Minha casa, minha vida...

 

Hoje um amigo me convidou para visitarmos um conjunto de casas populares, em fase de conclusão, que fica a pouco mais de quinhentos metros da minha casa, no Conjunto Tucumã II. Fui. Vi casas muito pequenas, siamesas, sem quintal. Vi ruas largas, contrastando com o tamanho das casas. Casa não se resume a paredes e cobertura... Mas aquelas eram assim. Sem nenhum respeito ou preocupação com a privacidade dos futuros moradores.

Sei que milhares de acreanos, sem outra opção pra abrigarem suas famílias, sonham em ouvir seus nomes serem chamados no sorteio daquelas casas. Mas, confesso, ao visitá-las fui tomado por profundo desencanto...

Nos meus ouvidos ainda ecoam os gritos de guerra dos arautos da florestania, exímios construtores de avenidas arborizadas, floridas, cracaços na construção de Parques Urbanos amplos, bem arborizados... Onde costumo caminhar, em meio a um número cada vez maior de pessoas.

Contudo, justo na hora em que deveriam se esmerar na humanização definitiva da relação homem-natureza constroem unidades habitacionais iguais aquelas, tirando dos acreanos o direito de morar em uma casa com quintal, por menor que fosse, mas que nele pudesse pelo menos plantar um pé de cajueiro, um pé de goiabeira, cultivar um pequeno canteiro de plantas medicinais.

O acreano, do pé rachado, tem cheiro de floresta, jeito de rio, sossego de lago.

Nasceu em casa grande, de terreiro bem varrido, bem arborizado.

O acreano tem anseio de liberdade, é apreciador de aves, de frutas, de canto de passarinho.

Gosta de olhar da janela, acenar pra quem passa na rua,

Perder de vista a vastidão do mundo.

Silencia horas a fio revirando a terra com as mãos, preparando canteiros, espalhando sementes, de flores, de frutas, de verduras,

De sonhos...