Ainda sou capaz de descrever cada bola, cada enfeite, cada detalhe da árvore de Natal da minha infância. Bolas coloridas, diversos tamanhos, todas absolutamente quebráveis, cada ano iam-se ao menos umas três no ato de montar e desmontar.
Depois de armada, colocava-se um pião sobre seu topo, também do mesmo material e dava-se o acabamento final com o pisca-pisca. Lâmpadas de verdade em tamanho pequeno e formato alongado, vermelhas, verdes e azuis. Dia desses o achei embrulhado em jornais numa caixa velha quando em uma faxina no armário de minha mãe. Foi um vale viagem no tempo, juro.
Bem, quando aceso fazia a alegria da família e especificamente a minha. Ficava horas naquela área toda envidraçada, fachada principal da casa, sentadinho em um balanço que lá havia, absolutamente hipnotizado pelo piscar de suas lâmpadas e pelo alternar de suas cores.
Lembro-me ainda que grande parte da cidade, muito pobre na época, gostava de passar pela frente de casa para admirá-la. Talvez fosse ela o Natal para muita gente.
Minha segunda árvore veio com meu casamento, linda, grande, a cada ano acrescentávamos mais e mais enfeites e passamos o gosto para as filhas que deram bem conta do recado neste último Natal, a casula, especificamente.
O pisca-pisca dessa, saiu da árvore já há bastante tempo e mudou-se para a janela da frente, trabalho meu e da pequena que todo ano me espera para essa operação.
As cores são mais vivas hoje, mais variadas, as lâmpadas de LED aceitam várias programações de piscar e os formatos de nossa arquitetura também variam com os anos. Neste foi, árvore de Natal; de novo, mas, com algumas variações ao centro.
Não moro mais nesta casa e nem mais com minhas filhas, mas, as visito com frequência e este ano passei um bom tempo de frente para a árvore, analisando sua história. Sim, pois, cada enfeite tem uma história, cada história seus personagens e por aí foi meu coração.
Para alguns eu sorri, para outros suspirei e para outros. . . Chorei. Há muita vida no que ficou para trás e isso a gente não esquece jamais.
Pois bem, já estou em minha terceira árvore, montada pelo segundo ou terceiro ano seguido, em outra casa, com a segunda mulher. 
Linda árvore também, enfeitinhos diversos, bolinhas que já não quebram mais, até mini latinhas de bebidas faziam sua decoração. Adoramos montá-la, vê-la ganhar vida, cores, formas e história.
O pisca, bem, este também foi para a janela em seu primeiro ano fora de casa. Fez um sucesso danado, ao menos para mim. Fiz uma programação discreta em seu piscar, contudo em um determinado estágio, quando ele piscava bem colorido, meu coração abria um arquivo do passado e trazia para fora toda a alegria do menino, que insiste em me habitar.
Adoro luzes, cores, perdia bem uns cinco minutos no portão, antes de entrar, admirando sua beleza, me fazia muito bem.
Enfim o Natal passou e levou com ele suas belezas.
O majestoso Papai Noel do sofá, o varal do Papai Noel na parede, a guirlanda da porta, os enfeitinhos dos armários e a arvore de Natal...
Que triste vê-la perder suas peças, suas cores e sua vida, e embora nova seja essa história, também vem crescendo com os anos.
Me chateio muito em ter que encaixotá-la, saber que ficará lá por longos trezentos e tantos dias a esperar sabe-se lá o que.
O pisca-pisca, bem, esse ainda não tiramos. Talvez eu ainda o ligue mais umas vezes, não para lembrar meus Natais, mas, para manter vivo o meu menino.

João Carlos Pestana Ramos