros seis filhos, aos quais “dera grandes dádivas, em prata, em ouro e em objetos preciosos, juntamente com cidades fortes em Judá; mas o reino deu a Jeorão, porque ele era o primogênito.” (id.v.3). Pois bem, foi só ele subir ao trono em lugar de seu pai, e haver-se fortificado, “matou todos os seus irmãos à espada, como também alguns dos príncipes de Israel. (…) E andou no caminho dos reis de Israel, como fazia a casa de Acabe, porque tinha a filha de Acabe por mulher; e fazia o que parecia mal aos olhos do Senhor. (…) desbaratou os edomeus, (…) Ele fez também altos nos montes de Judá, induziu os habitantes de Jerusalém à idolatria e impeliu Judá a prevaricar.” (id.vv.4-11)

E, como retribuição a toda essa maldade de Jeorão, o Senhor ordenou ao Profeta Elias escrever-lhe uma carta, que dizia acerca de males que ruiriam sobre ele, os quais se cumpriram cabalmente; com efeito, “o Senhor despertou contra Jeorão o espírito dos filisteus e dos árabes que estão da banda dos etíopes. E estes subiram a Judá e, dando sobre ela, levaram toda a fazenda que se achou na casa do rei, como também seus filhos e suas mulheres; de modo que não lhe ficou filho algum, senão Jeoacaz, o mais moço de seus filhos. E depois de tudo isso o Senhor o feriu nas suas entranhas com uma enfermidade incurável. No decorrer do tempo, ao fim de dois anos, saíram-lhe as entranhas por causa da doença, e morreu desta horrível enfermidade. E o seu povo não lhe queimou aromas como queimaram a seus pais.” (id.vv.16-19)

E sabemos, de sobejo, do repise da mesma história nos dias hodiernos, pois, quem não conhece ao menos uma pessoa (um parente, um patrão, um chefe, um político, um religioso, um colega, um vizinho) que morreu sem deixar de si saudades?

Eu mesmo conheço algumas que, não só em mim, mas em outras pessoas não deixaram patavinas de saudades. Destarte, morreram sem deixar saudades em mim as seguintes pessoas: Dois tios (irmãos de meu pai), homens mui impenitentes; um dos diretores do Orfanato onde passei minha infância, que, de tão mau, foi abandonado pela esposa e pela filha, e, ébrio, atirou-se nas sarjetas dos logradouros da cidade; três oficiais militares (sendo um deles protestante), que conspurcaram as páginas do meu histórico de Caserna; uma quiromante, filha de satanás, que causou-me males irreparáveis; e um pastor protestante, que descambou-se sobre mim visando inculcar-me heresias de perdição, cuja vida findou-se ao ensejo da troca de um botijão de gás de cozinha, tendo o mesmo explodido em sua cara...

E, para que ninguém viaje na pieguice de pensar que não há ser humano tão ruim a ponto de morrer sem deixar de si saudades, concluo o presente trabalho com este ensino do Senhor Jesus Cristo: “Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso; e não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E chegando, acha-a varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro.” (Lc.11:24-26)

Com base neste ensino, não nos é difícil entender porque existe pessoa que morre sem deixar de si saudades. É que ela traz em seu corpo a indelével marca da impenitência, e por isso torna-se, inevitavelmente, habitáculo do diabo. E, uma vez ocupada como residência do diabo, a pessoa se torna tão imunda, tão infame, que até o próprio demônio, que é um espírito imundo, sente inocultável nojo dela, visto que desocupa o seu corpo simplesmente para descansar, e volta com outros sete espíritos piores do que ele para ali habitarem. Ou seja, é muita imundície para um demônio só, o corpo de alguém que obra a malignidade.

É o extremo da nojeira! O espírito imundo sente tanto nojo de um corpo imundo, que o desocupa para buscar repouso longe da sua imundície!

Lázaro Justo Jacinto