Palavras-chave: psicologia, homossexualismo, sexualidade, educação, exclusão social, valores.


Ontem estava caminhando em direção a minha residência quando ao passar em frente a um bar dei de encontro com uma bichinha, um veadinho, um boiola.

Seria cômico se não fosse inútil, esses foram os adjetivos que ouvi de um rapaz que estava ali, naquele bar, sentado tomando seu chopp, com amigos, direcionando essas expressões a um rapaz homossexual que estava passando, sem se quer olhar para o indivíduo que o admirava tanto, a ponto de fazer elogios que doem na audição de quem passa.

O rapaz não se contendo, repete as expressões por várias vezes e aumentando pernosticamente o seu acervo vacabulístico de adjetivos ao individuo, que com muita prudência ignorou a infelicidade das palavras ditas pelo o outro e seguiu seu caminho, sabe lá Deus em que estado estava seu coração.

Fiquei pensando, o que faria uma pessoa usar expressões de tão baixo calão para com o outro que não lhe fez nada? Será que eles se conhecem? É uma brincadeira? Afinal nos tempos atuais os jovens têm estranhas maneiras de brincar e cumprimentar-se. De qualquer forma, por mais amigo que sejam, por mais afinidade que tenham, é uma situação constrangedora para ambos.

É interessante analisarmos, quanto mais a sociedade se atualiza, quanto mais globalizada e evoluidamente tecnológica, menos consideração se tem com o ser humano. São essas ações nos levam a crer que o cidadão é condicionado a ser um robozinho que aceita calado todo tipo de preconceito e discriminação que lhe é imposto.

Seres humanos, onde estarão?

Sabe-se que todos nós somos frutos de uma cultura, de uma ideologia social que julga as pessoas não pelo que elas são, mas, como são e quanto tem. As chamadas minorias sociais são consideradas marginais, como se nunca tivessem contribuído para reconstrução da história cultural, social e política do nosso país. Milhares de profissionais são dispensados por aparência, sem sequer terem o direito de demonstrar sua competência, suas habilidades. Esses atos de discriminação e preconceito rodeiam nossa sociedade, o tempo todo.

(...) a discriminação parece se consolidar como alguma coisa que se repete, que se reproduz. Não se pode esmorecer na hipocrisia e dizer que o nosso jeito não é esse. Não, o nosso jeito está errado mesmo, há uma repetição de discriminações e há a inaceitabilidade do preconceito. Isso tem de ser desmascarado, tem de ser, realmente, contra-atacado, não só verbalmente, como também em termos de mecanismos e processos que possam levar a uma transformação, no sentido de uma relação mais democrática, entre as raças, entre os grupos sociais e entre classes. (CARDOSO, 1997, p.14-16).

E tudo isso para quê? As pessoas fecham os olhos para a verdade que está estampada na face de todos, quando se dizem os donos dela, como o rapaz que achincalhou o outro com adjetivos que ele mesmo não gostaria de ouvir.

Que espécie de prazer tem um ser humano de humilhar o outro publicamente sem conhecê-lo e sem sequer ter o direito de fazê-lo. Por quê? Pecado? Diriam alguns. Então não é pecado também o disparate de palavras que são lançadas diariamente contra jovens que são seres tão especiais, seres tão sociais e tão humanos quanto quaisquer outros. Que não querem que as outras pessoas os aceitem, contudo, exigem dos mesmos o menor respeito possível pelos indivíduos que são.

Como diz João Silvério Trevisan: aceitar-se é a maior forma de amor próprio, sem o qual ninguém sobrevive. Amar-se: não nos envergonharmos daquilo que somos ainda que não nos agrade. Quando diz aceitar-se, implica respectivamente em aceitar e respeitar o outro. Cadê os valores, os princípios éticos e morais que foram proclamados na Constituição, e visam o respeito ao ser humano independente de sexo, raça ou religião?

Meus caros, quem nunca pecou que atire a primeira pedra. O que não se entende é o porquê do desrespeito à individualidade do outro, o porquê de criticá-lo sem conhecê-lo. E para quê, se sabemos que um belo dia se morre?

Pode parecer ultrapassado, mas acredito que antigamente as pessoas respeitavam mais umas as outras. Apesar de todo regime autoritário, os cidadãos eram, de certa forma, livres para viver.

É interessante também observamos a relação educacional do tema. Educadores preparam indivíduos para a vida, mas infelizmente na maioria das vezes essa preparação é comprometida com a preocupação, ou poderíamos dizer, a acomodação de cumprir-se apenas com a aplicação de conteúdos, que muitas das vezes não servirão de nada para seu aluno.

Paulo Freire diz: Lidamos com gente, com crianças, adolescentes ou adultos. Participamos de sua formação. Ajudamo-los ou os prejudicamos nesta busca. (...) Podemos concorrer com nossa incompetência, má preparação, irresponsabilidade, para o seu fracasso. Mas podemos, também, com nossa responsabilidade (...), contribuir para que os educandos vão se tornando presenças marcantes no mundo.

Somos responsáveis pelo que nossos alunos são no presente e serão no futuro, e somos ainda responsáveis por aqueles que não puderam ser nossos alunos, que não tiveram a oportunidade de compartilhar conosco momentos de vida. Somos também responsáveis pelo preconceito e pela discriminação do mundo, pois nos falta um sentimento primordial para que possamos proporcionar o outro, experiências de vida que realmente serão de grande valia para o mesmo num futuro, que é a humildade. Humildade de aceitarmos os erros de nossos alunos sem rotulá-los de incompetentes ou burros, de trabalharmos com o sentimento e não com o tradicionalismo desvairado de implantação de conteúdos. Humildade em aceitar a opinião de um aluno e assumir que você também é um aprendiz. Humildade essa, que para obtermos é preciso de coragem, confiança em nós mesmos, respeito a nós mesmos e aos outros como diz Paulo Freire nos seu livro Professora sim, tia não: carta a quem ousa ensinar.

Precisamos despertar em nossos alunos, virtudes que os ensinarão a respeitar o outro como ele é, respeitar o diferente, e aprender com ele.

É preciso trabalhar com as emoções, para que tenhamos seres mais conscientes do seu espaço, da sua trajetória de vida e do respeito ao espaço e trajetória do outro. Precisamos fazer valer a pequena utopia de Darcy Ribeiro em ter um desenvolvimento justo para todos os cidadãos, tendo em vista que a educação é um dos alicerces indispensáveis para uma transformação social.

Criar vínculos de respeito à diversidade são imprescindíveis quando se educa a criança para a vida. Forma-se através de hábitos considerados como tradicionais, uma criança de respeito, com uma integridade humanística e sensível, que além de conhecer e respeitar as suas diversidades próprias enquanto ser humano participante de uma sociedade reconhece e respeita as diferenças do outro.

Enfim é inevitável que se tome posição perante o mundo e perante aos nossos alunos para que num futuro não muito distante não tenhamos mais pessoas como aquele jovem que tirou de um achincalhamento, de uma difamação e de uma calúnia, prazer para viver bem consigo mesmo.