Moderno x Perverso

Somos filhos de uma geração onde se brincava de rodas, de carrinhos feitos de latas, pulávamos cordas, imaginem vocês que usamos as latas de óleos vazios para jogarmos, brincávamos de bonecas, jogávamos damas, firo, montávamos quebra cabeças estudávamos sem explicadores e éramos felizes, esqueci dos parques de diversões com seus carrossel, canoas e rodas gigantes.

O magnifico de tudo isso é que ouvíamos nossas próprias vozes, sabíamos até onde podíamos ir e interferir em uma conversa, o respeito era e é primordial, ajudávamos nossos amigos seja qual fosse o problema, isso nos tronava útil.

Quando encontrávamos alguém e que nosso coração acelerava, nossa! Era fantástico, estávamos apaixonados, as mãos transpiravam o coração disparava e a musica embalava toda desordem causada pelo novo sentimento, Chorávamos só em ver o ser amado, tudo era perfeito.

Havia em nossos lares uma única TV, primeira em preto e branca, depois surgiu a colorida, sentávamos todos diante da TV para assistir sessão da tarde: Zorro, Perdido no Espaço, Batman, Rin Tin Tin, A Feiticeira, estávamos todos ali embaixo dos olhos dos nossos pais, avos. Sem duvidas queríamos mais, porem sabíamos as implicações de nossos atos, definitivamente conhecíamos a palavra “ Limites e não”.

Musica, escutávamos sim alto e todos sabiam exatamente que musica estavam embalando nossos corações, nossos sonhos tudo era tão simples, e também conhecíamos certas singularidades pelo fato de observamos a musica do outro, era simples assim.

Sonhamos e fomos atrás de nossos Sonhos, os tornamos em realidade, e é claro que casamos tudo faz parte de um ciclo evolutivo consanguíneo ou não, neste percurso, é logico que ouve falhas, mas me atrevo a dizer que dentro destas falhas, nos tornamos filhos da liberdade pertinente a nossa visão e percepção de mundo e nos tornamos gigantes.

Ousamos com o futuro que ora batia a nossa porta, éis que surge o que todos nos conhecemos como era tecnológica, compramos nosso primeiro celular (o famoso tijolo), as televisões foram crescendo em suas telas, nosso computador, nosso laptop e o futuro que circundam nossos dias também nos tornam prisioneiros de se e por se só. O perfil da família mudou muito nestes últimos anos. Com a atualização quase imediata das mais variadas tecnologias e o excesso de informação proveniente destas fontes a interação entre os integrantes da família ficou cada vez mais difícil, não entendo bem o porquê construímos a celebre frase “ Darei ao meu Filho tudo aquilo que eu não tive” a partir deste contexto, tudo foi desgringolando, as famílias foram notadamente mudando e perdendo o conhecimento de seus participes, nos dias atuais, é raro ver uma família reunida onde todos conversam, hoje não escutamos suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias, as crianças estão ali, dentro de seus mundos, e por isso pensamos estarem em segurança, ficam com seus fones de ouvidos, trancados em seus mundos, construindo seus saberes sem que saibamos o que é...

Em meio a este cenário tecnológico que provoca transformações sociais, destacando o fato de que a internet encontra-se presente nos domicílios e cotidianos, majoritariamente, classes socioeconômicas e para as teorias que afirmam que essas utilizações trazem consequências sociais seguindo uma tendência para um desenvolvimento de sujeitos com dificuldades de constituir vínculos duradouros, baseados no compromisso, intimidade e engajamento afetivo e, por conseguinte ao anterior, cada vez mais os sujeitos tendem a ser formados por agentes e agências externas à família e, portanto, destituídos de consciência crítica (surge à necessidade de investigar o relacionamento cotidiano das famílias cujos lares possuem conexão à rede).

A partir da constatação de que as redes sociais estão presentes em todas as faixas etárias, é interessante discutir sobre este fenômeno no qual as pessoas, desde a infância, aprendem e se costumam a se relacionar virtualmente. Num primeiro momento, este dado nos remete para a necessidade do ser humano de comunicação e interação que, por meio da internet, estas são ampliadas exponencialmente. 

Perdem literalmente a vida, ainda vivos em corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados num mundo global de tanta informação e estímulos, de modismos efêmeros, que em nada contribuem para formação de crianças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente corretas e de acordo com os valores familiares.

Perdemos nossos filhos dentro de seus quartos, eles não sabem quem são ou o que pensam suas famílias, fechados em seus quartos também matam a identidade familiar, se tornam uma mistura de tudo aquilo pelo qual eles tem sido influenciados e seus pais já não sabem o que seus filhos são.

O que é degradante nessa conspiração comportamental é que os pais tem tudo nas mãos para mudarem o senário e nada fazem, torna-se mais fácil arrumar um culpado, retirando de nossos ombros o fiel papel de Pais, se os colocou no mundo, zele pela sua prole, você é o único responsável.

Hoje nossas visitas, antes de sentarem em nossas casas, primeiro perguntam: qual a senha do wifi, uma vez com ela, acabou o papo, a modernidade seduz e ainda falamos em revolução ou seria evolução de que mesmo?

Para além do otimismo ou do pessimismo, considera-se que o mais perigoso é a renuncia da existência de transformações sociais advindas dos novos aparatos tecnológicos que formam e informam. Sendo assim, este estudo buscou-se evidenciar as transformações

ocorridas pelas utilizações da internet no domicílio, posto que estas práticas, principalmente, de comunicação e entretenimento, influenciem nos modos de pensar e agir e, por conseguinte, nas relações interpessoais. 

Quanta imaturidade a nossa!!! 

Suely Calabri

Psicanalista