Carpeaux faz uma abordagem da Modernidade em Minas e suas obras de arte, referindo a Ouro Preto, de cuja paisagem cultural seja a única na América latina. O texto de Carpeaux é um desafio, ele tenta entender nestes sertões, principalmente no século XVIII e modéstia e os limites de suas formas mais comoventes. Como explicar o florescimento cultural considerando as imposições do Pacto Colonial e a dominância do trabalho escravo, a altitude artística de Antonio Francisco Lisboa, de Athaíde, Cláudio Manoel da Costa e de Tomás Lobo de Mesquita. Carpeaux também tenta entende o efetivo ethos urbano, ou seja, a ética aplicada na modernidade de Minas.

Roberto Schwarz constata as “importações” modernas como o liberalismo, a idéia de autonomia da esfera privada, que coexistem nos quadros de uma sociedade escravista, ele tenta entender as implicações da “recepção” na Colônia Império e os influxos da modernidade.

Em Minas se desenvolve vários sistemas – urbano, estatal, cultural, religioso e o sistema monetário-mercantil, que possui especificidades no quadro brasileiro. Mas a implantação dos quadros da modernidade em Minas Gerais parte do ponto de vista sócio-político-cultural e dos constrangimentos da presença do antigo sistema colonial e seus desdobramentos históricos.

O ressurgimento das cidades são traços decisivos da modernidade, não se esquecendo de Marx que aponta a centralidade do fenômeno urbano como sintoma das grandes transformações sociais, políticas, econômicas, culturais e psicológicas, que marcam o Ocidente moderno.

No norte da Itália, haverá a libertação dos espaços urbanos do poder feudal, tornando-se autônoma e dinâmicas, graças a César Bórgia que possibilitou esse mérito exclusivo para o norte italiano com as conseqüências de uma cultura moderna para estas cidades com o humanismo e a renascença artística.

Braudel define a cidade como espaço de exercício do poder e a define como memória coletiva e índice do desenvolvimento histórico global. Assim como houve a cidade antiga também houve a cidade industrial do século XIX com as novas técnicas construtivas e da reorganização dos espaços, com a discriminação e a exclusão como resultado.

A cidade no conceito de Weber implica a centralidade do fenômeno do mercado que ocasiona a produção, o trabalho e o dinheiro, mas há uma dimensão decisiva que é a diversidade. A diversidade vai assim constituir as cidades mineiras estruturados num complexo quadro que define a estrutura urbana desde o século XVIII.

Minas como território de novas atividades e do desenvolvimento de mercados se estabelece a presença de uma complexa burocracia judiciária, tributária e administrativa e é significativo o principal produto de Minas, o ouro, que circula amplamente na capitania incrementando as trocas, estimulando mercados, permitindo um grau de mercantilização sem paralelos.

Em Minas pode se reconhecer que havia uma forte estrutura burocrática desde o século XVIII, considerando assim que a ocupação do território se dá no século XVII, e em 1711 são erigidas as primeiras vilas, (Vila Rica), na região mineradora central e a partir daí espalhando e semeando as cidades.

É no século XVII que Minas vai constituir os limites da dominação colonial sob os constrangimentos de todas as precariedades decorrentes do isolamento que se firma uma base material e tecnológica disponível, o que não significa negar a presença ampla e marcante da dimensão rural na constituição de Minas Gerais.

A tessitura da modernidade entra no processo histórico como uma etapa específica, abrindo-se em diversas dimensões, constituindo um processo aberto, ou seja, pluridimensional. Este processo vai ter diversas interpretações fazendo com que a modernidade tem sido a referencia essencial de diversas disciplinas e nos campos teóricos. Esta modernidade implica na constituição de valores e concepções subjetivas que redefiniram o projeto da civilização ocidental.

Koyré define a modernidade com a dissolução do conceito filosófico dos “cosmos” que era entendido como uma hierarquia fechada e heterogênea e as novas contribuições de mundo, definido por vários pensadores, entre os que se destacam é Nicolau de Cusa e Giordano Bruno que passam a interferir no mundo a partir daí considerando uma entidade homogenia, infinita e aberta.

Mas também a modernidade implica na revolução no conceito de cosmos e também significou outras revoluções como a revolução da mentalidade e na evolução dos conceitos e usos do espaço, do tempo, dos corpos e do trabalho. Uma nova interpretação de conceber o Estado e a religião, mas com a invenção de novos modos  de produção a reprodução material.

São amplas as implicações da modernidade que resulta em eixos estruturantes de significados e conseqüências no que se refere ao primeiro eixo que pode ser representado pela imposição de uma forma específica de organização do poder, o “Estado Moderno” cujas características são estabelecidas por Maquiavel em sua obra O Príncipe. Outro eixo é o relativo ao “mercado”. Trata-se de estabelecer a inexistência do mercado e constatar sua generalização e sua virtual hegemonia sobre todas as relações econômicas.

O terceiro eixo a ser considerado baseia-se na centralidade da “razão instrumental”, segundo Marx Weber é o que define um encadeamento de circunstâncias não determinístico e a revolução cultural nos séculos XIV, XV e XVI.

O quarto eixo da modernidade tange às mentalidades, aos costumes e pode ser sintetizado na idéia da constituição da individualidade, afirmando a separação entre a esfera pública e privada, na consolidação da subjetividade como critério de ação e aferição ética. É assim a instituição de um critério geral de sociabilidade que visa resultar na liberdade individual.

Burckhardt tenta articular outras maneiras de agrupar o essencial da modernidade, destacando três grandes fatores da civilização que são: o Estado. A religião e a cultura, considerando esta última como o elemento mais instável. A modernidade como resultada da ação da cultura sobre o estado e a religião e suas maneiras como afetam os indivíduos e as coletividades.

Lalande define o “sistema” como sendo o “conjunto de elemento que dependem uns dos outros de modo a formar um todo organizado”. Reconhecendo o “sistema” como um composto de elementos materiais e não materiais, constituindo assim uma esfera de ideais puramente mentais.

Acostumados a ver a Península Ibérica, com certo atraso neste século não imagina que Portugal, no século XIV fez eclodir a primeira revolução burguesa do Ocidente; que as grandes navegações pudessem conquistar a África, Ásia e também inventar o Novo Mundo, que são as Américas atualmente. Por esta razão os séculos XV e XVI são considerados séculos ibéricos. É em Portugal também que nasce o romance de cavalaria, os instrumentos de crédito e seguros marítimos. Mas no século XVI resulta na decadência que surpreende a península, que se ressalta o assombro e perplexidade que não mais abandonarão o horizonte das cogitações ibéricas.

O fidalgo da Mancha tem a tentativa patética e sublime de viver os valores da cavalaria, o código cultural medieval está no romance como a representação, no plano artístico, do essencial da explicação da decadência ibérica.

Como entender a modernidade em Minas Gerais? Na verdade, a modernidade em Minas Gerais que produziu efetivos sistemas modernos nos campos econômicos, urbano, político, social e cultural serviu antes à reprodução, à exclusão e à marginalização social e econômica, e a interdição de direitos políticos e as ditaduras.

O termo moderno segundo o Dicionário da língua portuguesa define-o como sendo algo novo, recente. Moderno é uma palavra latina – hodiernus – o que é de hoje, dos nossos dias.

O que vale lembrar é questão anacrônica de moderno, referente no exercício de historiografia de Lucien Febvre.

Colocar a questão da modernidade em Minas Gerais implica na necessidade de atestar-se a legitimidade, a modernidade naquele momento ou apelar para a esfera anacrônica?

O anacrônico aqui se refere aos fatos mais recentemente descobertos ou as ideias mais recentemente formuladas. Mas o que é moderno é uma indagação religiosa quanto filosófica. Mais ainda: há quem identifique a palavra no século V, com Santo Agostinho – modernus – que consistia basicamente em rejeição ao paganismo para dar lugar a nova era cristã.

No que se refere ao anacronismo, há outra, que é a multiplicidade de sentidos que a palavra e suas derivações foram ganhando ao longo do tempo a palavra moderna e suas derivações foram apropriadas por diversos campos do conhecimento e motivações; pois ainda podendo considerar que Ferrater Mora dá a palavra modernidade um sentido sócio político cultural.

Hoje a palavra modernidade possui amplo curso, na medida em que se discute a crise da modernidade, seu esgotamento, suas promessas irrealizadas e a emergência de uma pós-modernidade. Lyotard, Baudrillard, Virillio, Vattimo ao lado dos que dos que vêem virtudes absolutas nesta suposta “pós-modernidade” emergente, enquanto outros como Habernas apontam essas tendências como manifestações de um neoconservadorismo que seria o sinal destes tempos de globalização capitalista e conformismo.

A modernidade entra numa questão decisiva quanto a sua extensão à periferia. A modernidade pode assim ser concebida como algo não linear nem homogêneo, sendo, portanto uma invenção ibérica e esta se encontram aprisionada pelos compromissos feudalizantes.

Contudo, as vicissitudes da modernidade não devem ser consideradas como significando derrota absoluta, pelo fato que Portugal e Espanha se utilizaram de “produtos” e “instrumentos” da modernidade ibérica numa nova concepção de mundo, são resultados de um notável desenvolvimento da tecnologia náutica. Mas a expansão marítima com traços de modernidade alavanca a península precocemente.

Enxergar a modernidade na história de Minas Gerais é imperar antes que anacronismo. Foi a execução por músicos da terra, de peças de Haydn, Mozart, esta sintonia cultural, em vário de seus elementos, remete ao inequívoco “pertencimento” da capitania a aspectos centrais da modernidade européia.

Entender a trajetória da modernidade em Minas Gerais, do processo suis generis de apropriação da modernidade, em que os aspectos da instauração do novo estão prisioneiros de uma ordem arcaica, sancionadora de privilégios aristocráticos.

Enfim, a modernidade em Minas foi um fato, consideravelmente eficaz no processo da colonização, o tempo moderno, que marcou um rumo certo nas ciências e na filosofia, começou precisamente no século XVI e se estendeu até o início do século XX. A era moderna é algo do passado, o que muitas pessoas entendem de uma forma pejorativa este estado de tempo que divide a história, hoje, pode se conceber que estamos na era Contemporânea, e já se pensa numa era pós-contemporânea. A modernidade foi na verdade uma passagem de triunfo na história, tanto do mundo quanto de Minas, mas vale lembrar que a era moderna agora simplesmente faz parte do passado.