MODELO INVOLUTIVO-EVOLUTIVO            

O artigo anterior: “Evolução: Paradigma Perfectível” destacara, consoante modernas proposições espiritistas que, em síntese: 

  [(Dor) = (Evolução)] 

Mas por que Deus determinara, para seus filhos espirituais, um método tão incompassivo, tão injusto e cruel de se progredir? Afinal, tais filhos, segundo o Espiritismo de Allan Kardec, são criados como Simplicidade Psi, ou seja: como Espíritos Simples e Ignorantes (ESI), e, portanto, como tabula rasa, sem qualquer saber, sem culpas e sem um histórico de erros pretéritos que viessem justificar as tantas adversidades espalhadas pelo seu caminho, sua imensurável subida evolucional. 

E, naquele mesmo artigo de minha citação vimos, num resumo imprescindível, que para Kardec e seus seguidores: 

Espiritismo (Modelo Evolutivo): 

-Gênese: Criação dos Espíritos Simples e Ignorantes (ESIs). 

-Objeto de Estudo: Análises dos ESIs encarnados ou reencarnados nos mais distintos organismos que compõem as Espécies planetárias, promovendo sua Evolução; além de estudos dos Espíritos desenfaixados das vestes físicas e corporais. 

-Finalismo: Conversão dos ESIs em Espíritos Puros e Conscientes ou EPCs. 

-Resultado do Problema: Solução Parcial e Injusta em seus primórdios genéticos e evolucionais. 

Mas por que, para o Espiritismo, esta Solução Parcial e Injusta em seus primórdios genéticos e evolucionais, como já citado?

Pelo simples fato de que o mundo é feito de adversidade e das mais pungentes dores mesmo nos planos subumanos! Mas, como pode? Se os Espíritos são criados Simples e Ignorantes (ESIs), isto é, sem culpa alguma, como admitir-se que tais elementos, de tamanha simplicidade e desprovidos de qualquer forma de conhecimento, de consciência vigil e atuante, venham a ser martirizados pela dor, pelas adversidades sem conta, pelas tantas doenças e dificuldades que lhes são impostas durante o longo processo palingenésico, das múltiplas experienciações? 

Mas o fato é que, um tanto controverso, este mesmo Espiritismo de Kardec também continha, ou contêm, aqui e ali, como sabemos, alguma instrução que desautoriza tal condição, isto é: os Espíritos, ao invés de terem sido criados Simples e Ignorantes, eles seriam provenientes de uma gênese anterior a tal condição, o que significa dizer, que eles poderiam ter alguma culpa sim, o que, portanto, a Perfeita e Justa Lei reagira, os forçara a tal condição de simplicidade que, por sua vez, haverá de estar inserida num processo de reeducação espiritual, ou, de cura dos males precedentes na redenção pela dor em face de procedimentos culpáveis do transato espiritual. 

Uma de tais instruções, mui clara e precisa, como pude destacar noutros artigos, preconiza: 

“Voltai sempre os olhos para este pensamento filosófico, isto é, cheio de sabedoria: somos uma essência criada pura, mas decaída; pertencemos a uma pátria onde tudo é pureza; culpados, fomos exilados por algum tempo, mas só por algum tempo; empreguemos, pois, todas as forças, todas as nossas energias em diminuir o tempo do exílio; esforcemo-nos por todos os meios que o Senhor pôs à nossa disposição para reconquistar essa pátria perdida e abreviar o tempo de ausência”. (Vide: “Revista Espírita” – Allan Kardec – Junho de 1862). 

Portanto, os ESIs, nesta segunda visão espiritista, são detentores de culpa, de erros perpetrados em alguma outra e específica situação anterior, em algum outro tempo, noutro espaço, noutro lugar. 

Noutro tempo e noutro lugar, pois, de sua existencialidade anterior, e, portanto, em que tais eram detentores de consciência e de responsabilidades, havendo, por isso, de responder por suas ações, sejam elas quais forem. E, eis, então, que parte dos constituintes de tal comunidade, perdendo a sintonia com a Lei, se desregrara na desordem e na rebeldia; daí, pois, surge o universo físico e astronômico, surge não de uma singularidade de dimensão zero, mas sim, de um estado espiritual anterior: de consciência das coisas contidas num plano de transcendência, de ordem e de harmonia, mas também de insurreição dos insatisfeitos com a Lei, que é Deus. Do que se deduz, matematicamente, e completando aquela primeira equação evolutiva, que houvera o que se pode denominar por: 

ESTADO ESPIRITUAL TRANSATO: [(Rebeldia) = (Involução)] 

Cujo desmoronamento de altos planos, por involução, decorrera no: 

UNIVERSO FÍSICO E ASTRONÔMICO: [(Dor) = (Evolução)] 

Neste outro Modelo, portanto, Involutivo-Evolutivo, agiganta-se, pois, uma linha de raciocínio mais ampla e justa, larga e completa. A criação original não é a de ESIs como preconiza o Modelo Apenas Evolutivo, de menor alcance conceitual e injusto em suas proposições genéticas e evolucionais. A primeira criação, original, portanto, é uma criação que já ocorrera no infinito de Deus, num plano de consciência a que se pode denominar Sistema Consciencial Metafísico, e  que não se compunha de ESIs, mas indubitavelmente sim, de EPCs, isto é, de Espíritos dotados de compreensão e de notável inteligência para a execução das atividades que lhes competiam na ordem do Sistema. 

E, com a rebeldia de uma parte dos EPCs, veio a queda espiritual transformando-os em ESIs de uma sua outra fase: de matéria nos seus mais diversos aspectos físicos e biológicos do universo astronômico que há resultado do desmoronamento de altos planos conscienciais da criatura falida, que experienciara sua própria desconstrução psíquica (involução) para reconstruir-se na adversidade e na dor contida nos progressos (evolução) de sua própria redenção.

A rebeldia anterior, portanto, explica a dor de agora para a nossa alegria futura, que certamente consta de nossos destinos imortais. Então temos que a dor, em sendo um resultado, este, por sua vez, reclama, necessariamente, um fundamento justificável dado pela sentença matematicamente perfeita e correta: 

-Rebeldia: [(fundamento=causa)], e 

-Dor: [(resultado=efeito)]. 

E a evolução, ou subida redentora, decorre de um processo de involução, ou, mais facilmente compreensível como queda espiritual da criatura consciente que falhou, perdeu a sintonia com a Lei do Amoroso Criador. Sendo que, da mesma forma, a evolução, em sendo um resultado, esta vem reclamar sua causa primordial, inferindo que: 

-Involução [(fundamento=causa)], e 

-Evolução [(resultado=efeito)]. 

É o que justifica o que se pode denominar como: 

Espiritismo Integral (Modelo Involutivo-Evolutivo): 

-Gênese: Criação de infinitos Espíritos Puros e Conscientes (EPCs), sendo que uma parte do sistema criado, ao invés de um funcionamento orgânico com ele, se corrompera, constituindo um anti-sistema de Espíritos rebeldes para com a Lei, cuja correção dos mesmos se dará pela involução e respectiva evolução e cura pelas dores e adversidades encontradiças nos mundos constituintes do universo material; 

-Objeto de Estudo: Cíclico, assim discriminado: 

-Ciclo Primeiro: Análise da Involução dos EPCs rebeldes até às densas condensações cósmicas da Matéria como ESIs; 

-Ciclo Segundo: Análise dos ESIs promovendo a Evolução da Matéria e das mais diversas Espécies; além de análises e estudos dos Espíritos desenfaixados das vestes físicas; 

-Finalismo: Conversão dos ESIs em EPCs obedientes à Lei; 

-Resultado do Problema: Solução Completa e Justificável. 

Que implica na sentença ditada pela Lei de Causalidade Ampla confirmando o procedimento de que: 

“Não há efeito sem causa: a Involução, como Função Contrativa da Consciência se dera pela rebeldia da criatura; e a Evolução, como Função Distensiva da Consciência se dá por sua cura na adversidade”. 

Resultando, mais ainda, nos ditames de um novo e mais amplo princípio doutrinário extensível ao Espiritismo de Kardec; o de que: 

“Os Espíritos Simples e Ignorantes (ESIs) que iniciam sua potencialização intelecto-moral nas engrenagens da Evolução, decorrem de uma restrição psíquica anterior determinada pela Involução dos Espíritos Puros e Conscientes (EPCs) rebeldes à Lei”. 

É o que, de moldura matematicamente lógica e precisa, vem hoje justificar o Modelo Involutivo-Evolutivo, cujas linhas mestras, sábias e justas, foram implantadas, no decurso do século vinte, por um mestre da mais alta intuitividade, o sábio universal e missionário de Jesus: Pietro Ubaldi. 

Para mim, portanto, Pietro Ubaldi (1886-1972) veio cumprir as aspirações de Allan Kardec (1804-1869), que aguardava o que ele mesmo chamou de “Espiritismo Completo”, a que denomino “Espiritismo Integral”, e que está registrado, por exemplo, em “Obras Póstumas” – Constituição do Espiritismo – onde o codificador esclarece que: 

“... os resultados coletivos e gerais serão fruto do Espiritismo Completo, que sucessivamente se desenvolverá. Se bem não haja ele dito ainda sua última palavra sobre todos os pontos, aproxima-se do seu complemento e soou a hora de se lhe oferecer uma base forte e durável, suscetível, contudo, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportem... “. (Opus Cit.). 

Ninguém estará forçado a concordar com este discreto e moderado articulista, mas a minha intuição conduzira-me a pensar de tal forma, mais justa e mais completa, cujo pensamento conciliador diz que: 

“No plano filosófico, mais especificamente: teológico e ontológico, Pietro Ubaldi, sem nada decepcionar, muito pelo contrário, magnificamente desenvolve e completa a brilhante codificação de Allan Kardec”. 

Que, como o próprio Kardec tinha por perspectiva, e, creio eu, indubitavelmente, consolidou-se no Mundo o seu complemento, que, no tempo-evolução estará ainda: 

“... suscetível, contudo, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportem...”. (Opus Cit.). 

Mas, pergunta-se: Ubaldi era espírita? E, ser, ou, não ser espírita, realmente importa? Pietro Ubaldi, em muitas de suas inolvidáveis páginas dizia-se cristão. Implantou uma doutrina eminentemente espiritualista, de tendências e características outras voltadas para a imparcialidade e a universalidade. Eis, pois, um homem superior, autor de uma obra construída na rocha granítica da verdade, contra a qual vieram a se abater as mais terríveis ondas, que, inutilmente, se destinaram e se destinam ao olvido dos mais experientes que pressentem e sabem distinguir o autêntico do falso, o verídico do que é triste expediente de alguma mentalidade imatura e ignara.

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocinio

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